VINTE NOVE

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C.A.P.I.T.U.L.O 30
Sem Direito a Escolhas


O dia do meu castigo tinha chegado e Cam foi levado para um ritual de purificação ele seria purificado para me purificar durante o castigo, vestida com uma túnica que não passava de algodão branco aberto na frente e que as duas partes se transpassavam e era amarrado atrás, o tecido cobria até meus joelhos.

Fui levada descalço até a borda da floresta vendada, uma multidão de nossa alcateia seguiu em silencio, uma canção entoada por uma voz solo de uma fêmea fez meu coração acelerar... Era uma história de escolhas e sonhos, era sobre amor e dor. Caleb e Noah me guiavam um de cada lado segurando meus antebraços, a venda não me permitia ver nada.

— Por seu crime hoje é lhe dada a punição. — Noah falava solenemente, em tom alto, tirando a venda. — Pandora... Irmã. — Sorrindo quando concluiu me chamando irmã, vejo apenas com uma calça do mesmo tecido, todos estavam vestidos daquela forma, fêmeas em vestidos iguais ao meu e machos com as calças. — Isso é entre você e Cammael, assim como foi a sete meses atrás... Uma escolha sua que tirou a escolha dele... Dessa vez é uma escolha dele tirar uma escolha sua.

— Conforme as velhas leis, em respeito ao passado, presente e pelo futuro, as leis se aplicam até mesmo a mais elevada da nossa classe, do Alfa ao ômega. — Caleb tinha autoridade em sua voz algo beirando o poder de um alfa, o beta, o segundo em comando depois da tríade, minha pele inteira arrepiou.

— DO ALFA AO OMEGA! — Rugiu a multidão, outra onda de arrepios, a lua não era vermelha mas tinha uma cor rosada de certa forma.

— Que a Deusa proteja nossa Luna! — Joane gritou rindo.

— Cammael vai ser solto em uma hora, esse é seu tempo para fugir, se esconder, lutar, usar armadilhas, o que escolher para o manter longe, ou sofrer as consequências.

— Era pra estar com medo?

— Você colhe o que planta Panzinha!
— Eu amo ele, e foda-se... Quer saber, não vou facilitar assim como Cam não facilitou.

— E isso te impediu.

— Adivinha só. — E foi como corri para dentro da floresta, o uivar a cada dez minutos era meu cronometro, e o uivo era do meu companheiro, longe e ao mesmo tempo era como um toque, uma promessa. Vou te pegar.

Corri por muito tempo até que não ouve mais uivos, apenas sons de floresta e seus moradores, corri e tentei não deixar marcas, estava longe de tudo, subido e descido uma montanha, corrido para longe, algum cheiro familiar me levava pra outra direção, me assustando com sons que temia ser ele. No cume de uma das montanhas visualizei onde eles tinham me levado, e eu nunca andei por este lado da alcateia, esse era o ponto o território dos Mortagh, algo entre a cachoeira e a cidade, a parte onde Tobias tinha uma Cabana, onde os irmãos tinham uma toca.

Eu era a caça, se eu escapasse a noite toda e ele não me pegasse eu seria perdoada sem castigo, o problema era que Cam almeja me punir, era seu combustível, seu desejo de reparação. Eu lhe entendia por que eu também, em meu fundo ainda tinha vontade de curvar meus familiares de punir cada um deles por tudo que me fizeram.

Devia ser quase uma da manhã escuto o primeiro uivo que não era de Cam, e não era de lobos, o uivo veio do norte de onde eu estava, eu parei, e uma onda de medo me fez travar e escutar, me escondi entre duas pedras e puxei outra pedra a minha frente, eu já tinha me sujado de lama e musgo, mas ao atravessar o rio metade da sujeira tinha ido embora, fiquei quieta.

— Tem certeza que a viu?

— Vi... Estava perto das cavernas, eu fui te chamar e não te encontrava então fui obrigado a uivar.

— Idiota, ela pode ter escutado... Isso dificulta nossa caça, ela espera o Cammael não outros lobos. — Era difícil até respirar eles estavam me caçando. — Pode ser pior ele ter ouvido.

— Então fala baixo. — Tapo minha boca estão perto o suficiente para me ouvirem.

— Ele está demorando, acha que está dando um tempo maior para a companheira, ou está perto? — Cam, estão falando de Cam.

— Se estiver estamos ferrados. — O meu corpo treme, eles estão aqui por minha causa, e como souberam de mim, como souberam dessa noite.

— Zander seguindo pelo sul, ele devia estar aqui, afinal é ele quem a quer. — Quem é esse Zander? Meu coração dispara e tento me controlar, por sorte as vozes estão ficando mais baixa.

— Não fale merdas, nosso alfa escolheu a lunar, só temos essa lunar que sabemos que existe, veja como os outros aceitaram Cam como alfa supremo por ter a fêmea, Zander decidiu lutar por seu direito isso inclui ela... Vamos apoiá-lo... Afinal ele é mais velho que Cammael. — Aperto minha mão sobre a boca, quero chorar, mas não posso, eles armaram essa emboscada pra me pegar, e se Zander encontrar Cam? Meu companheiro pode ser morto.

Saio de meu esconderijo e corro evitando meu caminho que usei para chegar isso me leva mais para o sul, e era uma péssima ideia, mas se esse Zander me achar era provável que não desafiaria Cam por a posição, se me levar Cam vivera e pode montar uma estratégia e me resgatar, se eles não se encontraram... Essa demora, onde você esta Cam?

Maldita fosse minha mente, tudo que conseguia imaginar era Cam sozinho no meio do nada em uma batalha de vida ou morte com um alfa de mais de 300 anos isso era duzentos a mais que meu Cam. Desespero, corri evitando os dois lobos que foram para o leste, e eu consigo chegar à metade do caminho de volta, atravesso o rio e cada braçada minha equivale a uma cena de Cam sangrando com a garganta rasgada e outro vencendo meu companheiro. Tenha mais fé no seu macho, mas o medo me deixava paranoica.

Me elevo na pedra e sinto meu pulso ser pego, a mão grande conectada ao meu pulso, me faz lutar contra, mas os olhos prateados que encontro me fazem gritar, Zander, ele era lunar.

— Ruiva. — Ele era loiro de olhos prateados. — Por que está tão assustada? Está sendo caçada! — Sua voz era rouca e cheia de ironia, o sorriso largo a me olhar, me comer com os olhos me senti nua.

— O que faz aqui? — Com a água em minha cintura ele parou estendendo a mão, esperando que aceitasse sua ajuda, eu nunca faria isso.

— Ouvi dizer que uma lunar estava sendo caçada... Uma heresia.

— Não preciso da sua ajuda. — E deixo que o rio me leve, é claro que ele saltou na água, tento me manter longe dele, esse lycan tem a graça fluida e força indômita de um alfa... Um alfa supremo, um alfa supremo lunar, em poucas braçadas me alcança, me debato, arranho empurro, luto contra tento nadar pra longe.

— Pare! — Rosna me segurando com um braço me mantendo rente seu corpo. — Não quero te machucar, ao contrário dele. — Meu corpo congela quando se refere ao meu companheiro, com seu braço livre nada para a outra margem, luto contra seu corpo perto do meu, como me olha. Quero gritar e grito esmurrando seu peito, o aperto em minha cintura quase me faz desmaiar, era como ser pega por uma cobra constritora.

— Cam nunca me machucaria. — Arranho seu rosto e pescoço ele rosna. — NUNCA... CAM... SOCORRO.

— Então por que está te caçando? Como se você não valesse nada.

— Não é da sua conta, tire suas mãos de mim... ME SOLTA...CAM...SOCORRO.
— Calma ou vou te foder e marcar aqui mesmo. — O som sibilante me fez temer, realmente temer.

— Seu nojento eu sou acasalada, me solta. — Bato em seus ombros e peito, onde posso acertar.

— Não te contaram que a vantagem de ser um lunar é que você pode rechaçar e ter quantos companheiro quiser? — Lutei com cada grama de força que tinha, até me soltar dele, ou ele me deixou ir pra me chocar contra uma pedra, isso não me pararia. — Gosto disso, você é difícil. — Para diante de mim, eu tento me levantar ele é alto, iguala-se a Cam, a estrutura é mais forte, Cam é forte com muitos músculos, Zander é um maldito fisiculturista que usa muitos esteroides, sua figura me dá repulsa.

— Fique longe de mim. — Tento me afastar, Zander não me escuta e me puxa pelos pulsos, seu pau esta duro, e seus olhos estão em meu corpo.

— É bom ficar longe dela. — A voz poderosa de Cam me faz olhar pra cima seu cabelo pingando Cam também tinha nadado.

— Porra de onde você surgiu? — Rosnou o outro. — Minha... Agora ela é minha.

— Minha! Tire suas mãos da minha companheira. — Zander me solta e me empurra.

— Eu volto em um instante Luna! — Se afasta e os dois se encaram.

— Pandora! Va embora... Agora. — O som cheio de comando de Cam me faz estremecer, a risada de Zander me faz arrepiar.

— Pandora não vai a lugar algum, só comigo. — A luta começou, Cam socou e arremessou Zander para dentro do rio e mergulhou em seguida perseguindo o outro macho, socos são trocados, tem sangue na água, me recuso a ir, me recuso a deixar, meu companheiro, à medida que desciam pela água eu corria pela margem, Zander mergulha sumindo Cam vasculha por ele, e nossos olhos se encontram.

— Tem que ir Pandora Agora.

— Não, Cam. — Cam sumiu puxado pra baixo, então a mais movimento na água e Zander escapa de Cam, indo pra margem onde estou mais abaixo, virando lobo assim que sai da água, branco como a neve, e Cam negro como a noite, os olhos vermelhos em seus lobos me faz estremecer. Três lobos surgem acima deles, todos de olhos em Cam, meu corpo estremece quando ambos os lobos vão um para a garganta do outro o som de rosnados é ensurdecedor, dois lobos entram na luta rasgando Cam, eu grito, agoniada, e Luna sobe tomando conta, eu lutaria com ele morreria por ele.

Lutar com garras e presas, força e violência, rasgo a garganta de um deles em menos tempo do que a do alce, e disparo para ajudar Cam contra a dupla que o ataca, este por sua vez em uma mordida quebra o pescoço de um deles que cai mole voltando a sua forma humana. Zander morde Cam o fazendo sangrar em uma poça de sangue, ataco Zander cega pela raiva borbulhante por aquele ferimento, e Zander me sacode como se eu fosse um boneco, Cam o ataca, há tanto sangue quando abro meus olhos, não sou mais loba, tonta, tem algo em meu peito doendo, e garganta, queimando a verdade é essa. Prata uma coleira e correntes de prata em minha garganta, eles ainda estão lutando, e um dos machos um que vi os que me alertaram que algo estava errado se aproxima de mim, os grandes lobos estão se mantando.

— Bom, o meu trabalho é te levar pra casa... Quer dizer sua nova casa. — E me joga sobre o ombro como um saco de batatas, tento me mover sair do agarre do lobo, o som seco de tiro, me assusta, Cam rosna chamando minha atenção, então ele não é mais lobo, Cam cambaleia e eu grito me debatendo até ser solta, tem um buraco em seu peito e o cheiro de pólvora no ar. — Bala de prata... Esse filho da puta agora cai.

— Não! — sinto tremores tão grandes, cinco outros homens aparecem um deles com um rifle na mão, Zander volta a ser homem, e ataca Cam ele me olha, era o fim, eu vi em seu olhar, me afasto tentando ir pra ele. Zander tenta atacar, Cam está pronto e soca a cara de Zander.

“Não amor! Eu exijo que fuja, essa é minha escolha escolho que se salve”
Eu não podia entender como ele estava dentro da minha mente, mas ele estava, em seu corpo humano falando em minha mente, como quando estamos em nossas formas lupinas.

“Não Cam, não vou te deixar”
“Eu exijo que corra... Corra Agora... Corra... Pandora... Vai... CORRA” — A dor de não ter vontade, a dor de ter que correr, deixando pra trás a pessoa que eu amo, a dor de não ter o direito de escolher, aquela dor, meu alfa, meu companheiro tirou a minha escolha de ficar e morrer com ele. — “Eu te amo” — Diz cansado. — “Eu te amo”
“Por favor, Cam” — Suplico desesperada, sentindo seu desespero, salto na água agora era sem volta, o rio me levaria para longe, para longo do amor da minha vida. “Não ouse se despedir de mim”

Ao longe com dois deles atrás de mim, vejo Cam lutar, ferido a bala, um dos machos com um rifle com mais balas de prata, quero me encolher e gritar, meu corpo lutando contra a coleira, a dor da picada da prata queimando, as barras fixadas em meu peito, correndo para encontrar ajuda para Cam, correndo para tentar salvar meu companheiro. Eu te amo... Eu também te amo Cam.

— Por favor mãe salve meu amor, por favor salve Cam.

Consigo chegar a cidade e avisto um dos guardas ele me vê, e correm a meu encontro vendo a coleira de prata, o rádio, ele usa o rádio falando com alguém.

— Estamos sobre ataque. Cam precisam ajudar... Cam, ele foi ferido.

— Calma Luna, é uma porra de coleira de prata alguém traga um maldito cortador agora. — Rosna no radio, cinco lobos saltam pra dentro da floresta, mais deles entram, a uma debandada indo por onde vim, os rosnados me dizem que encontraram meus perseguidores.

— Calma Luna equipes estão indo agora mesmo pelo seu rastro.

— O outro alfa, é a porra de um lunar, a porra de um lunar, e eles atiraram nele com prata.

— Atenção o alfa foi alvejado com prata. — Não demora Tobias surgi.

— Pan? Quem fez isso com você! — Verdadeiro terro em seus olhos e ira em sua voz, suas mãos em meus antebraços, olha algo em meu rosto.
— Toby tem que ir atrás de Cam, Zander vai matar ele, por favor salva meu companheiro. Por favor Toby! — Tobias dispara para a floresta uiva de forma a me arrepiar e mais lobos entram na floresta, fosse como fosse, Cam poderia estar morto agora.

— Vamos a levar pra casa...

— Alguém a cubra... Vai ficar tudo bem. — Dor em meu peito é insuportável e me faz cair de joelhos, quando sou levantada dele por braços familiares que sei de quem são, eu desabo chorando.

— Noah vão matar ele, Noah eu sinto, meu peito está doendo... Ai... Ai... Me sinto como se estivessem me rasgando, isso dói tanto. Cam... CAMMMMM.

— Xi...Xi...Xi! Tirem isso dela, agora. Pan! — Coloca meu rosto entre suas mãos ajoelhado a minha frente. — Pan?

— Era o alfa supremo, ele é a porra de um lunar Noah.

— Merda! Como ele estava a última vez que o viu?

— Muito ferido, atiraram nele. — Volto a chorar, sentindo a dor me rasgando de novo. — Pelas costas Noah, atiraram nele pelas costas. — Noah é quem corta o metal e arranca de mim, Be passa seus braços a minha volta, me veste com uma camisa de Cam e Be começa a fechar os botões.

— Eles vieram atrás de você! Filhos da puta...

— Eles sabiam. — Alguém diz. — Eles sabiam e aproveitaram a oportunidade. — O macho é um dos soldados que sempre viaja com Cam. — Vou mandar aumentar a segurança se esse outro alfa vencer Cam ele vai vir atrás dela.

— Ele não vai entrar aqui. — Noah troveja e eu quero me encolher, imagens de Cam lutando, meu companheiro. Corra, Agora. Tento me acalmar... Eu te amo. Cam me ama, e vai me deixar.

— Eu me mato, mas não vou com aquele monstro.

— Ninguém vai te tirar daqui Pan, só por cima do meu cadáver. — Não demora muito, mas mesmo assim parece uma eternidade, Tobias e Caleb um de cada lado de Cam desacordado, sangue eu nunca vi tanto sangue, e mordidas, rasgos e mais rasgos, em sua pele. Corro para eles.

— A médica vem vindo, ele queria vir pra cá por mais que eu tivesse o acalmado.

— Cam? Amor? — Seu lábio no canto eleva-se em um sorriso torto, de olhos fechados, o colocam no sofá.

— A bala entrou e saiu, mas mesmo assim isso é preocupante... Pressionem os cortes ele sangrou por nós todos. — Bandagens são pressionadas em seus ferimentos ele geme.

— Está morto Amor! Ele não coloca as mãos no que é meu. — Abafo um grito e beijo sua boca ele geme doloroso.

— Eu pensei que você estivesse morto... Cam! — Colo minha testa a dele, beijando seu rosto, limpando os cortes.

— Não... Não quando você grita em minha mente pra não me despedir.
— Você vai ficar bem, vai sim.

— Fique comigo. — E Cam apagou, a médica chegou, e foram muitas horas segurando sua mão, assistindo-a trabalhar suturando meu companheiro, soro e sangue eram trocados a cada tempo, Cam foi limpo e então descemos para nosso quarto, a alcateia inteira estava a nossa porta com velas e orações, os vi pela janela, me obriguei a tomar um banho, depois me sentar ao lado de Tobias que o vigiava enquanto eu me limpava, Be e Milli me ajudaram a me lavar, porque eu comecei a chorar por minha vida toda, e pensei que nunca ia parar, o medo dele morrer, a dor real, os olhos prata de Zander me assombrariam para sempre, e chorei tanto que minha garganta ficou sensível porque acho que entre chorar e gritar era a única maneira de aliviar que meu companheiro quase me deixou.

A culpa por não ter obedecido a primeira vez fez meu corpo dobrar, eu não me sentia merecedora do amor, ou de sua preocupação, eu não o merecia, eu não conseguia dizer isso em voz alta, a raiva dele ter me ordenado de tal forma me rompeu, porque meu corpo e mente parecia separados como eu Luna, que estava fundo em minha alma como se tivesse sido diluída em meu sangue.

Eu devia ter ido quando ele me pediu, porque eu era uma distração, eles me usaram para o enfraquecer, ele estava desestabilizado por minha mera presença e que estávamos em perigo, eu causei metade daqueles ferimentos quando não dei ouvidos, quando meu companheiro implorou para que me salvasse, as palavras dele me causariam pesadelos pelo resto da minha vida miserável, eu nunca ia aceitar um eu te amo dele sem me lembrar que quase o perdi... Quando me disse em tom de despedida.

— Ele vai ficar bem. — Tobias me faz sair da bola que estou sentada no chão com o queixo no colchão olhando fixamente meu amor dormir profundamente, um dia inteiro de sono profundo.

— É minha culpa! — minha voz soa tão baixa e falha.

— Não, não é. — Olho para Tobias com seus cotovelos em suas coxas e dedos entrelaçados me olhando.

— Sim, é Tobias! Ele me mandou ir embora, fugir, ele me mandou deixar ele pra trás, eu não podia. — Desabo a chorar outra vez.

— Eu faria o mesmo. — Tobias senta a meu lado, deita a cabeça no colchão.
— Ficar e lutar o deixou vulnerável. — Eu o feri desse jeito.

— Eu ficaria e lutaria lado a lado, nem que isso significasse morrer juntos, foi assim que nossos pais fizeram... Minha mãe se recusou deixar nosso pai.

— Eu não sabia. — Seco as lágrimas e toco na bochecha de Cam, seguro a mão de Tobias.

— Foram emboscados como vocês! Por um número maior e longe de casa, eles lutaram até o último momento até que um deles caiu.

— Sinto muito.

— Sabe como descobrimos, um dos lobos disse que minha mãe viu nosso pai morrer e lutou até o último instante. Cam o matou rápido, por ter contado o que aconteceu naquela noite.

— Eu devia obedecer Cam, eu devia! Ele nao estaria assim, comigo longe daquele lobo ele teria feito algo alem de lutar.

— Ele falou que você gritou na mente dele?

— Cam falou em minha mente primeiro, só o respondi.

— Em lobos? — Seco as lagrimas que ameaçam a descer.

— Não, Cam estava trocando socos, me olhou nos olhos e falou em minha mente, assim como estamos agora.

— Uau... Isso merece uma dose de bebida... Aceita?

— Talvez me ajude a tirar essa sensação amarga em minha boca.

— Posso pedir para trazerem algo pra comermos... Cam perdeu muito sangue e com a prata em sua carne demora para se recuperar.

— Aconteceu isso antes?

— Não assim, ele ficou ferido atiraram nele, Cam é forte.

— Ele é! O vi lutar, o chão parecia tremer quando eles se chocavam Toby, eu nunca pensei que um lunar pudesse ter aquele poder.

— Um macho lunar! — Toby se senta a meu lado no chão. — Eu nunca ouvi dizer de um macho lunar, deve ser por isso que ele se escondeu. — Entrega o segundo copo em sua mão e me faz bater o meu copo no dele. — Um brinde a vida!

— Ele... Zander? Cam o matou não foi?

— Quando cheguei eles estavam como lobisomens, e nossos homens estavam os cercando, os outros lobos foram rendidos, ainda não foram mortos, Noah está interrogando.

— Porque não pararam a luta Toby, Cam estava muito ferido.

— Alfas não aceitam intervenção Pan!

— Zander aceitou e acho que até agradeceu que os outros lobos entraram para atacar Cam. — Tobias me olha surpreso com o que disse.

— Você quer me dizer que esse Zander não lutou limpo? — Havia muitos sentimentos que podia notar em suas feições, mas o cheiro delas era algo novo, ele cheira a ira, descrença e vergonha.

— Sim, eu lutei com um deles apenas, enquanto Zander e outro lobo atacavam Cam. — Me estremeço ao lembrar do gosto do sangue daquele lobo em minha boca, um som gorgolejante de sua morte, e cheiro ocre de amônia e enxofre quando morreu, a morte fedia, a culpa por matar não estava entre os sentimentos que eu sentia, e tudo se resumia que para salvar Cam eu mataria quantos fossem precisos.

— Que porra!

— Cam quebrou o pescoço do outro lobo com uma mordida, esse ataque lhe custou vários ferimentos, eu entrei contra Zander, e quando acordei estava com aquela coisa em mim.

— Então estavam escondidos por perto o tempo todo.

— Ou tenha nos encontrado porque gritei muito enquanto Zander me arrastava pelo rio.

— Puta merda! — Tobias passa sua mão pela do irmão e fica olhando Cam. — Eu imagino o desespero dele ouvindo seus gritos, não estando presente pra te defender, vendo que teve que lutar com o inimigo por ele com ele, imagino como o coração do meu irmão estava desesperado. — E ao ouvir as palavras de Tobias eu digo pela primeira vez o que Cam me disse.

— Ele me disse que me ama, Toby! Me ama.

— Nossa como vocês falam! Ai. — A voz rouca de Cam nos cala então me levanto e vou para ele.

— Irmão? Tudo bem. — Cam parece sentir dor ao engolir sua saliva.

— Está com sede Amor?

— Sim. — Antes mesmo de me virar Tobias me entrega o copo com água e ambos o ajudamos a sentar um pouco. — Porra! — Rosna levando a mão ao peito onde foi alvejado. — Este caralho dói muito. — Cam toma água em pequenos goles, suas sobrancelhas unidas pela dor, e voltamos a deitá-lo.

— Vou buscar a médica!

— Fica Mano! — Engole com dificuldade e segura a mão de Tobias. — Eu preciso que proteja a Pan... A mim... —  E outra vez suas expressões se suavizam ele parece ter dormido, ou desmaiado.

— Não fique aí parado, vai buscar a médica ou eu vou.

— Eu não posso sair daqui.

— Por que não?

— Porque temos um traidor. — Tobias liga para alguém. — Mande Caleb e Noah até onde estamos, quero os lobos mais confiáveis guardando a casa... Tragam meus equipamentos.

— Como assim temos um traidor?

— Cam corre perigo, você, Be, todos nós...

— Explica por favor.

— Alguém de dentro passou as informações sobre essa noite, e alguém ajudou eles a entrar, Cam deve ter farejado o inimigo... Sabe quem é. — A doutora entra com sua maleta. Joane sorri pra mim doce e gentil.

— Me chamaram?

— Cam sente dor, acordou, tomou água e apagou, nós o colocamos um pouco sentado.

— Vou olhar as feridas, aplicar um analgésico e algo para o manter dormindo até que se recupere.

— Nada de sedativos, meu irmão deve estar limpo deles, podemos sofrer um novo ataque... Veja tem algum medicamento que acelere a cura.

— O alfa foi envenenado com a prata, seu organismo no ritmo de um humano, a recuperação é lenta, sofreu muitos traumas, e não me deixaram o examinar com mais atenção, ele pode estar com algum dano interno.

— Foda-se Joane! O coloque em pé, é uma ordem.

— Eu não sou responsável pela saúde do alfa, minha especialidade é com partos e fêmeas alfa.

— No momento não confio em nenhum macho dentro dessa casa, e isso inclui Carlos.

— Carlos é de confiança sempre foi. — Joane parece realmente ofendida.

— Doutora muitos machos têm comportamentos que as vezes não revelam sua verdadeira natureza, eu tenho um dom, eu sempre farejo traidores.

— Joane não é uma traidora.

— É por isso que é a ela que estou confiando você e nosso alfa... Não arrisco deixar você em perigo.

— Não sou uma ameaça Pan! É isso que alfa Tobias quer dizer, porque você é nosso bem mais precioso, e nosso alfa não tem condições de proteger sua companheira, é nossa responsabilidade proteger a Luna.

— Estou aqui! — Tobias grita pela escada olhando a nós duas. — Quero armas, e não estou brincando.

— Vou providenciar... — Noah desce as escadas e me abraça. — Como você está Panzinha?

— Vou ficar bem... Descobriu alguma coisa?

— Eu preciso do Cam.

— Temos traidores em nosso meio.

— É Noah... Caleb?

— Só um momento. — Caleb desce ainda limpando as mãos, tem sangue em sua blusa e um cheiro forte de algo, de alguém, estava interrogando com uma motoserra? — Aquele filho da puta mijou nas minhas botas.

— Dois nomes... Foi tudo que conseguimos depois da sua perícia.

— Mataram?

— Ainda estão vivos, embora não tenham mais todos os membros.

— Os guardas deixaram passar um inimigo que podia ser farejado como ameaça, uma coisa um alfa não pode ocultar, e assim podemos dizer que esses traidores vão pagar.

— Isso se eles ainda estiverem aqui.

— Três deles estão desaparecidos. — Noah me olha e vê que estou estática, talvez porque eles estão falando sem parar, ou talvez eu só esteja entrando em choque, ou sei, la.

— Vamos deixar eles dormirem um pouco... Pan... Bê está dormindo eu verifiquei com Milli, ela teve um leve sangramento, a doutora estava com ela, quero que durma um pouco, estamos aqui, eu, Cal e Toby, Sam armado com uma escopeta cheia de balas de prata, ninguém vai chegar em vocês. — Olho pra Tobias colocar umas maletas e tirar um notebook ele ia ficar ali e isso me aliviou.

— Espera Noah? —  Como assim Be teve um sangramento, e ele me diz isso assim. — Be? — Então era por isso que Be não estava aqui comigo, começo a chorar e Noah me aperta em seu abraço me firmando em pé, porque eu queria ir ver minha amiga, mas não queria deixar Cam.

— Calma Pan! Está tudo certo, com elas tudo certo... As duas estão bem, só foi um susto, Be ficou nervosa e não a culpo.

— Tem certeza?

— Tenho... O que preciso é que você se deite naquela cama ao lado do meu irmão, e descanse porque tanto você como ele estão feridos, esse corte na sua testa ainda não fechou.

— Vamos ficar de olho em vocês dois. — Tobias diz iluminado pela luz azulada de sua tela, respiro fundo, olho aos três irmão e Caleb falando com alguém na escada, minha cabeça realmente segue doendo, Joane bate no travesseiro.

— Me acordem se alguma coisa acontecer... — Vou pra cama e me deito ao lado de Cam olhando pra ele, choro ao lembrar das coisas que passamos, e acabo dormindo agarrada a sua.


Cammael.


Salto da cama assustando me esquivando de um golpe, Pan se levanta assustada, olho a minha volta estou em nosso quarto, Tobias arrasta a cadeira e o som é como um golpe no meu crânio.

— Cam! Caralho tá alucinando porra?

— Desculpe.

— Amor, volta pra cama. — Minha, caminho pra Pan e a beijo, deusa quase a perdi. — Cuidado ainda está com os acessos do soro e sangue.

— Quanto tempo eu dormi? — Arranco as agulhas e Pan me olha assustada.

— Dois dias e uma noite. — Tobi me responde.

— Quero todos os lobos da Alcateia Filhos da lua aqui ao anoitecer.

— Então vai ficar pra amanhã, porque hoje foi-se. — Olho para a janela, porra, era noite, Pan sai da cama usando uma das minhas camisas, ainda tem marcas em sua garganta e testa, que merda se eu pudesse voltar no tempo só pra matar aquele filho da puta outra vez faria umas cinco ou mais vezes.

— Eu vou matar cada um que conspirou contra mim! — Rosno ainda precisando matar alguma coisa.

— É uma lista bem grande... Tudo que fiz nessas últimas horas foi acrescentar nomes nela.

— E vou ter prazer em os riscar um por um. — Rosno deixando minha irá sair, Pandora me encara e depois me abraça.

— Seu idiota depois do susto que me dá, tudo que pensa é vingança. — Afasto minha companheira, minha companheira predestinada, a dor me sobrecarrega, os gritos, o apelo dela me toma, foi desesperador correr atras de cada grito dela, temendo ser o último, ela morreria pedindo socorro a mim, gritando por meu auxílio, confiando que a salvaria.

— Não foi você que viu sua companheira quase morrer, eu pensei que você tinha morrido porra... Porque infernos não me escuta, caralho, quando eu te mandar ir embora, vai embora, não ataca um lobo duas vezes o seu tamanho e deixa a garganta exposta.

— Calma Cam! — O som da cadeira raspando no chão me faz sentir tanta dor na cabeça que quando abro os olhos vejo vermelho.

— Calma? Ela tem sorte de estar viva.

— Eu fiz! E faria outra vez. — Puxo essa baixinha e beijo sua boca rude, saboreando seu gosto, nada alem de orgulho em minha mente, ela era corajosa, e me ama acima dela mesma, sorte dela que a amo mais.

— Eu sei que faria, estupida e inconsequente.

— Eu não ligo pra sua lamuria Cam... Você tem que entender, estou com você.

— É minha culpa, estive focado de mais em só foder você, eu devia ter te preparado, ter te colocado pra treinar, eu devia ter te ensinado o mínimo de defesa pessoal lycan. — Me olha com raiva e afronta, como se a tivesse insultado.

— Beleza! Pode levar Toby, chame a porra da médica seu irmão ficou louco.

— Garanto que você não entendeu o eu e você somos.

— Entao me diga.

— Eu não preciso de lua azul pra saber. — Ela abre a boca e a fecha, já vi Pan agir assim diversas vezes, eu esperei as engrenagens de sua mente rugirem e as lagrimas vieram.

— Cammael Lucius Mortagh você é meu companheiro? Meu? — Bate contra os seios com as pontas dos dedos, cada sarda fica mais escura pelo rubor de seu sangue aquecendo, seu amor deixando seus olhos verdes vertendo dourado.

— De fato. — Bate aqueles cílios acobreados, minha companheira é linda, amo quando morde seu lábio por dentro, amo quando eleva a sobrancelha ironicamente, amo seu cheiro doce de canela, apenas canela e algo escuro e rico só dela o cheiro que já chamei de essência da perdição, da minha perdição. Não existem flores, plantas, frutas, perfumes, esse cheiro é só de Pandora, é ela toda ela, foi o que senti oculto por cada coisa química que usou para camuflar, o cheiro que meu lobo gravou, o cheiro da minha companheira.

— Cretino e você suspeitava disso a quanto tempo? — Os tons incrédulos e raivosos, ela estava brava, eu podia dizer que cada pensamento dela de pânico da noite em que eu sabia o nome do alfa supremo sem ninguém o dizer, porque eu escutava seus pensamentos, sentia o asco dela ao sentir o contato com a pele do outro macho, nunca mais a deixaria sofrer daquela forma. Cada pensamento de se entregar para me salvar, confiando que eu o faria... Sem dúvidas eu iria ao inferno a buscar de volta pra casa.

— Desde que você disse que as palavras pareciam flutuar no ar a nossa volta.

— Eu não quis te dizer isso Pan! Ontem.

— Você também descobriu Toby?

— Um irmão acasalado e pais, eu acho que já mencionei que tenho um certo dom?

— Que nada adiantou pra me ajudar Tobias! — Rosno entre dentes, eu o tinha pedido tantas vezes se conseguia capitar alguma coisa, porque eu temia ferir algo tão valioso, e foi ele mesmo quem me fez pensar, Noah, e cada vez que me vi mais e mais querendo Pandora, mas eu temia que se a ferisse eu poderia destruir um futuro.

— Já que está em plenas faculdades eu vou ver minha amiga, porque por nossa causa ela teve um sangramento e quase perdemos nossa filhote, Cammael. — Fecho os olhos controlando a fera, a raiva, a onda crescente de matar, eu precisava matar alguma coisa, não foi como Pan falou, foi a dor em seu olhar por sermos a causa de quase perdermos um filhote, nossa filhote... Nossa, uma menina. — É eu também me dei conta que já sabem que é uma menina.

— Então vamos ver as duas. O que esta esperando? — Pan me abraça Tobias me abraça, como exalaram pelo visto preciso matar mais rápido para não causar tanto pânico, a falta de fé em mim é exasperante.

Lutar com outro alfa era fácil, lutar com outro alfa supremo tinha se revelado infinitamente mais difícil, e um alfa lunar nunca me passou pela mente de que existisse, mas os anos de treinamento se alinharam quando Pan, descia pelo rio, cada vez que ela ficava mais longe, mais a minha mente não era inundada pôr a sua. Eu precisava aprender a fechar minha mente. Sou jovem para combater alguém com 525 anos.

— Esperei por ela por 525 anos! — As últimas palavras de Zander voltam a minha mente, 525 anos era muito tempo.

Obcecada por o AlfaOnde histórias criam vida. Descubra agora