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C.A.P.I.T.U.L.O 01
É UMA MENINA

A vida para alguns é boa, eu chegue à conclusão disso aos seis anos, quando pela primeira vez fui colocada para dormir fora de casa porque manchei uma camisa importante do meu papai, é que eu era muito pequena para saber que roupas amarelas mancham roupas brancas. E mamãe não me disse que eu devia as separar, mas mamãe ficou muito irritada quando mencionei isso em minha defesa quando ela viu o desastre.

— Você é uma garotinha tão estupida quanto sua mãe! — Disse meu papai bravo olhado de rosto enfezado. — Me dê sua mão aqui! — Estendi minha mão tremendo e aquele instrumento de ferro bateu com força em minha palma, não grite disse a mim mesma, não grite. — Agora vejamos qual castigo sua mãe escolhe para você.

— Deixa a dormir na varanda com o cachorro! — Respondeu mamãe brava, já indo para a cozinha.

— Como queira! Sabe que é sua culpa isso tudo, não fez seu trabalho direito, tudo que você tinha que fazer era me dar um menino, um irmão para Atlas brincar... Agora colha o que plantou. — Mamãe olhou nervosa para papai, remoendo as mãos, tinha lagrimas nos olhos maquiados dela, seu cabelo loiro parecia perder o dourado todas as vezes que papai falava com ela assim. Fiquei olhando para meu irmão parado olhando a tudo.

— Eu aprendi papai! Sempre que uma garota não fizer seu trabalho ela merece punição. — Diz Atlas olhando para mim com desprezo.

— Sua mãe tem que fazer as tarefas da casa porque ela errou... Errou muito feio, está vendo a Pandora. — Ele fez que sim, odiava quando os dois me olhavam daquela forma, mesmo pequena sabia que não era uma boa forma de olhar. Meu pai tinha colocado um de seus joelhos contra o piso de madeira para ficar no nível dos olhos do meu irmão mais velho de 8 anos. — Se tivesse nascido um menino tudo seria diferente para seu irmão e sua mãe... Mas... — O tom de sua voz foi ficando cada vez mais frio e isso queria dizer que eu poderia ficar sem jantar. — Sua mãe em vez de lhe dar um irmão lhe deu uma irmã e isso é muito errado, meninas não servem para nada além de gastos desnecessários, pra no fim acabarem em outra casa, então sua mãe tem que fazer as tarefas da casa e viver nessa casa feia, você também Atlas porque você tem uma irmã e não um irmão, então quando ficar bravo por não ter uma casa maior e com piscina e um quintal grande culpe sua mãe que é uma mera mulher falha.

Naquela noite enquanto eu via meu irmão através da tela de proteção tomar sorvete assistindo desenhos animados na sala, eu senti frio e fome, quando meus pais fecharam a porta e eu fiquei sozinha com o cachorro do meu irmão, eu estava com fome ao ponto de comer um pouco da ração do Pegasus.

Eles me matricularam na escola, e isso queria dizer que eu não podia apanhar mais, fiquei feliz, observei como meu irmão recebia elogios e brinquedos sempre que mostrava suas notas, então eu fiz meu melhor, porque eu era uma menina, então eu tinha que tirar boas notas, fazer as tarefas da casa e sempre me comportar, isso queria dizer que nada de choro quando papai batia na minha mão com a palmatoria.

Eu me enganei quanto a tirar boas notas, eu só precisava não ser notada na escola foi o que mamãe disse.

— O que fica me olhando Pandora? — Diz meu pai depois de me notar parada ao lado de sua poltrona um tanto encordoada e com uma cara de nojo evidente.

— Eu tirei um A em matemática.

— Certo. — Voltando para seu jornal, me descartando.

— Eu tirei um A em português, ciências, religião e artes. — Digo sem parar até dar todas as notícias.

— Ângela? Ôh Ângela? — Uma vez chamando minha mãe ela corre para a sala.

— O que foi querido?

— Repita Pandora!

— Eu tirei um A em matemática, ciências, português, religião e artes. — Me movi alegremente eu ganharia meus elogios agora com certeza, e meus presentes.

— Desculpe meu amor! — Mamãe me olha com raiva. — É que ela pensa que merece algo.

— E merece por fazer sua obrigação? Quando é o mínimo que se exige aqui dessa sua filha. Vamos Pandora eu tive que trabalhar o dia todo me deixe em paz, e não fique em minha vista, por que não vai pra seu quarto? — Me enxota com sua mão, mamãe acaba me guiando pelos ombros e fica ali olhando o sem jeito.

— Olha pai tire C em matemática! — Diz meu irmão descendo as escadas vendo que eu era repreendida por expor minhas notas e como nossos pais foram frios e rudes comigo, não era para ele ser meu irmão mais velho, irmãos mais velhos protegem seus irmãos mais novos porque o meu tinha que ser como eles?

— Venha cá meu garotão me mostre esse talento para números. — E fiquei ali no cantinho da porta onde eles não podiam me ver, chorando baixinho e vendo meus pais cobrirem meu irmão de beijos e abraços, rindo e olhando sua nota, eu não entendia ainda, mas quando cresci entendi. Realmente a vida era imensamente mais feliz para alguns porque eram homens.

Estava deitada quando mamãe surgiu na porta me olhar, ela as vezes fazia isso, estava com uma marca vermelha no rosto perto da maçã do rosto e tinha um borrão em seu batom, acho que papai a puniu, outra vez, como fazia comigo, puxei meu cobertor até cobrir minha boca medo borbulhou, ela estava irritada como das outras vezes? Eu não sabia.

— Pandora? Escute. — Sentou-se em minha cama e disse. — Não quero que se exiba com suas notas para seu pai novamente, sabe que ele não gosta de você rondando-o, isso o irrita, quantas vezes preciso dizer isso?

— Eu entendi mamãe.

— Fez sua obrigação, boas notas, falando baixo, se comportando, não fazendo amiguinhos, não fazendo fofocas de nossa casa, fazendo suas tarefas, você não tem permissão para tirar notas baixas e você não é seu irmão, ele é menino e você menina, ele merece o nosso amor, e você sabe que não queríamos você, menina, seu pai odeia ter uma filha então fique longe, apenas conviva o necessário entendeu? Ou vai ficar no armário. — Ela estava muito irritada.

— Desculpe mamãe eu não queria o deixar bravo, eu pensei que ele ia gostar.

— Ele não se interessa, nos poupe com suas tentativas de chamar nossa atenção agora lembre-se ou não vou responder por mim... Eu não vou mais ser punida por sua causa. Oras estaca pensando, desde quando menina você pensa?

— Me desculpe mamãe vou ser boazinha eu prometo. — Era tarde ela me pega pelo braço e me leva pro armário e me tranca dentro no escuro.
— Eu não quero mais falar com você, amanhã eu volto.

Então eu chorei baixinho por meu erro, como eu pude pensar que ele me daria um elogio, me olharia com carinho quando sou menina, e ainda ele machucou mamãe como me machuca por minha causa, mamãe está com muita raiva de mim.

Depois dessa conversa e desse castigo eu me comportei, falava o mínimo, fazia tudo que me foi permitido fazer, cumpri com cada uma das minhas obrigações.

Eu estava com nove anos quando descobri que eu não podia ser tratada dessa forma, mas era tarde para mim, e fiquei com medo de contar. Quem acreditaria que pais como eles faziam essas coisas malvadas.

No ano seguinte uma professora ficou muito irritada quando ligou para minha mãe reclamando que eu estava usando roupas de criança que não condiziam com minha idade e isso era algo que chamou a atenção de todos. A verdade era que minhas roupas estavam realmente pequenas e eu não tinha mais nem uma que acompanhasse meu crescimento.

— Entendo... Claro que entendo, mas é que ela é muito apegada a essas roupas. — Mentiu minha mãe ao telefone para a professora, mas eu olhando seu rosto mudar de cor eu estava no campo de visão dela e seus olhos ambarinos queimaram de raiva.

— Senhora entendo que a criança possa nutrir afinidade por certas roupas, mas cabe aos pais lhe darem outras roupas que lhe sejam adequadas a idade dela, ou eu preciso ligar para o conselho tutelar?

— Não precisa, vou jogar essas roupas pequenas no lixo e a obrigar a usar suas roupas corretas, peço desculpas pelo transtorno. — Minhas pernas funcionaram e corri escada acima, primeiro lance me levou até o andar superior e o segundo me levou até meu quarto, olho a minha volta apavorada e o armário parece me convidar a entrar é o que faço, menina má, vadiazinha quebradora de regras, desobediência era punida com dez palmadas, todas essas palavras voltam pelo ar em minha mente me fazendo hiperventilar.

Mais tarde naquela noite apanhei e fiquei de castigo, sem jantar e trancada no armário, meus pais discutiram e no fim das contas papai deu o cartão para mamãe comprar umas roupas novas para mim.

Aos dez anos eu já sabia meu lugar, mas Atlas nunca me deixava em paz, nunca mesmo, ele roubava meus livros, rasgava meus trabalhos, colocava armadilhas em meu quarto, e me machucava sempre que podia, ele inventava mentiras ao meu respeito, ele estava com doze anos, e eu o superava na escola, minhas notas eram as melhores, claro que ele já começava a ser visto como atleta, mas eu seguia estudando e aprendendo.

Aos doze anos eu sabia o que era, quem era, o que eu sofria, e porque eu sofria, meus pais ficaram mais distantes de mim com o passar desses anos, e acabei adotando a manobra evasiva, evitava estar nos mesmos cômodos que eles.
Mamãe sempre que alguma visita aparecia em meio aos meus trabalhos de limpar a casa me tomava a vassoura, ou o aspirador de pó e fingia ser ela a fazer as tarefas, parava de fazer, atuando como uma atriz perfeita, sorrisos e gentilezas, limpar um suor inexistente da testa, e sempre dizia eu sei que nunca paro, mas amo minha vida, ela só tinha duas funções em casa, fazer nossa comida e fazer as compras.

Aos treze anos eles me colocaram para cuidar de um filho dos vizinhos para ganhar dinheiro, e sim eles ficavam com 70% dos meus ganhos para pagar minhas despesas.

Aos 14 anos eu já era totalmente consciente que meus pais tinham algum tipo de doença mental que envolvia muito sexismo, minha avó paterna sempre foi uma figura icônica em nossas vidas, indo e vindo sempre que tinham jantares familiares, a família era grande e meu pai parecia ser o mais com dificuldade financeira porque o resto parecia ser muito bem de condição. Meus tios vinham na nossa casa olhavam tudo como se estivessem em uma lixeira, o único gentil era tio Hades, ruivo como eu, tio Morfeu sempre me tocava como se toca uma mosca, e tio Hermes era tão loiro como meu pai, ou seja muito pouco, e tão rude quanto.

Aos 15 anos fui elogiada por todos os professores como a melhor aluna e gênio da escola, e isso causou um efeito negativo em casa, meu irmão era o queridinho de todos na escola e em casa, mas a escola era um ambiente saudável com lugar para todos brilharem, e em minha casa não. Quando ganhei prêmios que fizeram meu pai ter que fingir orgulho de mim foi como uma bomba jogada aos pés do meu pai. Medalhas nas olimpíadas, medalhas de concursos de soletrando, concurso de inteligência.

— Fui chamado para a escola de vocês, e era sua irmã a ganhar um prêmio de melhor aluna da escola, melhor aluna da escola? — Pela primeira vez ele tinha nos enfileirado no corredor perto da escada, e isso incluía nossa mãe, nunca em minha vida meu irmão tinha recebido um enquadro, ele estava com 17 anos no segundo ano do colegial e agora estava ao meu lado sendo ameaçado pelo olhar mortal do meu pai. — Quando e onde eu errei com você garoto? — Eu escondi meus dentes, contive a vontade de rir me beliscando com o máximo de força que tinha, braços atrás das costas. — Você está perdendo para uma mulher? Esse prêmio devia ser seu, Atlas, Atlas meu garoto, você se deixou ser superado por uma garotinha inferior a você, e se você foi superado pela inteligência medíocre da sua irmã eu errei com você.

— Pai eu sinto muito, ela não vai mais tirar notas altas, prometo! — Disse Atlas com raiva.

— Ares? Atlas tem razão. — Os olhos de papai verdes ficaram escuros e assustadores.

— Não, você não está me entendendo! — Meu pai, nosso pai afrouxou a gravata com raiva evidente, então pegou meu irmão pelo colarinho e sacudiu ele com violência. — Sua irmã está fazendo a obrigação dela, boas notas, comportada, falando baixo, sendo discreta, fazendo suas tarefas, pagando suas despesas, mas você deixou que uma menina ganhasse o prêmio de melhor aluna da escola? Entendeu? Você entendeu onde quero chegar? Um homem perdendo pata quem nem devia existir. Isso é um golpe no ego.

— Mas pai eu estou ocupado com treinos.

— Não me interessa, vai melhor suas notas por questão de honra, ou quer passar vergonha? Você é meu filho não me desaponte. — O dedo indicador apontado para o nariz do meu irmão foi o gesto final da conversa.

Depois dessa conversa séria entre os membros masculinos da minha casa fui mandada para meu quarto, não fui castigada por meus pais, mas por meu irmão depois desse dia virou questão de honra me punir por ele ter que estudar e manter uma média A.

Ele ganhou um carro por ser um homem inteligente e eu fui mandada para trabalhar na biblioteca, eu gostei, era melhor do que cuidar de crianças, eu tinha internet, eu tinha livros e eu passava minha tarde e metade da minha noite nesse emprego, seis horas de trabalho para uma adolescente, então o meu ganho também foi melhor, com isso negociei com meu pai a porcentagem, e acabei com 50% do meu salário, já que ele não precisava gastar com roupas, calçados, e outros itens de higiene, eu ainda era responsável por tarefas de casa tais como lavar as roupas, e limpar a sujeira do velho cachorro, mas não demorou muito o coitado acabou morrendo.

Com dezesseis anos eu entrei no ensino médio e meu presente de boas-vindas foi um balde de água gelada na cabeça, fui motivo de piada de todos os alunos, minha blusa branca mostrou mais do que eu gostaria de mostrar. Foi o ano do primeiro teste para a faculdade, eu queria ser médica, de todas as profissões ser médica era o que eu queria para a vida, cuidar dos outros, como ninguém me cuidou.

— Não, muito cedo para faculdade você não tem idade para isso, e não, como você quer fazer faculdade se está no primeiro ano do colegial? Pandora foco menina, agora saia quero conversar com sua mãe.

Eu chorei muito naquela noite, pensei que indo embora ele ficaria feliz, então voltei para minha rotina, escola, trabalho, tarefas de casa, escola, trabalho, tarefas de casa um ciclo de rotina. A única rotina que adoraria era do meu irmão me perseguindo na escola parasse, ele me derramou macarrão, colou meus livros, escreveu uma cartinha de amor para um rapaz do time de futebol e entregou pro cara dizendo que eu tinha escrito, e o cara me olhou torto pôr o ano inteiro, uma sequência de pegadinhas sujas e cruéis, mas os outros não viam maldade, era algo que os jovens fazem apenas, as garotas derretiam diante do loiro alto de olhos âmbar.

Quando completei meus dezessete anos recebi outro não de meu pai, ele ficou irado na verdade porque mostrei três cartas de admissão em faculdades de medicina, e me proibiu de tentar falar com ele sobre esse assunto, eu estava no segundo ano e meu irmão estava indo pra faculdade falaríamos da minha faculdade quando chegasse o momento por hora este assunto estava encerrado, e como punição cortou minha ida e volta do trabalho no ônibus, e deu uma bicicleta velha esquecida na garagem de Atlas e me disse que era meu meio de transporte de agora em diante.

Eu queria gritar, queria ligar para algum órgão de proteção de crianças e adolescentes e informar que eu sofria abuso dos meus pais, eu queria chorar e que alguém me ajudasse, mas claro que ninguém veio em meio à multidão me acudir, eu não liguei para a polícia e nunca contei o que passei em minha vida.

Como forma do destino me mostrar que eu merecia algum conforto achei um gatinho recém-nascido na parte de trás da biblioteca e o nominei de Bolinha, levei esse filhote para casa, o escondi dos meus pais e irmão, cuidei e criei ele sem que eles se dessem conta, quando ia pra escola o escondia no armário, quando ia pro trabalho o levava, até que comecei a deixá-lo na biblioteca.
Enfim minha formatura, meus 18 anos, e era como se eu fosse um preso saindo da cadeia porque cumpri minha pena, minha mãe parecia mais alegre sem meu irmão, mas azedava todas as vezes que me via.

— Ainda tem você, ainda bem que está acabado, não vejo a hora. — Engoli a dor de suas palavras.

— Mamãe poderia me ajudar com o papai?

— Tente a sorte com outro, eu não vou me meter nesses assuntos. — Olhei a estranha que me pariu, balançando ao som de uma música que só ela ouvia, e bebia seu gin, subo pro meu quarto me preparar para minha chance.

Estava sozinha como estive desde o dia que nasci, por culpa do destino, menina e nessa família, respirei fundo e juntei minhas cinco cartas de aprovação desci as escadas, me vesti para essa ocasião, uma calça social, uma camisa de botões branca e um cardigã verde musgo combinando com minha calça, sapatos sociais, um coque de cabelo.

— Posso entrar? — Bato suavemente na madeira da porta do escritório do meu pai, o antigo quarto do meu irmão.

— Entre, eu estava esperando sua visita. — Eu não sabia o que pensar sobre como ele disse aquilo com um sorriso lupino em seus lábios, meu pai era cruel e duro como um machado afiado... Lembrava Ares o Deus da guerra em tudo.

— Então, como o senhor sabe me formei e tenho cinco faculdades para escolher. — Digo de uma vez me sentando na cadeira a sua frente, ele respira entediado.

— Certo, escolheu alguma profissão diferente dessa vez? — Expectativa me golpeia, porque eu não fiz para outras profissões, burra, que burra.

— Não papai, eu amo medicina e sei que serei uma boa médica. — Digo em um sopro desanimado.

— Pandora! — Um olhar cruel brilha em seus olhos. — Como bem sabe seu irmão está no terceiro semestre de medicina. — Foi ali que vi meu erro, o filho querido estava fazendo a faculdade que eu sonhara, e isso me seria negado, mas eu insisti, um golpe de sorte eu só precisava de um golpe de sorte.

— Sim papai, é muito bom saber que Atlas está indo bem. Eu sei que ambos os seus filhos terão uma carreira na medicina, não é maravilhoso.

— Filha, medicina ficou para homens, entende? Quer que eu chame sua mãe? Ela pode te explicar melhor, e essa sua roupa, não me diga que você é uma dessas jovens que gostam de outras jovens. — Sacudindo a cabeça em repreensão.

— Não, não, eu não sou papai, eu pensei que o senhor ia gostar de me ver mais social para...

— Como eu disse medicina não está em negociação, porque não tenta... — Pensa um pouco, ou finge o fazer. — Esteticista.

— É, é, bom é que essa profissão não precisa cursar faculdade. — Eu estava surpresa com isso.

— Melhor, com o dinheiro do seu emprego na biblioteca você pode pagar o curso.

— Papai por favor, eu quero ser médica, por favor papai, eu prometo que o senhor só vai ter orgulho de mim.

— Pare por ai... — Estende sua mão em evidente sinal para parar e depois amassa seu jornal com raiva evidente. Engulo meu choro, ele odeia choro, odeia fragilidade feminina, ele não me suporta. — Sem lagrimas na minha mesa, vou falar novamente, eu não vou pagar sua faculdade de medicina por que estou com a faculdade do seu irmão e as custas dele morar fora, entendeu?  — Papai fica em pé e me olha de cima. — Eu não vou pagar para uma mulher fazer faculdade! Por que eu faria isso? — Uma onda de dor em mim porque deu tom tinha aquilo de ironia cruel. — Pensei que você fosse muito inteligente Pandora para entender isso, eu nunca disse que lhe daria uma graduação superior, e mesmo que isso fosse possível porque diabos uma mulher vai fazer faculdade se ela vai acabar dentro de uma casa fazendo coisas de mulher e parindo filhos de um marido? Fora.

Fim de jogo para mim.

Obcecada por o AlfaOnde histórias criam vida. Descubra agora