CINCO

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C.A.P.I.T.U.L.O 05
Meu herói

As lanternas traseiras do carro do cedam do meu irmão era a última lembrança de família, eu não sabia para onde ir, mas sabia que não era o caminho que o carro tinha tomado, então dei as costas para o passado, ainda não acreditava que eles tinham feito tudo aquilo comigo, a dor em meu quadril era excruciante, o frio nos meus pés, o cheiro que sentia em meu próprio suor era nojento, uma mistura de sal e enxofre, devia ser assim que medo devia cheirar.

Segui pela faixa laranja caminhando por um bom tempo, sentindo meu mancar, o dia estava raiando, o sol vinha, não tão rápido quanto eu esperava, ainda era escuro e ainda era frio ao ponto de meus ossos doerem, meus dentes baterem, a medida que entrei mais na floresta, mais ficava apavorada, os sons de lobos, os sons de vários animais selvagens em sua casa faziam meus olhos ficarem alerta, ouvi dizer que em uma propriedade particular viviam lobisomens, depois que eles se revelaram leis foram criadas, mas eles não se misturavam com humanos, não gostavam nada de convívio com os humanos, então eu sabia que estava em Rio Prata ou próximo a isso, segui caminhando apresando o passo.

Várias placas diziam para ficar atento a animais na pista, ou a quantas milhas estávamos dessa reserva, além dos alertas de propriedade privada, mas para ir para o hotel onde minhas coisas e Bolinha estavam, para chegar em Piedade eu precisava passar por Rio Prata, lar dos Lycan, ou como eles chamavam Alcateia Filhos de Luna.
Então me lembrei da senhora Delvale, do que me dissera mais cedo, e eu começo a ver varias casas na beira da estrada, não eram bem casas e sim muitos trailers parados, containers, a verdade que não vim para Piedade por essa estrada, os ônibus não fazem linha por esta rodovia, a cinco anos desativada por conta da lei de proteção do governo.

Eu não quero despertar ninguém embora meu relógio biológico me diga que é por volta das cinco e meia, a piada que meu irmão e primos era me jogar aos lobos me faz querer chorar como uma louca, tudo que quero é chegar em um lugar seguro, jogada aos lobos, vou colocar um cavalo pra te foder como o animal que você é.
Quero me encolher em uma bola e chorar, quero parar essa dor em meu bumbum, me lavar, eu só quero ir pra casa, eu só quero ter paz.

Faróis, isso não era bom, a luz de dois faróis me faz correr pro mato, era tarde eles tinham me visto, eles param o cara e saem, então correm atrás de mim, eu escuto suas pegadas pesadas, eu corro, pra dentro da floresta.

—Ela foi por ali! — Escuto um deles dizer.

— Não seja idiota agora a garota sabe onde você está.

— Como se você não sentisse o cheiro dela a quilômetros, e ela fede. — Eu corria e os ouvia estavam perto de mais, e quando sinto a mão em volta da minha cintura, eu grito, arranho, chuto, luto mas o aperto de aço só se manteve, sinto o corpo maciço contra minhas costas quente como fogo, ele cheira minha nuca eu sigo lutando.

— Tudo bem! Calma não vamos te machucar.

— Me solta, me larga. — Eu não ia deixá-los me machucar, eu sabia que eram lobisomens pelo cheiro estranho, não era perfume, nem era sabonete, era alho de mato e suor.

— Qual é? quem vai ser o primeiro?

— Se está aqui no território de lobos mesmo com essa cabeça rapadas, você gosta de lobos, vamos bonitinha vamos te dar o que veio buscar, um pau lobo.

— Não! Eu não sou, e só, socorro... socorro... socorro, alguém me ajuda... socorro...

— Socorro. — Um deles me imita. — Socorro. — O outro sorri já tirando a camisa.

— Soltem a mulher. — Os braços do homem que me segurava ficaram tensos, e depois me senti sendo solta, eu corri e acabo esbarrando em outro corpo maior.

— Alfa... Ela está invadindo.

— Esta? Olha para a garota, ela está com cara de quem veio se divertir?  Espere... Acho que fui claro quanto a roubar humanas.

— Não eu não fiz isso, ela estava vagando pela pista, nós a vimos ela correu como uma louca, então sei lá, perdemos a noção, sabe como somos em dias de lua, e fêmeas correndo.

— Eu Cammael Lucius de Mortagh declaro a Alcateia dos filhos da Luna como anexa a Garra da Morte, por este e por outros crimes, a partir de agora todo e qualquer lobo responde a mim. — Eu me virei em choque como vários lobos estavam a volta, alguns rosnaram, outros choramingavam, ele ficou em silêncio o dia clareou pouco a pouco sua figura, o homem jovem que vi fez meu coração disparar.

— Isso é injusto. — Disse um homem nu a nossa frente, era um lobo em um segundo no próximo era humano, a muralha a qual me choquei era de igual tamanho ao tal Cammael que estava logo atrás, várias formas humanas começaram a emergir de suas formas de lobo, alguns mais rápido, outros podia ver os focinhos voltarem a faces.

— Talvez Cirus você queira uma luta.

— Você não pode me destituir como alfa da minha Alcateia porque os meus homens acharam uma puta disposta a brincar na floresta.

— Estuprar, chantagear, venda de drogas plantadas dentro do seu território não é o suficiente, devo incluir sequestro? Porque essa moça claramente sofreu alguma tortura.

— Eu nunca a vi aqui.

— Nunca a viu aqui? Mas para as autoridades humanas isso é um prato cheio Cirus, nós ainda estamos lutando por nossos direitos e se não seguirmos as regras vamos sofrer, todo o nosso povo não é nem de longe páreo para as armas que os humanos possuem.

— A cabeça dela está raspada como uma amante de lobo punida pela klusklu. — Disse uma mulher ao longe, saindo do carro parado, loira como se o cabelo dela fosse feito de raios da lua.

— Não tenho culpa se os humanos vêm atrás da nossa gente, e punem as da gente deles que recebem o que buscam. — O homem nu pega suas partes de homem em gesto grosseiro, assim entendo o contexto do que ele diz, isso me enoja porque não devia ser assim, aquelas mulheres os querem não só por sexo, já tinha visto documentários delas se expondo.

— Qual é a regra? — Rosnou o muro de dois metros a minhas costas.

— Não somos humanos! — Um coral respondeu. — Não confraternizamos com humanos. — Outra onda de vozes. — Fazemos negócios e garantimos o nosso sustento, essa é lei dos lobos quanto a humanos.

— Onde está dizendo que essas mulheres que vivem aqui na rodovia podem estar aqui? Onde nas nossas regras está escrito que podemos pegar o que queremos? E depois jogamos fora? OUVI INUMEROS BOATOS SOBRE COMO VOCES AMEAÇAM PERSEGUEM E COAGEM... NÃO MAIS. — Não ouve luta, mas sim um silencio incomum, esperei que eu pudesse ir. O homem não gritou, porém parecia ter gritado, embora sua voz fosse sempre no mesmo tom frio e baixo, ficou ameaçadora e pesada, tão pesada que temi meus joelhos cederem.

— Eu só quero ir embora! — Consigo dizer, o alfa Cammael me olha e depois ele move os dedos me chamando.

— Vá pro carro, Betany vai cuidar de você. — Eu não ia mais falar nada, eu sabia que devia dizer que eles não me mantinham ali, dizer que só estava de passagem, senti também que devia me calar, todas as vezes que tenho falado acabo em uma confusão maior. A mulher tira seu sobretudo, não sei se por pena porque estava tremendo ou por medo de que eu sujasse seu carro luxuoso e o coloca sobre meus ombros.

— Como se chama? — Betany move suas mãos para olhar minhas feridas e seu olhar ficar duro e respira difícil, rosna baixinho, seus olhos adquirem um brilho prateado, eu sei o que ela está vendo, um misto de maquiagem, novas e velhas feridas tudo lambuzado por lágrimas.  — Cam, vamos embora, estamos atrasados para embarcar no helicóptero.

— Amanhã receberão a visita do meu beta... Espero boas novas quanto a retirada das mulheres da pista, ou são membros da alcateia, ou não são. — Os dois grandes homens caminharam para o carro, o de cabelos pretos no volante, e o alfa Cammael no banco do carona. Eles não olham pra mim, apenas olham para a frente.

—Amanhã ainda é lua cheia Cam. — O de cabelos pretos disse ajustando o retrovisor e assim vejo seus olhos castanhos avermelhados, em um piscar de olhos o carro esta em movimento.

— Precisa de médico? Você cheira a sangue, esta ferida? — Ao toque da moça me retraio e quebro o contato com aqueles olhos que me assustariam por um longo tempo, junto com tudo dessa noite interminável.

— Estou ferida, mas só quero ir pra casa se puderem me deixar em Piedade.

— Piedade é no outro sentido. — O lobo ao volante diz. — Quanto tempo eles te mantem aqui?

— Eles não me mantem aqui senhor.

— Como ainda os defende, algum deles prometeu acasalar?

— Não... — Quando vou dizer novamente que eles não me mantinham aqui a Betany me interrompe.

— Deixa-a em paz Noah.

— Vocês não estão vendo a roupa, o vestido dela é dos caçadores, no mínimo eles estão aprontando, ela pertence ou é membro da klusklu. — Era como se ele estivesse enojado comigo ali, e se eu sentia vergonha, agora eu estava me sentindo pior só pelo modo como me olhou de cima a baixo.

— Então os dois lobos estavam perseguindo uma presa e você aproveitou a situação para finalizar o impasse do território? Esperto Alfa, muito sagaz.

— Ela foi o pingo d'água, embora eu não goste da sua gente moça, não desejo ser pega por nossa gente com raiva e rancor em especial numa lua cheia, então não corra se encontrar um lobo da próxima vez isso ativa nosso lado predatório.

— Cortaram seu cabelo quando? — Betany se sente no dever de intervir porque ao contrário de sentir medo eu não conseguia desviar os olhos daqueles olhos dourados com pingos de vermelho, o sol irradiava pelo para-brisa e deixando os límpidos.

— Hoje pela manhã, mas não foi eles, eu só fui... vocês não acreditam em mim, tudo bem, ninguém me escuta mesmo. — Minutos se passaram em silencio até que.

— Desculpe moça, mas a verdade é que estamos enfrentando muitos desafios entre nossa gente e a sua, apesar de sempre estarmos entre os seus eles agora que sabem estão amedrontados. — Fico em silencio e acabo olhando para a janela do carro me encolho evitando colocar peso em minha nádega queimada, mais alguns minutos eu sentia os olhos de Betany em mim.

— Conte-nos o que aconteceu? — Betany me fez olhar com mais afinco para a janela, respiro fundo decidindo se pela segunda vez contaria minha história.

— Sou filha em uma família de filhos, porque se tiver uma mulher entre os homens, acontece incesto, como posso dizer de forma que não parece tão asqueroso quanto é, meu avô fugiu da sua família e estabeleceu regras, escolher sua esposa obediente e que não questionasse, caso tenha filhos homens você é premiado com dinheiro, se tiver uma menina, acabe com o mal antes dos sete dias, ou arque com as consequências... Estou aqui então passei por muitas coisas, pais ruins, então quando o tal avô morre sou livre e resgatada, tudo para retribuir tendo o caso com meu tio casado, destruo seu lar porque ao sermos descobertos tudo desaba, então sou mandada embora, ele se mata um ano depois, então em seu enterro recebo a visita do meu pai, um surra porque agora sou  o que ele temia e agora ele sabe, ódio e raiva me deixaram desacordada não morta ele falhou outra vez em me matar, quando volto pra casa sou convidada a não morar mais naquele lugar porque ao que parece sou uma puta de lobo, então tenho que ficar no hotel, mas eu precisava terminar o serviço do cabelo meio rapado, como eu ia trabalhar no dia seguinte, isso é amanhã, entendem que além de tudo eu tenho que ir trabalhar amanhã, estou machucada, e em luto,  então quando encontro um salão tenho um pouco de aliviou ouvindo que não sou a única vadia no mundo. — Eu não choro, eu sinto raiva do quanto sou fraca e efêmera. — Então quando penso que agora vou seguir minha vida que tudo que resta das coisas erradas que fiz, entro no quarto de hotel e meu irmão e dois primos estão esperando, sou amarrada como um bezerro e jogada no porta malas, sou obrigada a saltar com pés e mãos amarradas até a sala do meu tio, antiga casa do avô sádico, então lá sou julgada, humilhada, despida, marcada e molestada, então sou banida da cidade para onde estamos indo, se me verem lá serei colocada para um cavalo me foder como o animal que sou, então quando penso que acabou, não acaba senhores estou na mira de um carro, depois dois caras grandes, corro por minha vida como nunca fiz, eu só aceitei senhores e esperei meu pai me matar, esperei meu tio me matar, mas quando vi aqueles homens atrás de mim foi como acordar, eu quero viver sabe, então você me salvou. ESSA É A VERDADE. — Digo sem fôlego. E grito no fim, porque estou quebrando.

— Um dia de merda. — Ouço o cara do volante dizer... Não olho para ninguém, não quero e não vou, pena ou asco eu evitaria... O silêncio foi meu único alívio.

Meia hora depois estamos no setor rodoviário de São Sebastião, mesma cidade onde meus familiares me ameaçaram se me vissem não iam só me punir.

— Aqui tem o suficiente para você chegar na sua cidade e pegar um táxi, seria bom você limpar o rosto assim evita que as pessoas te perguntem. — Cammael me entrega tanto dinheiro que minha mão não fecha em volta do maço de notas.

— Isso é dinheiro de mais senhor já abusei da sua caridade.

— Moça por favor só aceite e eu vou esperar você embarcar e garantir que sua família não vá te tirar de dentro do ônibus e seguir te prejudicando. — Olho a minha volta o carro cedam preto do meu irmão está parado na rodoviária a metros de onde estou, não sei se conto a eles, mas acredito que meu medo e meu olhar petrificado na direção do carro fez com que ele estralasse os dedos em minha frente me liberando do transe.

— Então, aquele carro parado ali vigiando a plataforma é do meu irmão, garanto que tem três caras loiros lá dentro.

— Então sua família é de boas condições? — Claro que ele entendia dia carros, as roupas dele eram finas a da moça também, agora o outro cara o Noah vestia calças jeans e uma camisa social com uma jaqueta de couro marrom.

— Noah fure os 4 pneus daquele carro, confira se tem três pessoas dentro, três homens loiros. — O cara grande assente é vai para o carro, nesse momento Betany chega com uma sacola de coisas e a passagem.

— Onde seu irmão vai? — Me entrega a passagem e começa a abrir uma embalagem de lenços umedecidos, na sacola um par de sapatilhas e um lenço comprido de ceda, tiro as etiquetas e as calço, e começo a cobrir minha cabeça com o lenço sob o olhar atento de Betany.

— Pode furar. — Cammael diz olhando ao irmão que fazia dois polegares para cima, as mãos dele tem pontas pretas, garras meu Deus, ele tinha garras, começo a tirar o casaco para devolver e sou parada com ambas as mãos em meus ombros sou impedida. — Fique com meu casaco moça. — O casaco não era dela e sim dele, não sei mais como agradecer. Ele me salva de ser estuprada, me dá carona, me ajuda com dinheiro.

— São sua família? — Digo que sim apenas com um aceno e ela caminha para o carro com raiva evidente, é parada por Cammael que segura seu braço impedindo dela prosseguir. — Cam por favor.

— Não... Vamos deixar como está, a garota não é da nossa conta, não é um dos nossos, muito menos problema causado por um lobo.

— Mas são da klusklu.

— Não, eu já disse.

— Obrigada Betany, obrigada alfa Cammael, eu vou indo o ônibus está de saída,  agradeça a Noah. — Caminho o mais rápido me afastando do casal.

— Os babacas estão dormindo os três. — Ainda escuto o Noah dizendo, eu não olho pra trás até estar sentada na minha poltrona, e olhar pela janela.

Quando olho para o carro alfa Cammael passa a garra rasgando a lateral do pneu traseiro ao dianteiro isso faz com que meus primos Saltem do carro cada um com uma arma, o rosnado alto e feroz me atinge mesmo dentro do ônibus e as mulheres gritam assustada, não consigo ver o que acontece depois do ônibus sair rápido e pegar a estrada.

Obrigada meu herói, obrigada.

Obcecada por o AlfaOnde histórias criam vida. Descubra agora