Freen
Qual a melhor maneira de se começar um dia? Para mim, é exatamente como estou começando o meu hoje: com música, uma boa xícara de café e rodeada de livros. Não consigo imaginar uma maneira melhor de começar o dia. Peguei o espanador de pluma em cima do balcão e fui em direção às prateleiras. Hoje, chegaria uma boa quantidade de livros novos, e eu precisava deixar o espaço vazio limpo para receber os novos livros.
Minha livraria não é grande, apesar do nome ser um pouco contraditório: “Big Bookstone”. Passei o espanador na prateleira vazia e voltei até o balcão. Olhei o relógio que tinha pendurado na parede e fui em direção à porta de madeira escura com algumas partes em vidro. Virei a pequena placa, deixando o nome “Open” à mostra. Ouvi meu celular tocar e fui em direção ao balcão, procurando o mesmo. Assim que olhei a tela, um sorriso surgiu em meus lábios.
- Bom dia, meus amores. – Falei assim que atendi a chamada de vídeo em grupo.
- Bom dia, meu neném. – A voz melodiosa de Nam alcançou meus ouvidos e me fez rir com o apelido.
- Bom dia, mulheres da minha vida. – Esse era o Heng, meu irmão de coração. Embora muitas pessoas achassem que éramos irmãos de verdade, eu não poderia dizer o contrário, afinal nos parecíamos de verdade.
- Meu dia começou agitado. – Me sentei no banco alto que tinha atrás do balcão e deixei o celular encostado na máquina registradora antiga que tinha ali. – Estou ansiosa, hoje irá chegar a encomenda de livros que pedi mês passado…
- Nossa, dessa vez demorou. – Heng falou enquanto mexia em alguma coisa que eu não consegui ver o que era.
- Freen. – Foquei meu olhar no rosto de Nam. – Onde está o meu pequenininho?
- Sim, demorou bastante. – Respondi primeiro o questionamento de Heng, e quando ia responder Nam, o barulho de dobradiças antigas me fez olhar em direção à porta dos fundos da livraria. Um pequeno ser passava por ela. – Ele acabou de entrar aqui. - Ele vinha segurando sua girafa de pelúcia. Ele era louco por girafas. Com a outra mão, segurava a mamadeira e vinha em minha direção com seus cabelos enormes e bagunçados, o que me fez sorrir.
- Estou com saudades de apertar as bochechas fofas dele. – A voz de Nam me fez olhar em direção ao celular mais uma vez.
- Eu tenho que dar um jeito de ir visitar vocês esta semana ainda. – Heng falou afobado. Ele morava no centro de São Francisco e é dono de uma pequena loja de roupas e objetos personalizados.
- Também estamos com saudades, dos dois. – Meu pequeno chegou ao meu lado e me olhou com aqueles enormes olhos castanhos. Eu sorri e o peguei no colo, deixando-o de frente para o celular. Assim que viu quem estava ali, ele tirou a mamadeira da boca, abriu um sorriso e apontou na direção da tela. - Apreciem o meu mundinho…
- MEU DEUS, QUE SAUDADES! – Nam falou quase gritando. & Tão lindo da dinda, a coisa mais linda desse mundo esse pequeno. Ai, eu não acredito que vou chorar em pleno escritório. – Ela levou o indicador até seus olhos e fez que estava limpando lágrimas. Nam trabalha na empresa de seu pai, o qual eu considero bastante.
- Para de crescer, garoto. – Heng falou quase enfiando o nariz na tela do celular, o que fez meu pequeno dar uma gargalhada alta. - O dindo tá morrendo de saudades de morder esse pescoço gordinho.
- Não vejo a hora de vocês aparecerem por aqui. – Suspirei e passei os dedos entre os cabelos grandes e lisos do meu filho, que não tirava o olho do celular. - Sempre fica apenas nós dois aqui…
Nam e Heng são as únicas pessoas que eu tenho em minha vida. Não conheço mais ninguém além deles, e não posso dizer que tenho uma família, não depois de tudo que me aconteceu anos atrás.
- Vamos aparecer, Freen. – Senti o tom triste na voz de Nam. - Eu vou fazer o possível e até mesmo o impossível para ir passar esse final de semana com vocês.
- Se eu não conseguir ir no fim de semana, eu vou fazer o necessário para aparecer no meio da semana. – Vi quando meu amigo falou alguma coisa com alguém e entregou um pacote. - As coisas aqui na loja estão uma loucura esses últimos dias…
- Eu entendo, gente. Não precisam se preocupar. – Sorri e ambos negaram com a cabeça. - O importante é que temos vocês.
- E sempre vai ter…
Após Nam dizer aquilo, tivemos que desligar, pois alguém bateu na parte de vidro da porta. Acenei com a mão para que entrasse. Ouvi o pequeno sino que tinha ali em cima tilintar, e um rapaz com um macacão azul e boné para trás entrou com uma caixa grande nas mãos.
- Entrega para a… – Ele parou um pouco atrapalhado e tentou ler o que tinha em cima da caixa. - Senhorita Chankimha.
- Eu mesma. – Ele sorriu e deixou a caixa em cima do balcão.
- Como está esse garotão?
- Comendo mais a cada dia. – Me levantei e fui em direção a um sofá de dois lugares que tinha ao lado de uma grande vidraça na entrada da loja. Deixei meu pequeno ali para que ele terminasse de tomar o seu mingau. - Dessa vez demorou mais.
- Tivemos problemas com os caminhões e atrasamos muitas entregas. – Ele me entregou a prancheta para que eu pudesse assinar o recibo. - Vai querer que eu abra e confira com você?
- Não precisa. – Entreguei a prancheta e fui em direção à caixa. - Se houver algum problema, eu entro em contato. - Ele concordou com a cabeça e saiu depois de acenar para meu filho. Peguei um estilete dentro da gaveta do balcão e abri a caixa com cuidado. Lancei um olhar em direção ao sofá, e meu pequeno estava agarrado à girafa enquanto sugava os últimos vestígios do mingau da mamadeira. Abri a caixa, e o cheiro de livro novo tomou conta do meu nariz. Eu posso dizer que esse é um dos melhores cheiros existentes no mundo.
- Vem com a mamãe. – Falei em direção ao meu filho, e ele virou de barriga para baixo e ficou mexendo as perninhas até conseguir alcançar o chão, fofo. - Trás a mamadeira, não pode deixar aí…
- Mamadeila. – Ele repetiu, e eu sorri. Pegou o objeto e veio andando atrás de mim em um dos corredores. - Livo novo?
- Sim, meu amor, livro novo. – Deixei a caixa no chão e puxei um banquinho baixo para me sentar, já que iria arrumar os livros na prateleira de baixo. - Vai me ajudar?
Ele sentou no chão ao meu lado e deixou a girafa ao seu lado. Peguei alguns livros e fui tirando dos plásticos, arrumando com cuidado. Ele se ajoelhou e tentou tirar um livro pesado da caixa. Fez uma careta para o peso e depois me entregou. Meus dias se resumiam a isso: passar o dia na livraria e de olho no meu filho.
Me chamo Freen Sarocha, tenho 20 anos e sou dona da Big Bookstone. Sou mãe do Matheo Chankimha e moro sozinha desde os meus 17 anos.
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𝑲𝒊𝒔𝒔 𝒎𝒆
FanfictionRebecca queria apenas completar sua coleção de livros da Jojo Moyes, através de uma indicação ela acaba encontrando a pequena livraria de Freen. Tudo começa através de um simples esbarrão.