A tarde já estava chegando ao fim. Então, fui em direção à porta da livraria e tranquei a mesma. Ativei o sistema de alarme que Heng mandou colocar na loja e virei a plaquinha, deixando o nome ‘Closed’ para a rua. Baixei as persianas das vidraças e apaguei as luzes. Caminhei até a porta dos fundos e saí em um pequeno espaço todo gramado com uma casa aos fundos.
Ao entrar no quarto, vi que Matheo estava em pé no berço, com os cabelos bagunçados. Ele abriu um sorriso fofo ao me ver. Fui em sua direção, e ele estendeu os braços para mim. Peguei-o no colo e movimentei meu rosto em seu pescoço, deixando vários beijos ali e cheirando sua pele.
- Faz tempo que você acordou? - perguntei, indo em direção ao banheiro. - A babá eletrônica nem anunciou sua voz. Será que quebrou?
- Mama codei agola - ele disse, sentando-se na pia, enquanto eu observava seu rostinho. - Banhinho?
- Isso mesmo - respondi, segurando seu pijama. Ele ergueu os bracinhos para cima, permitindo que eu o vestisse. - Depois, vai comer e assistir com a mama. Parece bom?
- Palece bom - ele repetiu, sorrindo.
Terminei de retirar suas roupas e dei um banho caprichado no meu pequeno. Depois, o levei enrolado na toalha até o quarto. Sentei-o na cama e fui pegar seu pijama limpo e uma fralda. Durante o dia, eu o deixava sem fralda, ensinando-o a usar o vaso pequeno e baixo que Nam mandou instalar no meu banheiro. À noite, colocava a fralda, pois ele não acordava quando queria fazer xixi. Penteei seus cabelos e o deixei sentadinho assistindo na minha cama enquanto eu tomava meu banho.
Após me arrumar, levei Matheo comigo até a pequena cozinha. Ele ficou na cadeirinha, observando enquanto eu preparava nossa janta. Fiz uma sopa de legumes e alguns croutons assados. Ele adora! Me sentei na mesa e nos servi. Demorei um pouco na cozinha, pois esperei ele comer. Ele esperou esfriar e estava aprendendo a comer sozinho. Assim que terminou, lavei a boquinha dele e fomos até o quarto. Apaguei as luzes e liguei a televisão. Coloquei-o sentadinho e escolhi um desenho para ele assistir.
Peguei meu celular em cima da mesinha ao lado da cama e disquei o número de Nam. Chamou uma, duas, três vezes, e eu já estava prestes a desistir, achando que ela estava ocupada.
- Alô - ouvi a voz dela, e parecia ofegante. - Esqueci o celular na sala e estava lá na cozinha…
- Aconteceu uma coisa hoje mais cedo aqui na livraria - falei sem rodeios.
- O que foi que aconteceu? - notei o tom preocupado em sua voz. - Você foi assaltada? Você e o Theo estão bem?
- Eu não fui assaltada - falei sorrindo, e ouvi o suspiro de alívio dela. - Deus me livre acontecer algo assim comigo…
- E o que foi que aconteceu? - me ajeitei na cama. - Um dia você ainda me mata do coração…
- Uma mulher apareceu hoje aqui na livraria, e eu esbarrei nela sem querer no fim de um dos corredores - ouvi ela fazer um barulho para que eu continuasse a história. - Quando ela me olhou, eu me senti estranha…
- Como assim estranha? Você acha que ela vai fazer alguma coisa com você? - ela perguntou afobada. - Explica isso direito que eu não estou entendendo.
- Não acho que ela vá me fazer nada, acho que não - mordi meu lábio inferior e soltei devagar. - Ela tinha olhos castanhos tão bonitos. Eu quase me perdi olhando para eles, parecia que eu estava em transe, não sei explicar…
- Hummmm - ela praticamente cantou esse “hum” ao telefone. - Vai conhecer o lado bom da vida agora, Freen?
- Como assim? - a risada de Matheo me chamou atenção e eu olhei em direção a televisão e estava passando um episódio de "como treinar seu dragão".
- Você se sentiu atraída por essa mulher Freen - ela disse convicta e eu fiz uma careta - Única explicação possível pra isso que você falou...
- Nam, eu sou hétero - cortei ela antes que finalizasse - Eu
apenas achei ela bonita, isso não tem problema não é? E os olhos dela eram realmente bonitos...- Tem foto? - perguntou rapidamente.
- Como vou ter foto? - perguntei enquanto mexia a mão. - Ela pediu meu número, quer terminar a coleção de livros da Jojo Moyes, e eu me ofereci para ajudar…
- Ela já te mandou mensagem? - neguei com um som nasal.
- Assim que ela mandar, você salva o número e me manda a foto. Quero saber quem está colocando a “heterossexualidade” da minha amiga à prova - senti um leve tom de deboche ali.- Eu não quero namorar com ela ou ficar com ela, Nam - falei e franzi as sobrancelhas. - Para com suas paranóias.
- Vou anotar isso que você falou aqui na minha mente - revirei os olhos. - Mas vou anotar de lápis, sabe…
- Olha, eu vou desligar e dar atenção ao meu filho, já que você resolveu que vai ficar me enchendo com isso. - Eu não estava irritada, só queria mesmo encerrar aquele assunto.
- Dinda! - Matheo gritou ao meu lado e se jogou em meu colo, encostando a cabeça ao lado da minha na intenção de ouvir sua madrinha.
- Não se irrite. Se isso acontecer, eu vou ficar muito orgulhosa da minha neném. - Revirei meus olhos e ouvi ela rindo. - Quem é o bebê mais lindo da dinda Nam, quem é?
Ela falou um pouco com Matheo e, em seguida, eu desliguei a ligação. Assisti alguns episódios do desenho com meu filho; sabia que ele iria demorar um pouco para dormir. Esquentei um pouco de leite e esperei esfriar um pouco para dar ao moreninho. Ele ficou deitado em cima da minha barriga enquanto olhava a televisão e tomava o leite. Eu estava quase cochilando, pois ele tinha uma mania de tomar qualquer coisa na mamadeira e ficar acariciando meu pescoço.
Quando, enfim, ele pegou no sono, eu o levei até o seu berço e desliguei a televisão. Me aconcheguei em meus lençóis e ajustei o despertador do meu celular. Antes de tentar dormir, eu lembrei daqueles olhos. Não é todo dia que podemos ter o privilégio de ver algo tão bonito.
Eu estava realmente com muito sono quando achei que finalmente iria poder dormir. Uma mensagem chegou no meu celular, e eu o peguei para ver quem era.
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𝑲𝒊𝒔𝒔 𝒎𝒆
FanfictionRebecca queria apenas completar sua coleção de livros da Jojo Moyes, através de uma indicação ela acaba encontrando a pequena livraria de Freen. Tudo começa através de um simples esbarrão.