Becky
Uma das coisas que mais gosto de ouvir quando estou chegando em meu trabalho são os passarinhos cantando. Na frente da cafeteria, há três árvores que proporcionam uma sombra maravilhosa. Por isso, coloquei algumas mesas redondas do lado de fora para aproveitar a sombra e o canto dos pássaros.
Assim que cheguei, percebi que o local já estava aberto. Adentrei o estabelecimento e vi que algumas pessoas já estavam tomando café da manhã. Avistei minha amiga e sócia atrás do balcão, mexendo na caixa registradora.
- Nada de corrida matinal hoje? - Ela perguntou assim que me aproximei do balcão.
- Infelizmente, acordei tarde. - Falei com desgosto. Eu gostava de correr um pouco antes de vir trabalhar. - Fiquei lendo ontem à noite e perdi a noção do tempo…
Irin sorriu e negou com a cabeça. Fui até o outro lado do balcão e olhei na direção da cozinha, acenando para os dois funcionários que estavam ali dentro. Peguei o avental de cintura com bolso e amarrei em mim. Ao olhar meu reflexo na vidraça ao meu lado, apertei o nó do lenço que estava amarrando meu cabelo.
- Será que ganho um café reforçado antes de ir trabalhar? - Me virei ao ouvir a voz de Nop. Ele se sentou atrás do balcão e ajeitou o boné em sua cabeça.
- Vai querer maneiro ou reforçado? - Perguntei ao me aproximar e me inclinar sobre o balcão.
- Seja lá o que ele escolher, eu vou querer também. - Noey entrou, ajeitando seu cabelo, e sentou ao lado dele.
- Reunião logo cedo? - Irin perguntou ao sair da cozinha e vir em nossa direção.
- Quero um café reforçado. Hoje o dia será puxado no trabalho. - Meu amigo falou, apoiando-se no balcão. - Quero tudo que tenho direito…
- Vou querer também. - Noey disse sorrindo. - O que eu ganhar aqui eu perco lá no salão ao dançar.
- Ok. - Irin anotou algumas coisas em um bloco e nos deu as costas. - Vou providenciar o café da manhã de vocês e já volto. - Falou por cima do ombro.
Enquanto Irin estava lá dentro, eu atendi algumas pessoas que vinham até o balcão. O meu café funcionava da seguinte forma: as pessoas faziam seus pedidos no balcão, faziam o pagamento e então podiam ir se sentar onde quisessem no local. Eu não tinha garçonetes. Quando resolvi abrir o negócio e chamei Irin para ser minha sócia, resolvemos juntas que iríamos ter esse padrão no negócio: pediu, pagou e levou.
- Prontinho. - Minha amiga deixou a bandeja em cima do balcão com café, ovos mexidos, pães e bolo. - Podem atacar.
- Vi hoje de manhã que ainda está procurando os livros, Becky. - Noey falou enquanto comia um pedaço de bolo e tomava café. - Ainda não conseguiu a coleção?
- Vou fazer um anúncio na rádio. - Nop falou e deixou a xícara em cima do balcão, erguendo as mãos. - “Procura-se livraria que tenha bastante livros da Jojo Moyes, favor entrar em contato.” - Ele fez sua voz de locutor, e eu revirei os olhos.
- Eu só quero completar minha coleção da Jojo, posso? - Enquanto falava, eu fazia um cappuccino cremoso para um cliente na máquina. - Eu fui em poucas livrarias, mas nas poucas que eu fui só tem os livros que eu já tenho dela. Isso é frustrante.
Entreguei o café ao cliente e um prato com bolo e um dos doces da vitrine que ele escolheu. Recebi o pagamento e desejei um bom dia, deixando a notinha espetada no espeto de papel.
- Esses dias eu comprei um livro de receitas em uma livraria a poucas quadras daqui da cafeteria. - Irin passava um pano em cima do balcão. - Gostei bastante de lá. Se você quiser, depois eu te falo o endereço.
- Quero, por favor. - Juntei minhas mãos à frente do meu rosto e fiz um biquinho, o que fez eles rirem. - Eu juro que serei a pessoa mais feliz se conseguir achar esses livros.
- O nome da livraria é Big Bookstore, o que é irônico, já que lá é pequeno. - Ela fez uma careta, e vi que tanto Noey quanto Nop estavam segurando o riso. - Mas eu gostei. É muito aconchegante.
- Dona Irin falando de coisas pequenas, isso é interessante…
Quando Noey falou aquilo, a gente não se aguentou e começamos a rir. Ela bateu o pano que tinha em mãos no braço de Noey, e a mesma apenas continuou rindo.
- Nossa, vocês são tão engraçados. Olha, tô morrendo de rir. - Ela apontou com o indicador em direção à sua boca e saiu para atender alguém que estava na outra ponta do balcão.
- A gente te ama, Cotoco. - Noey falou um pouco alto e se levantou. - Eu já vou indo, Rebecca, o Nop que vai pagar.
Ela saiu com um donut na boca e acenou em nossa direção. Nop quase se engasgou com o café e tentou chamá-la, mas já era tarde. Como sempre, ele pagou a conta e saiu resmungando em direção à saída. Eu neguei com a cabeça e sorri.
Atrás desse balcão, eu já vivi e ouvi muitas coisas. Já ouvi sobre uma saída às escuras que não deu certo, sobre uma traição dias antes de um casamento, jovens que não sabiam como se assumir para os seus pais. Já presenciei primeiros encontros, discussões sobre ciúmes. Todo dia era uma história diferente. Para quem amava ler, aquilo era uma maravilha. Minha cabeça trabalhava sozinha, e os desfechos que eu não podia presenciar, a minha própria cabeça criava.
Irin me deu o endereço da livraria, e eu guardei em meu bolso. Como posso explicar minha paixão pela Jojo Moyes? Eu sempre gostei de ler. Desde pequena, depois que fui crescendo, essa paixão cresceu junto comigo. Li um livro dela que uma colega de faculdade me emprestou. Desde então, descobri que ela tinha outras obras. Quando terminei a faculdade, resolvi que queria todas elas. Uma vez, consegui todos na internet, fiz o pedido e fiquei super ansiosa esperando. Quando chegou e eu abri a caixa, imagina a minha frustração quando vi que tinha tudo ali dentro, menos livros da Jojo.
Quem nunca foi enganado por vendedores online, não é mesmo? Depois disso, fiquei com medo de comprar. Não que eu não compre, mas somente um por vez. Não coleciono livros apenas dela, mas ela até então é minha favorita. Eu não vejo a hora de poder olhar minha prateleira e ter todos os livros dela ali.
Meu nome é Rebecca Armstrong, tenho 23 anos e sou dona do Jauke’s Coffee. Me encontro enrolada com uma garota chamada Heidi, nada sério, apenas alguns encontros aqui e ali. Amo ler e sou uma colecionadora de livros!
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𝑲𝒊𝒔𝒔 𝒎𝒆
FanfictionRebecca queria apenas completar sua coleção de livros da Jojo Moyes, através de uma indicação ela acaba encontrando a pequena livraria de Freen. Tudo começa através de um simples esbarrão.