34.

162 33 30
                                    

Quando Wednesday acordou —sendo honesta nem reparou quando pegou no sono— o céu ainda não estava totalmente claro, o que contribuia para confusão do próprio corpo, o qual seguia cansado. Enid continuava abraçando-a, respirando calmemente em seu pescoço, inteira entregue. Desde as bochechas vermelhas pela temperatura que contrastavam com a pele branca, a boca bem desenhada, até as pernas enroladas nas suas.

"Eu te amo, Wednesday."

Ela arrepiou com a memória e não resistiu ao impulso de levantar da cama com cuidado, cobrir melhor Enid e ir à cozinha em busca de água ou qualquer coisa que distraísse o coração, o qual ameaçava voltar a disparar. Em pé, diante da pia da cozinha americana, encontrou Divina terminando de lavar a louça.

— Uau! Você existe sem tranças! —Exclamou assim que notou a presença dela, secando as mãos.

— Aparentemente sim —Disse tímida e checou a hora. Seis e meia— E você acorda muito cedo.

— Só no primeiro dia do ano. Eu e Yoko temos um ritualzinho desde que começamos a namorar.

— Qual seria?

A garota sorriu, apaixonada.

— Yoko não era assumida quando nos apaixonamos. Não escondia, mas evitava o assunto. Nossa forma de agir como casal em público começou com saídas à noite de dias úteis e manhãs dos finais de semana, quando tem menos movimento. E foi evoluindo. No nosso primeiro ano novo oficialmente juntas ela me convidou pra fazer isso. As ruas estavam lotadas, Wed. E continuamos fazendo.

A Addams sorriu genuinamente comovida.

— Isso é tão... bonito. Onde ela está agora?

Divina apontou com a cabeça para a poltrona em que uma Yoko sonolenta lutava para manter os olhos abertos.

— A ideia é boa, mas não é fácil pra ela.

— Vou jogar outra água no rosto e saímos, amor. Aliás, bom dia, Wed —Disse e se levantou, caminhando até o banheiro.

— Divina, antes de vocês saírem eu... hum... posso te perguntar algo?

— Sim —Afirmou atenta e disposta.

— Como você soube que amava a Yoko?

Outro sorriso, um milhão deles.

— No fundo a gente sempre sabe quando tá começando a amar alguém. Um dia ela tava aprendendo a fazer torta de limão só porque eu estava viciada na época e aí, olhando aquilo, eu... simplesmente aceitei, me dei conta, como quiser chamar.

Epifanias românticas. Já tinha ouvido falar.

— E você... verbalizou?

— Sim. Quase na mesma hora. Ela ficou em choque por alguns segundos mas depois me abraçou e disse de volta algumas centenas de milhares de vezes. Sério, foram dias inteiros dela chegando de repente e dizendo 'te amo namorada'.

Wednesday deu risada. Aquilo era a cara da Yoko. E de Enid. A risada morreu. Havia sido tão diferente...

— Ouvi a Enid dizendo que me amava esta noite —Comentou baixo, quase como um segredo, por puro impulso.

— Sério? E aí? —Questionou animada.

— Eu... não soube reagir. Fechei os olhos e torci pra ela só me abraçar, não ficar chateada. Deu certo, mas eu me sinto horrível.

— Você acha que não é recíproco?

— Sobre isso eu não tenho dúvidas, mas nunca disse que amava alguém. Não sou acostumada com a ideia do amor em geral, verbaliza-lo parece assustador.

What was I made for? • WenclairOnde histórias criam vida. Descubra agora