Quando Wednesday acordou —sendo honesta nem reparou quando pegou no sono— o céu ainda não estava totalmente claro, o que contribuia para confusão do próprio corpo, o qual seguia cansado. Enid continuava abraçando-a, respirando calmemente em seu pescoço, inteira entregue. Desde as bochechas vermelhas pela temperatura que contrastavam com a pele branca, a boca bem desenhada, até as pernas enroladas nas suas.
"Eu te amo, Wednesday."
Ela arrepiou com a memória e não resistiu ao impulso de levantar da cama com cuidado, cobrir melhor Enid e ir à cozinha em busca de água ou qualquer coisa que distraísse o coração, o qual ameaçava voltar a disparar. Em pé, diante da pia da cozinha americana, encontrou Divina terminando de lavar a louça.
— Uau! Você existe sem tranças! —Exclamou assim que notou a presença dela, secando as mãos.
— Aparentemente sim —Disse tímida e checou a hora. Seis e meia— E você acorda muito cedo.
— Só no primeiro dia do ano. Eu e Yoko temos um ritualzinho desde que começamos a namorar.
— Qual seria?
A garota sorriu, apaixonada.
— Yoko não era assumida quando nos apaixonamos. Não escondia, mas evitava o assunto. Nossa forma de agir como casal em público começou com saídas à noite de dias úteis e manhãs dos finais de semana, quando tem menos movimento. E foi evoluindo. No nosso primeiro ano novo oficialmente juntas ela me convidou pra fazer isso. As ruas estavam lotadas, Wed. E continuamos fazendo.
A Addams sorriu genuinamente comovida.
— Isso é tão... bonito. Onde ela está agora?
Divina apontou com a cabeça para a poltrona em que uma Yoko sonolenta lutava para manter os olhos abertos.
— A ideia é boa, mas não é fácil pra ela.
— Vou jogar outra água no rosto e saímos, amor. Aliás, bom dia, Wed —Disse e se levantou, caminhando até o banheiro.
— Divina, antes de vocês saírem eu... hum... posso te perguntar algo?
— Sim —Afirmou atenta e disposta.
— Como você soube que amava a Yoko?
Outro sorriso, um milhão deles.
— No fundo a gente sempre sabe quando tá começando a amar alguém. Um dia ela tava aprendendo a fazer torta de limão só porque eu estava viciada na época e aí, olhando aquilo, eu... simplesmente aceitei, me dei conta, como quiser chamar.
Epifanias românticas. Já tinha ouvido falar.
— E você... verbalizou?
— Sim. Quase na mesma hora. Ela ficou em choque por alguns segundos mas depois me abraçou e disse de volta algumas centenas de milhares de vezes. Sério, foram dias inteiros dela chegando de repente e dizendo 'te amo namorada'.
Wednesday deu risada. Aquilo era a cara da Yoko. E de Enid. A risada morreu. Havia sido tão diferente...
— Ouvi a Enid dizendo que me amava esta noite —Comentou baixo, quase como um segredo, por puro impulso.
— Sério? E aí? —Questionou animada.
— Eu... não soube reagir. Fechei os olhos e torci pra ela só me abraçar, não ficar chateada. Deu certo, mas eu me sinto horrível.
— Você acha que não é recíproco?
— Sobre isso eu não tenho dúvidas, mas nunca disse que amava alguém. Não sou acostumada com a ideia do amor em geral, verbaliza-lo parece assustador.
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What was I made for? • Wenclair
FanfictionWednesday Addams costumava aceitar sem pestanejar, mesmo que isso significasse fazer algo contra a própria vontade. Tal fato era vantajoso para os seus pais, os quais sempre tomavam a frente de todas as, teoricamente suas, decisões: Qual era o "namo...