T4 C15: Algo Mais.

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ANTES.

— PAAAI!!!

O grito de Isaac ecoa no pátio dominado pelas dezenas de mortos assim que ele vê Lucio desabar do muro e cair no chão com os zumbis à sua volta. Os putrefatos não perdem tempo, grunhem agitados com a oportunidade de se alimentar e se lançam sobre o baleado puxando a carne de seus ossos com os dentes afiados enquanto as mãos rasgam o corpo. Petrificado, Isaac assiste o pai ser devorado vivo e sumir no meio do bolo de errantes. Seu grito atraiu as criaturas que passaram a tê-lo como alvo também. Ele reage abatendo dois com a faca e desviando do terceiro na sequência.

Em meio ao sangue que espirra para todos os lados a cada facada, Isaac tenta chegar até o ponto em que seu pai caiu do muro, porém a quantidade de zumbis no seu caminho é um grande obstáculo. Tudo parece ficar em câmera lenta diante dos seus olhos. Os zumbis atacam em bando e ele resiste empurrando alguns e liquidando outros. A raiva e a dor são seu combustível fazendo com que ele não pare.

A lua clareia os movimentos de ataque de Isaac e os rostos pálidos e deformados dos mortos. A faca corta o ar a cada golpe. Os olhos de Isaac queimam com a determinação feroz, mistura de ódio e dor. O som do metal contra as carnes podres e os gemidos grotescos chegam a ser angustiantes. Ele desvia do avanço da loira pela esquerda e ao levantar já abate o grandalhão na frente.

O tiroteio no lado de fora atrai a atenção de alguns dos mortos. A determinação das criaturas não é maior que a de Isaac, entretanto há uma diferença que estabelece a desvantagem dele em relação aos mortos: as limitações físicas de um corpo humano vivo. A exaustão faz com que ele fuja do centro do pátio evitando ficar no meio da roda de mortos-vivos e escale uma das pilastras de sustentação do telhado em frente a porta de entrada do colégio. Isaac desaba em frente ao letreiro apagado escrito Hilleska enquanto os zumbis abaixo esticam os braços e rosnam em sua direção.

》》》

Desolado debaixo da forte chuva, Isaac vê a água levar embora o sangue de suas roupas e os mortos agora espalhados pelo pátio depois de terem perdido o interesse nele. A escuridão da noite é clareada em alguns momentos pelos relâmpagos que tomam o céu. Em um desses clarões, ele vê aquela figura que antes era seu pai, mas agora se resume apenas a um corpo dilacerado rastejando no chão.

A visão faz seu coração já partido em pedaços doer ainda mais. O rapaz abraça os joelhos e chora copiosamente por um bom tempo, sozinho no telhado. Chega a perder a noção do tempo, mas como se tivesse um estalo súbito de consciência fica de pé com a faca na mão direita e olha para o único carro que restara.

Pula para o chão e antes que os zumbis percebam corre para o veículo já puxando a maçaneta e abrindo a porta. Não entra de imediato, fica parado olhando fixamente na direção de Lucio transformado rastejando até ele. Nesse meio tempo um dos errantes nota sua presença novamente e urra alertando os demais.

Isaac entra no carro e bate a porta. O veículo começa a ser cercado rapidamente e ele busca pela chave encontrando-a no quebra sol. Leva até a ignição e dá partida afundando o pé no acelerador e atropelando os corpos podres no caminho saindo de Hilleska. Vê os homens de Frankie mortos no exterior, alguns transformados e seus veículos largados no outro lado da estrada.

AGORA.

João e Bruna se ajoelham em uma clareira no meio da mata e com as mãos ainda trêmulas e olhos marejados começam a cavar juntos, cercados pelo silêncio solene da natureza. A terra úmida se aglomera sob suas unhas à medida que os dedos puxam montes consideráveis e quando o buraco se aprofunda o suficiente erguem o corpo de Samuel com cuidado e o posicionam dentro dele. Bruna toca pela última vez a face gélida do menino e volta a chorar. Jamais pensou que fosse capaz de sentir uma dor tão intensa quanto a que experiência com a partida precoce e trágica da criança.

Zumbis: O Começo do Fim (HIATUS)Onde histórias criam vida. Descubra agora