'Abra'cadabra!

229 23 20
                                    

PERTO DA PRÓXIMA cidade, vejo entre as árvores uma estreita trilha que quase se fecha, pois as grossas raízes e finos galhos das árvores por vezes se entrelaçavam entre si. Com os cantos dos olhos, noto Budew atrás de mim. Olho para a trilha novamente e desato a correr para dentro dela como um louco fugindo de um gigantesco Pokémon selvagem. Tropeço nas raízes e caio de joelhos; a calça acaba rasgando. Quando olho meus joelhos, vejo que estão sangrando e sujos de terra úmida. Ainda ouço Budew em algum lugar ao redor - incansável como sempre. Levanto com as pernas um pouco bambas e retomo numa lenta caminhada, para aos poucos ir aumentando a velocidade.

Chega uma hora que não ouço mais nada, então me direciono para fora da floresta, para a rota. Antes de sair novamente no caminho para a próxima cidade, no chão, entre duas árvores, noto um buraco fundo, como o que tinha caído. Só que este está coberto com uma rede e um amontoado de folhas para disfarçar uma... armadilha? É uma armadilha, não há dúvidas. Dou de ombros e depois de alguns minutos, encontro a rota.

Não cheguo a dar três passos no chão de terra batida, quando ouço gritos suplicantes vindo de dentro da floresta. Primeiro eram só gritinhos agudos, mas aos poucos vou reconhecendo o dono da voz: Budew. Ele deve estar em apuros. Meu coração dói e parece cair alguns centímetros de meu peito. Sem pensar duas vezes, corro de volta para dentro da floresta, às cegas, por entre o matagal, guiado apenas pelos gritos que ficam cada vez mais altos.

Em certo momento saio numa clareira e vejo duas pessoas de costas para mim, rindo de algo que acontece na frente deles. Por parar bruscamente a corrida, o pó do chão sobe e entra em minha garganta, já que tinha suspirado à procura de ar. Com dificuldade, seguro a tosse. Meus olhos se enchem de água, minha garganta coça e arranha, como se garras a ferissem. Trinco os dentes, pensando que a dupla me notou, mas continuam se divertindo com o espetáculo que se sucede.

A mulher têm cabelos longos e prateados e o homem usa um penteado bizarro para trás. Vestem o mesmo esquema de roupa: uma curta jaqueta branca usada por cima de uma camisa preta com detalhes quase apagados em vermelho e laranja que lembram uma brasa que a qualquer momento pode reacender. Nos pés, botas e nas mãos, luvas pretas. A única diferença é que o homem usa calças brancas, largas como um balão, e a mulher, uma saia branca tão apertada que dá a sensação de que a qualquer momento poder se rasgar.

Engulo em seco e entendo do que riem. Um Sneasel batalha com um Budew que mal se aguenta de pé. Não pode ser!

O cara, vendo uma brecha na batalha, corre e dá um chute violento no pequeno Pokémon que sai do chão por alguns centímetros até cair novamente, tremendo. Meu sangue sobe e corro para ajudá-lo.

Quando chego perto da dupla, grito e os empurro para o lado. Sneasel não me para, fica esperando uma ordem de seu dono que provavelmente está embasbacado. Pego Budew nos braços e sumo entre as árvores. Faço um caminho seguro para não voltar a encontrar os desconhecidos, sem parar nem para tomar ar. Meu peito parece querer explodir por estar sem oxigênio, até que saio de novo na rota.

Não é por isso que paro; continuo a correr. A próxima cidade não está à vista. Droga! Calculei errado a distância! Entre as árvores, há uma grande construção feita de aço com o teto abobadado e portas arredondadas que estão arreganhadas. Corro para lá, na esperança de encontrar alguém para pedir ajuda.

Entro desesperado e descubro que o lugar está abandonado. Não tem ninguém aqui. Parece um armazém. Ouço atrás de mim uma risada gutural e medonha. Viro e ali está o homem bizarro. Seu nariz é grande com a ponta virada para baixo. Parece o bico de um Murkrow, mas o do cara consegue ser mais fino. Em sua camisa há um R estampado. Bordado em miniatura no lado esquerdo da jaqueta, há também a mesma letra. Já ouvi falar desse grupo que acabara de se instalar em algum lugar misterioso da região Toran, mas tudo não passou de rumores e infelizmente agora, eu presencio a terrível verdade de sua existência.

O Verdadeiro Mundo PokémonOnde histórias criam vida. Descubra agora