Acho que são Amigos

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"...TEMPO DEMAIS.", diz alguém. A impressão que tenho é que a voz está bem longe de mim, ela parece até fazer eco. Conheço aquela voz de algum lugar. Ela diz mais coisas, mas não consigo entender, o som de sua voz vai e vem, sai e entra em foco. Estou voltando a entrar em consciência, mas as vozes ao meu redor são difíceis e incompletas peças de quebra-cabeça. Abrir os olhos é tarefa impossível; não sinto meu corpo, que parece inexistir. Tenho a sensação de que tudo que sobrou de mim foi só metade da consciência.

As vozes, com suas frases indecifráveis, continuam tagarelando. Parecem fantasmas que sussurram várias coisas das quais eu só compreendo pouquíssimas. "Não precisa disso...", diz outra pessoa. "...e o que você sugere?", pergunta a primeira. "...assim não é bom..."; "...um tapa forte..."; "...assustá-lo..."; "...mas ele acorda!"

Não sei o que me assustou primeiro: a dor intensa e aguda que sofri na parte esquerda do rosto, ou o barulho que ribombou nos meus ouvidos no mesmo instante. Levanto sobressaltado, com o coração doendo de tão assustado. Noto que um peso que estava em cima de mim, caíra para o lado com um estrondo por eu ter levantado tão repentinamente. Minha mente está confusa, mas aos poucos compreendo que aquele corpo espalhado de forma tão desengonçada no chão é a garota que tentou me salvar dos Rocket. Estou em cima de uma cama, por isso que ela caiu seguida do estrondo. O lugar onde estamos é bem iluminado e consigo ver melhor como a minha salvadora é. Uma espécie de boina encima sua cabeça, deixando escapar várias mechas onduladas de cabelo loiro escuro, que se espalham pelos seus ombros e costas. É branca e magra. Veste shorts jeans agarrados; as mangas de um pulôver grande demais cobrem parte de suas delicadas mãos, e um par de botas pretas e reluzentes cobrem seus pés.

- Ai! Não precisava me jogar assim no chão! - resmunga ela, se levantando. - Eu apenas te dei uma força para que conseguisse acordar!

Minha bochecha esquerda arde e formiga. Eu não sinto meu rosto no lado atingido.

- Uh! O que voxê feix comigo? - tento perguntar, incrédulo, mas minha boca não se mexe da forma correta.

- Bom, ela te deu um belo de um tapa - responde uma voz divertida, ao meu lado. – Pelo menos em parte deu certo, veja só! Você finalmente acordou.

Viro e me deparo com um garoto de pele oliva. Suas bochechas são um pouco rechonchudas; seus cabelos levemente ondulados são pretos como carvão e foram jogados para o alto. Usa blusa de moletom, calça jeans e um tênis bizarro que têm asas de plástico coladas nos calcanhares.

- Claro. Deve estar se perguntando o que está acontecendo – continua ele. – Eu sou Benjamin Walker, mas pode me chamar de Ben.

- E eu sou Lucy – se apresenta a garota, ajeitando a boina na cabeça. – Você está desacordado há três dias! Não aguentava mais esperar. Tive que tomar as devidas providências!

Fico olhando para eles, esperando que continuem.

- Ah, sim! Vou te contar tudo. Pelo menos até onde sei – fala Bem, com um sorriso.

Ele começa dizendo que estava procurando por Lucy que tinha saído correndo dizendo que o dever a chamava . Lucy, por sua vez, revelou agora que já tinha visto os dois Rocket e foi atrás deles para ver o que estavam tramando. Ben, num certo momento, viu uma dupla, que usava uniforme igual, saindo de um armazém. Se escondeu, pois já tinha ouvido falar daquele grupo, e assim que eles sumiram de vista, foi procurar dentro do armazém para saber se a salvadora estava ali. Assim que me viu, correu direto na minha direção e me tirou do meio da neve. Disse que eu estava roxo e que com a ajuda de seu Cyndaquil, conseguiu manter o local quente o suficiente para que minha temperatura se regulasse. Achou Lucy entre as caixas e juntos me levaram até onde estamos agora.

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