Prólogo - Em Apuros

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O CERTO SERIA COMEÇAR me apresentando, como a maioria das histórias contadas em primeira pessoa acontece. Mas estou em sérios apuros. Como posso lembrar-me de apresentações, quando a única coisa que sinto são os frios dedos do medo que apertam com violência minhas entranhas?

Corro - mesmo sabendo que não tenho escapatória -, com um pequeno Pokémon verde envolto em meus braços. Ele está todo ferido. Foram aqueles malditos que o machucaram tanto! Não deixarei que aqueles bandidos façam o que quer que seja contra esta pobre criatura.

Faço o que posso para desviar das prateleiras abarrotadas de pesadas caixas de papelão, mas com toda a adrenalina, eu mais pareço um touro que se debate para tentar fugir, já que meus braços, pernas e quadris sempre se encontram com as diversas quinas de metal das prateleiras e das caixas. Aqui estou eu: a caça correndo dos predadores, dentro de um armazém.

Viro um corredor e - para minha desgraça -, reparo tarde demais que é sem saída, mas ainda assim corro para o seu fim, na vã esperança deles passarem direto e não me verem.

Em vão, pois estão logo atrás de mim, ofegantes e com um sorriso sinistro no rosto. Jogam-me com uma tremenda força contra a parede e bato minha testa. Após o barulho oco retumbar pelo meu corpo inteiro, sinto a dor se espalhar por toda minha cabeça. A visão fica turva e a tontura não tarda. Logo, como um boneco inanimado, caio involuntariamente no chão.

Como se não bastasse o fato de estar acuado, o Pokémon que seguro em meus braços está esgotado. Neste momento, um cara assustador - com um cabelo bizarro ensopado de gel, penteado para trás e com os fios da nuca superespetados -, me olha de forma ameaçadora, como se a qualquer momento, com uma única ordem que der a seu Sneasel, seu maldito Pokémon possa, simplesmente, me decepar em menos de um segundo com suas afiadíssimas garras.

Uma mulher ao lado do cara ameaçador, ri descontroladamente. Parece que não se diverte dessa forma há muito tempo. Ela tem um cabelo escorrido gigante, onde seus fios batem na altura da parte de trás de seus joelhos e suas mechas variam do branco ao prateado conforme a pouca luz do local bate em suas madeixas.

Meu estômago ainda dói de um chute que levei do panaca sinistro. Minhas pernas e dentes tremem de medo; minha cabeça parece que, a qualquer momento, explodirá de tanta dor; sinto cada batimento cardíaco ribombar em minhas têmporas. Penso apenas em como será minha morte se não sair urgentemente dessa infeliz situação.

- E então, Jeremy... Adoro ver essa expressão de puro terror no rosto desses pequenos pirralhos - diz a mulher para o outro. - Mas vamos logo acabar com isto. Quero que teu Pokémon deixe esse prematuro rostinho do garoto o mais irreconhecível possível.

Sinto o sangue de meu rosto sumir. Entro em pânico e meu lábio inferior treme tanto que o mordo para que se aquiete.

- Não precisa dizer isto como se fosse uma ordem, você sabe muito bem que só acato ordens do chefe - responde o homem, carrancudo. - Mas pode deixar, Jane. Será como fazer uma obra de arte de incrível desfiguração na cara do moleque.

Mesmo com tudo que se passa na minha frente, uma parte de meu cérebro guarda os nomes dos dois: o homem se chama Jeremy e a mulher Jane.

Uma gota de suor frio escorre de minha testa e para na altura de minha bochecha. Automaticamente, passo os dedos nela para secá-la. Com o tato, reparo que o suor está um tanto pegajoso. Olho para meus dedos molhados e - com um choque -, compreendo que me enganei. Esse líquido não é suor... Meus dedos estão manchados com sangue! Minha testa deve ter aberto um corte depois de se encontrar com a parede.

Jane agarra meus cabelos com força, parecendo querer arrancá-los e sussurra entre dentes, no meu ouvido:

- E aí? Pronto para morrer, pequeno insolente?!

Sério, quem diria que a minha patética vida pacata se transformaria nesse pandemônio todo, e que a minha pequena aventura duraria tão pouco tempo.

Pensar que saí de casa à procura de uma possível cura para minha mãe e acabei me metendo nessa enrascada toda, por causa de um Pokémon... Ha-ha, que engraçado! O destino só pode estar de brincadeira!

Meu inconsciente começa a lembrar de como acabei parando aqui, nesta terrível situação...


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