A GIGANTE DUNA de areia olhava furiosa para mim. Meus joelhos começaram a vacilar.
Tudo bem, é só um Sandile, pensei, mas ainda assim me virei e corri para o outro lado, pra longe daquilo. Não adiantou, outra gigante apareceu na minha frente. Parei e corri para o lado. Outra surgiu. Derrapei e quase caí no chão — o coração querendo sair pela boca; corri para o outro lado. Mais uma apareceu. Cercado pelas quatro dunas furiosas, não tinha pra onde fugir.
Elas rugiram e o som combinado quase fez meus tímpanos explodirem. Mal vi o momento em que se lançaram rapidamente sobre mim. Meu corpo foi levado bruscamente para as direções que aquele mar de areia tomava, me sufocando. A areia entrava na minha boca, olhos e nariz e eles ardiam como nunca. Foi quando comecei a gritar.
— Calma cara, não precisa gritar só por estar sendo preso — era Vector quem falava. Ele segurava minhas mãos para trás, me imobilizando.
As grades à nossa frente se abriram automaticamente e Vector me lançou lá pra dentro, fechando logo em seguida. Ele soltou um riso diabólico enquanto subia as escadas. Me segurei nas grades e senti o rosto molhado pelas lágrimas de desespero.
— Não, por favor! Não me deixe aqui sozinho! Eu tenho que sair daqui para ajudar minha mãe...
ACORDO COM AQUELA SENSAÇÃO de estar querendo chorar e me seguro para realmente não fazer isso. Estamos deitados em nossos lençóis estirados no pátio do Centro Pokémon, já que o local ficou superlotado depois do que aconteceu ontem.
Decido deixar meus amigos e saio para olhar o dia. O fraco sol se esconde atrás das nuvens cinzentas e da neblina. O clima está até mesmo frio. O ventinho gelado bate fracamente nos galhos das árvores da praça e balança as folhas. Um casulo verde está pendurado em um desses galhos. A árvore que foi queimada ontem está feia e seca. Esfrego as mãos nos braços para esquentá-los. Estranho como o tempo mudou bruscamente de ontem pra hoje.
Preciso arranjar um jeito de tirar Vector da prisão, mas não faço a menor ideia de como conseguirei isso. Deixei isso para hoje, assim que entrar a madrugada pra amanhã, pois além de me dar um tempo à mais para pensar, o posto policial vai estar menos congestionado de pessoas que ainda devem apinhar o lugar neste exato momento.
Desço a escada leste, a que aponta para a direção de Luvander. Chegando lá em baixo, uma cena curiosa acontece. Um Arbok persegue sua presa: um Pokémon que nunca vi, nem ouvi alguém mencionar. Ele é quadrúpede e dois chifres negros encimam sua cabeça; o que parece uma moita muito verde e densa, cobre seu pescoço. Acima de seus cascos laranjas, a penugem muda do branco ao marrom. A região inferior de seu rosto é de pelos brancos também e o focinho é negro como o breu.
Decidido à ajudar o pequeno, tiro a Pokébola de Roselia do bolso e levo meu braço pra trás, para dar impulso na hora do lançamento, mas alguém segura meu braço. É Brutus, o dono do bar que os Parricidas tocaram ontem.
— Não precisa fazer isso. É a lei da natureza — ele dá uma pausa. — Arbok precisa se alimentar.
Olho para Brutus e ele abaixa meu braço.
— Não é por isso que eu preciso ver isso, Brutus — murmuro e me viro para voltar pra cidade.
— Calma, calma... Olhe só — ele me segura e me faz olhar novamente a perseguição. — Às vezes a natureza nos surpreende. Aliás, pode me chamar de Marcelo. Me colocaram o apelido de Brutus por causa de meu jeito durão, mas faço tudo isso só pra não juntar muitos folgados na minha cola.
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O Verdadeiro Mundo Pokémon
AdventureE se o Mundo Pokémon não for como você imagina? Falo com convicção e razão quando digo que ele não é como a maioria das pessoas pensam. Também, com toda essa falsa mídia criando desenhos animados e HQs que retratam um lugar que parece ser tão atrati...