Capítulo 82

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Capítulo 82 ― Oitenta e dois.

Anastácia is attacked by the dead.

Anastácia se virou tentando voltar a dormir, mas sentia que aquilo seria em vão.

Em seus ouvidos conseguia ouvir sussurros de vozes que ela deixou de ouvir há séculos atrás. Sua mente repassava várias situações que passou na guerra hyberniana, pensou nos rostos que viu enquanto trazia consolo e tentava diminuir a dor daqueles que a partida era iminente.

Abriu os olhos quando pareceu ouvir um grito ecoar dentro de sua própria mente e se sentou rapidamente na cama antes de levantar, estava suada e abriu sua janela em busca de ar. Queria pedir para alguém ficar vigiando o cemitério de Illyria, mas tinha certeza quase absoluta que todos iriam rir da cara dela por tentar proteger os mortos sem nem saber o que podia acontecer para eles.

O dia logo estava amanhecendo como ela pode perceber e deixou um suspiro escapar ao ver que tinha passado mais uma noite sem conseguir dormir. Desde que tinha voltado da corte Diurna, Ana estava enfrentando algumas dificuldades para dormir e não entendia o motivo, talvez fosse os sonhos que vinha tendo com as vítimas da guerra que tinha salvado de uma morte dolorida.

Parecia que estavam voltando para assombrá-la.

Deixou a escova cair contra a pia quando pensou no que aquilo podia ser.

Talvez estivessem tentando lhe avisar de alguma coisa, mas não sabia se podia ser somente seu subconsciente agindo ou se de fato os espíritos tentavam lhe avisar algo.

― Não, não pode ser possível. ― Ana murmurou cuspindo a água na pia. ― Assim vou ficar louca. ― Resmungou antes de sair do banheiro após arrumar seu cabelo.

Ela preferiu sair pela janela de seu quarto e logo alçou voo, não estava com fome naquele início de manhã e preferiu seguir para o cemitério. Rhysand tinha pegado a lista que tinha feito quando lhe ajudou a ver os túmulos e tinha sumido com ela, imaginava que talvez Azriel estivesse fazendo algo.

Ou ele teria entregado a tarefa para Nuala e Cerridwen fazerem alguma coisa.

Tinha percebido que Azriel parecia estar sempre por perto em Illyria desde que ela tinha voltado, talvez ele tivesse trocado algumas tarefas junto de Cassian e Ana conseguia perceber que as sombras dele também estavam sobre o lugar e tentavam chegar até suas próprias. Deixou um suspiro escapar e girou seu corpo em meio ao voo observando o céu e passando por algumas nuvens enquanto pensava no espião da corte.

Podia perceber que Azriel tinha mesmo sentimentos por si e não eram somente de admiração. Ele estava apaixonado pela princesa da corte e Ana quase podia sentir aquilo junto de seu poder, havia confirmado sua suspeita pela preocupação excessiva que ele demonstrava consigo e sua segurança.

Era amor.

Talvez ele quisesse lhe admirar de longe e não investir com medo de sua resposta, mas Anastácia sabia que deveria conversar com ele sobre aquilo.

Ao virar seu corpo mais uma vez e ver que estava acima do cemitério, Ana ofegou quando reconheceu um illyriano vasculhando um túmulo naquele dia tão nublado e usou seu poder emitindo um raio dourado junto do sifão de sua mão assustando o homem enquanto seu corpo descia girando antes de seu soco atingir aquele desconhecido.

― Porra! ― Ele exclamou.

― O que caralho você está fazendo, Mattew? ― Anastácia o reconheceu. ― Deu para assaltar o túmulo de seus irmãos?

― Estou apenas atrás das cinzas, nada que você deva se importar. ― Ele tinha o lábio cortado.

― Você sumiu por meses e então aparece para isso? Francamente. ― A illyriana rapidamente se aproximou dele e desviou de seu soco. ― Vai mesmo tentar brigar com alguém superior?

― Você é uma maldita... Você quem deveria ter morrido. ― Ele não escondeu seu ódio e quando Ana se virou para evitar seu chute, ele a surpreendeu lhe atingindo com uma pedra do túmulo na região do peito e conseguindo lhe derrubar com uma rasteira. ― Você deveria ter morrido! ― Gritou antes de sair correndo.

As sombras foram ágeis seguindo o comando dos dedos de Ana enquanto ela se levantava tossindo e tratou de perseguir aquele illyriano. Mattew era um rebelde que raramente gostava de treinar e parecia querer aproveitar a vida apenas gastando o dinheiro dos pais idosos junto de seu irmão mais velho, dois vagabundos que não davam certo em posição alguma dentro do exército e já tinham sido expulsos de todas as legiões pelo mau comportamento.

Quando as sombras conseguiram imobilizar aquele que estavam perseguindo, Anastácia foi atingida com um chute no rosto e seu pescoço foi segurado com força lhe deixando sem ar quase no mesmo instante.

― Mathias, você também... ― Reconheceu o mais velho dos dois irmãos e ele sorriu exibindo seus dentes podres.

― Parece que há um milagre mesmo após voltar, irmãozinho, nós podemos matar aquela que nos matou. ― Anastácia tentou lhe atingir com um chute enquanto ele a imobilizou.

― Matei? ― Anastácia franziu o cenho e tentou usar seu poder procurando o medo daquele homem, mas não encontrou nada.

Ana acabou focando sua atenção no coração de Mathias e franziu o cenho quando não ouviu som algum e conseguiu perceber que os pulmões dele também não expandiam mostrando que não respirava mais.

― Você está morto... ― Ana acabou sussurrando sentindo o aroma de barro misturado com cinzas de túmulos.

― Por culpa de quem? Sua maldita, você está nos impedindo! As coisas vão melhorar em Illyria depois que morrer, por isso voltamos à vida. ― Mattew dizia enquanto o irmão continuava a lhe enforcar.

― Meninas! ― Ana conseguiu gritar pelas sombras.

"Oco, oco, corpo oco."

"Sem vida, não respira."

Anastácia segurou as bochechas de Mathias forçando sua maxila e sua mandíbula a expandir conforme apertava aquela região e conseguiu ver os finos rasgos que surgia.

― Não pode ser. ― Ela murmurou enquanto ele grunhiu. ― Agora! ― Deu a permissão de suas sombras e ela foi jogada contra uma árvore.

Não viu quando Mathias foi tomado por suas sombras e destruído de dentro para fora sendo partido como um vaso de cerâmica até voltar ao barro junto de ossos e ir ao chão.

― Não! ― Mattew ainda tentou gritar, mas Anastácia correu ao encontro dele e segurou seu braço quando ele tentou lhe dar um soco. ― Sua maldita! Não entende que tudo ficará melhor quando você morrer? Você devia me escutar! ― Ele disse antes de gritar quando ela apertou forte o suficiente para que o membro se rompesse e virasse barro.

― Desculpe, eu não falo a língua dos mortos. ― Anastácia resmungou e segurou sua cabeça até que ela se partisse.

Era óbvio que Viktor já estava no território da corte Noturna, mas não entendia o que ele podia estar querendo ao ficar ali.

Sabia que as bruxas jamais ajudariam um forasteiro e principalmente alguém que não tivesse sangue illyriano, não podia entender o que tinham para oferecer a alguém de outra corte e especialmente alguém tão poderoso como ele estava parecendo ser.

Anastácia se assustou quando as sombras caíram ao seu lado intactas e parecendo congeladas sem reação alguma.

― Meninas? O que aconteceu? ― Ana se aproximou delas e parou quando ouviu uma risada desconhecida para si.

Ela pode sentir uma presença que nunca tinha sentido antes, algo maligno que conseguia lhe deixar desconfortável mesmo que não estivesse encarando aquele ser. Anastácia tentou se virar rapidamente erguendo sua espada e foi atingida por um forte soco no nariz e recebeu um chute na região do estômago fazendo o corpo girar em uma cambalhota antes de cair no chão.

Enxergou vermelho quando abriu os olhos por alguns segundos e grunhiu.

"Ana! Senhora! O que aconteceu?!"

As sombras rondaram seu corpo rapidamente e ela se sentou devagar antes de se observar sentindo seu nariz latejando como nunca enquanto o sangue escorria por ele de forma abundante, talvez por isso tenha enxergado a cor logo após receber o golpe.

― Procurem quem fez isso comigo, por favor, rápido! ― Deu a ordem para suas sombras e logo todas se afastaram em busca daquele que feriu a princesa.

Apoiou os cotovelos contra os joelhos e tentou entender o que havia acontecido consigo mesmo que sentia sua mente embaçada. Tinha voado até o cemitério e visto algo em um dos túmulos, mas o que podia ser?

Tinha de fato visto alguma coisa e a dispersou com seu poder dourado e encarou seu sifão tentando se lembrar do que havia acontecido, como tinha chegado até ali se o túmulo estava do lado oposto?

― Estamos perdendo alguma coisa. ― Anastácia resmungou podia sentir que suas sombras estavam bravas com o que estava faltando, como se elas também não tivessem aquela memória.

Os olhos de Ana observavam cada folha no chão reparando que aos poucos começavam a se tornar um pouco mais alaranjadas e rapidamente segurou aquela sombra que percebeu que não era sua.

Bem que tinha percebido uma delas chegando atrasada e tentando ficar infiltrada junto das outras.

― Diga ao seu encantador que eu estou bem e se ele exigir que alguma de vocês me siga novamente, eu vou chutar a bunda dele até meu pé quebrar. ― Ela disse antes de arremessar a pobrezinha para longe. ― Que inferno, ainda tenho que aguentar isso.

"Ele gosta de você, ele gosta de você!"

"Temos que contar ao grão senhor do dia!"

― O inferno que vão contar! ― Ana passou a mão no ar dispersando suas próprias sombras enquanto elas riam de si. ― Ele apenas vai dizer que sabia e que estava certo o tempo todo.

Ainda não tinha entendido o que havia acontecido, mas esperava descobrir logo.

Ainda não tinha entendido o que havia acontecido, mas esperava descobrir logo

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A Court Of Loss And Love (Helion)Onde histórias criam vida. Descubra agora