ACOTAR
Anastácia não almejava muito em sua vida desde que tinha nascido apesar de ter sido a herdeira direta da corte por anos até o nascimento de seu irmão. Ela não almejava encontrar um amor fora do território illyriano e conseguir encontrar uma f...
Capítulo 102 ― Cento e dois. Anastácia sees her parents again. Anastácia se jogou na cama sentindo os músculos levemente doloridos após ter feito alguns agachamentos e abdominais antes de deitar, pretendia tomar um banho quente e apesar da temperatura da água quase queimando sua pele reparou que ele não tinha lhe ajudado e seu corpo pedia por um descanso.
― Como puderam ter feito isso comigo? ― Ana murmurou sentindo a brisa fresca que vinha da janela aberta.
Levou uma das mãos ao próprio peito e sentiu o coração doer de forma incômoda enquanto pensava na população da Diurna, poderia talvez ter sido fingimento de todos?
Até mesmo os animais pareciam lhe respeitar e gostavam da presença dela junto das sombras ao redor de seu corpo. Enquanto observava os desenhos feitos no teto vendo que as tintas combinavam enquanto as linhas se entrelaçavam.
Pensou nos pégasus e lembrou da pelúcia que tinha e da conversa que teve com a mãe, Diana lhe contava empolgada sobre eles falando que os animais compunham o exército da corte Diurna e os olhos de Ana brilharam quando os conheceu pela primeira vez com Helion pedindo para que todos fossem mansos deixando claro que ela não machucaria ninguém.
Eles eram extremamente dóceis e obedientes ao grão senhor, eram mimados com maçãs a todo momento e sabia que eles apareceriam com toda a intensidade que tinham caso a grande Guerra durasse mais tempo do que todos imaginavam, eles eram fortes e ajudariam com a resistência da Diurna e voariam juntos os illyrianos.
Rhysand comentou consigo que Hybern havia atacado poucos meses antes de seu retorno e uma guerra nova tinha acontecido. Imaginava se os pégasus tinham lutado dessa vez junto de Helion e Nicolas, imaginava se eles tinham dado apoio pelo ar aos illyrianos que conseguiam voar e seguiam lutando.
Era uma guerra que gostaria de ter participado, talvez teria a chance de finalmente cortar a cabeça do rei e ver o alívio de todos com o final daquele pesadelo agressivo. Poderia ter voltado para casa para os braços de Elena junto de Devlon, ter ido para a corte Diurna e visto a alegria do povo com o retorno do grão senhor e do dela também.
Talvez até o povo de Velaris ficaria feliz com seu retorno, seria bom voltar para aqueles lugares.
As sombras se surpreenderam quando Anastácia deu um forte tapa contra o próprio rosto e se virou apoiando um dos braços por baixo do travesseiro.
― Pare de pensar essa merda. ― Ela decidiu que era hora de dormir enquanto sentia a bochecha ficando ardida e avermelhada pela autoagressão.
Não imaginou que quando entrasse em seu sono profundo iria sonhar com algo que tinha acontecido a muito tempo, mas parecia ter real viver aquilo novamente.
O tempo da Diurna estava quente e o verão não era incômodo algum apesar do calor, tudo parecia brilhante e ainda mais belo junto do brilho do sol e Anastácia preferia usar seu cabelo trançado a maior parte do tempo deixando que Helion quase se atrasasse para as próprias reuniões enquanto enrolava os fios dela e Dani sempre ficava opinando dizendo o quão bela o amor do grão senhor estava junto de um vestido leve como a brisa do verão. Talvez fosse a primeira vez que estivesse usando algo da cor verde pelo que lembrava, somente ele era a única pessoa existente naquele mundo para conseguir lhe fazer usar roupas de cores diferentes do preto e ela gostava de se ver daquela forma, realmente ficava bela com todas as cores como ele já tinha lhe dito tantas vezes. Anastácia tinha lutado o dia anterior inteiro e mesmo assim seu corpo não estava dolorido, ela tinha mostrado algumas técnicas que tinha aprendido em Illyria e dado dicas aos soldados do exército da Diurna enquanto eles faziam o mesmo, aos poucos construíram uma aliança e também confiança forte o suficiente para se apoiarem em batalha mesmo que alguma estivesse muito longe no horizonte, ela acabou não prestando atenção quando viu uma soldada andando e atrás dela tinha um pégasus de pelagem marrom. Helion percebeu como ela ficou animada e pôde sentir que encontrou o momento perfeito para chamar a moça e lhe apresentar aos pégasus que tinham pela corte e compunham seu exército. Ela conheceu aquele que era o único responsável por carregar o grão senhor e Ana deixou um sorriso escapar por ver que o animal era preto e escuro como uma noite de sua corte, ele abaixou a cabeça e deixou que a illyriana fizesse carinho contra seu pelo. Anastácia se virou para encará-lo sem esconder sua alegria por aquilo e se jogou nos braços dele se aproximando para beijá-lo. ― Porra! ― Ana gritou acordando e terminando com o sonho que tinha tido, uma lembrança agora muito indigesta e reparou que estava novamente flutuando.
Cobriu o rosto com as mãos enquanto voltava a deitar e bateu contra as bochechas.
― Pare com essa merda, idiota, pare. ― Ela se sentou e respirou fundo buscando se concentrar e iniciar uma meditação, precisava enterrar aquelas memórias e aquele sentimento dentro de si e esquecê-lo.
Tudo havia sido mentira, tudo tinha sido uma maldita ilusão e havia pagado o preço por ter aceitado aquele amor falso.
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Rhysand tinha se esforçado para que Anastácia ficasse fora o dia todo junto de Morrigan. E a loira não desperdiçou a oportunidade de ter sua prima por perto lhe levando para diversas lojas e fazendo com que Ana tivesse terminado o dia com sacolas de roupas, principalmente vestidos com algumas cores escuras que ela aceitou ganhar da mais nova.
Mas, sentia que no fundo não iria usar nenhum, já que talvez o preto fosse a única cor que conseguisse combinar consigo no momento. As sombras acabaram ficando sobre seu corpo quando sentiram seu pensamento e a tristeza dela e a moça deixou um sorriso escapar enquanto andava pelos corredores da casa após ter largado todas as sacolas em cima da cama, as arrumaria quando fosse dormir.
― Oh, finalmente você chegou. ― Rhysand se apressou quando a viu.
― Tenho quase a certeza que você combinou com nossa prima para me arrastar para longe... ― Anastácia o observou. ― O que está aprontando?
― Nada, mas você tem visitas. ― O mais novo sorriu de lado. ― E deve se apressar, sua mãe quer lhe ver.
Anastácia abriu a boca por alguns segundos e logo fechou antes de engolir a seco sem acreditar no que havia ouvido. Um peso surgiu em seu coração e tentou manter a postura mesmo se sentindo balançado pelo que tinha acabado de ouvir.
― A mãe morreu séculos atrás junto de nossa irmã mais nova, não entendo do que está falando. ― Anastácia ficou com a voz mais rouca que o usual e teve dificuldade para dizer aquela única frase.
― Está tudo bem, sei como gosta de chamá-los e não a julgo por isso. ― Rhysand foi sincero. ― Sei que eles são seus pais, minha irmã. ― Ele apontou para a porta atrás dos dois, a porta de seu escritório e ela ofegou entendendo o que o irmão queria dizer só em seu gesto.
Anastácia preferiu se afastar quase de forma brusca e Rhysand segurou sua mão, logo avançando contra seu pulso e fazendo que ela se virasse para encará-lo novamente.
― O que há de errado?
― Eu estou nervosa. ― Ana esfregou as mãos na própria calça sentindo sua pele suada como nunca antes. ― É o meu pai e a minha mãe dentro dessa sala. ― Murmurou.
― Por isso mesmo não pode deixá-los esperando por tanto tempo, creio que Devlon já esteja puto comigo. ― Rhysand fez uma leve careta arrancando um sorriso discreto da irmã.
Ana respirou fundo e assentiu voltando a se aproximar da porta, ela colou sua testa contra a madeira e Rhysand se afastou. Ela se virou colocando sua orelha perto e pode ouvir os dois lá dentro podendo notar que estavam inquietos e desconfiados com o que estava acontecendo.
― O que essa criança pode querer ao nos fazer perder tempo? ― Elena indagou ao parceiro observando aquele local e vendo que ele também tinha algumas pinturas de sua filha.
― Provavelmente nos distrair para aprontar de alguma forma. ― Devlon respirou fundo, sentia vontade de arrancar aquela porta e sabia que devia ter negado o convite dele desde o início.
Havia aceitado apenas por insistência de sua parceira que conseguiu perceber que o mestiço realmente precisa da presença dos dois por algum motivo que ainda tentava descobrir.
― Foi engraçado vê-lo implorar. ― Ela resmungou e o parceiro deixou escapar um fraco sorriso enquanto concordava.
Anastácia sentiu quase um choque passando por seu corpo quando tocou na maçaneta e ela se abriu lentamente, conseguiu empurrar a porta enquanto as sombras se escondiam entre suas asas. Os olhos marejaram no mesmo instante que os dois a encararam e tentou morder os lábios para evitar que continuassem trêmulos, mas não conseguiu.
As lágrimas escorreram e sentiu seus joelhos fraquejarem enquanto seguia andando de forma lenta até eles que a encaravam de forma incrédula.
― Mamãe, papai... ― Intercalou seus olhos entre os dois e viu que não haviam mudado de forma alguma.
Correu reparando que aquela sala parecia ainda mais enorme por algum motivo e viu quando Elena veio quase correndo até ela com Devlon a seguindo. Da mesma forma que eles fizeram quando ela voltou para Illyria depois de ter passado anos infernais e de maus tratos naquela mesma cidade que agora recebia os três naquele reencontro.
Ana e Elena se ajoelharam no mesmo instante em que se tocaram e as duas choraram juntas. Elena tocou em seu cabelo acariciando os fios e chorando por ter sua filha ali mais uma vez junto dela, a alegria era ainda maior do que quando ela sentiu quando a pequena voltou para seus braços naquela primeira vez. Anastácia estava de volta para a vida e de volta para os dois! Como um sonho que jamais tinha tido, um sonho que era real e mostrava que a filha estava ali novamente.
Devlon observou as duas quase sem reação e percebeu que Rhysand estava ainda parado ao fundo com um sorriso nos lábios e um pouco emocionado, percebeu que foi seu erro e não conseguiu se afastar quando o illyriano veio ao seu encontro o segurando pelo colarinho de sua camiseta.
― O que pretende com essa ilusão? Me diga! ― Devlon disse entre dentes apesar da emoção que sentia. ― Pode provocar qualquer dor que eu aguentarei, mas jamais faça isso em Elena!
― É a Ana que está ali abraçando sua esposa, é mesmo a minha irmã... Eu usei todo meu poder para senti-la e confirmar que ela está mesmo aqui, acredite no que digo. ― Devlon sabia que o grão senhor estava falando a verdade. ― Sua filha voltou. ― Rhysand se atreveu a sussurrar.
O illyriano o soltou e se virou para encarar as duas mulheres que ainda seguiam ajoelhadas.
― Me perdoe, mãe! Me perdoa por ter morrido e por ter os deixado, eu não queria isso, perdão! ― Anastácia chorava e dizia entre seus soluços, quase se engasgando.
― Menina tola! ― Devlon se aproximou também a abraçando. ― Jamais peça perdão, você voltou para nós!
― Pai! Papai! ― Ana aceitou seu carinho e sorriu em meio ao choro quando os dois puderam encostar suas asas novamente depois de tanto tempo sem aquele afago.
― Shiii, você está aqui conosco. ― Elena beijou o rosto dela. ― Já passou e vai ficar tudo bem, você está em casa agora.
Eles eram sua casa de fato.
― Eu voltei. ― Anastácia ainda chorava, mas agora conseguia entender com todas as letras. ― Eu voltei! ― Os pais a abraçaram ao mesmo tempo.
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Anastácia teve dificuldades junto dos pais para se despedirem, mas prometeu que logo estaria em casa novamente após Rhysand conversar com todos em Illyria. Ela deixou que a mãe beijasse seu rosto inúmeras vezes e Devlon bagunçava seu cabelo à vontade, foi então que a moça finalmente reparou que seu cabelo parecia um pouco mais curto do que lembrava.
A ilyriana se sentou na cama quando lembrou de Azriel a vendo chorar mesmo ela não sentindo as lágrimas em seu rosto, chorou ao reencontrar os pais pela saudade que sentia deles apesar de não haver vontade de despejar suas lágrimas e mal conseguia senti-las escorrendo por sua face assim como não sentia a água quente descendo por seu corpo ou a fria quando lavou suas mãos antes de deitar, parecia não fazer diferença alguma a temperatura.
Podia atingir seu corpo, mas no fundo ela acabava não sentindo, assim como não sentia seus músculos cansados apesar da dor no corpo. Os olhos estavam inchados e estava sonolenta, mas lembrou de focar naquele detalhe pensando nas vezes que deitou sem sentir sono algum desde que tinha despertado para a vida.
Tinha jantado o banquete que Rhysand tinha feito para si e não parecia que havia ingerido coisa alguma já que ainda sentia seu estômago vazio mesmo podendo enxergar o volume abdominal avantajado pela quantidade de comida que tinha botado em sua boca e engolido.
O irmão comentou que ansiava pelo momento em que Feyre deixaria de ficar tão enjoada e se comportaria da mesma maneira que ela, comendo quase de forma descontrolada e ainda pedindo por mais. Aquilo a fez presumir que a grã senhora da corte estava gestando fazia pouco e por isso estava mais resguardada naquele período inicial e um pouco crítico.
― Grávida, huh? ― Ana seguiu observando o teto, pensando que não poderia demonstrar mais sua felicidade como fez na primeira vez que foram apresentadas e ela descobriu a gestação de sua cunhada.
Ainda era estranho pensar que seu irmão estava casado com uma grã féerica que era sua parceira, sua igual e também grã senhora da corte Noturna. Pôde presumir que nenhum cidadão desconfiava de sua gravidez e viu que queriam manter discrição no momento, por isso ela não ouviu os batimentos do feto já que estava sendo ocultado por magia.
A illyriana estalou seus dedos não sentindo incômodo algum ao fazer aquilo e pensou no momento que quebrou o espelho enquanto Morrigan a esperava em seu quarto. A dor que sentiu durou poucos segundos quando ela lavou os pequenos cortes e logo tudo sumiu, mas não havia ninguém no cômodo para que ela mandasse a dor para longe evitando assim sentir seu ferimento.
Ela observou as próprias mãos por alguns segundos.
― Tem algo de errado comigo. ― Constatou aquele fato e balançou a cabeça.
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