CAPÍTULO 12 - Segredos da Casa Ricc

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Lorenzo Ricc.

Era um dia chuvoso e silencioso, o céu tinha uma coloração acinzentada, o mundo parecia lamentar choroso. Estava sentado em uma poltrona no quarto de jogos com meu primo Matteo. Há alguns instantes atrás tínhamos brigado por causa de uma espada laser, Eleonora chegou no exato momento em que eu o empurrava para longe, não queria que ele tocasse no meu brinquedo preferido, eu tinha ganhado da minha mãe há alguns dias.

"Lorenzo, querido, não faça isso, vai acabar machucando ele"

Sua voz ecoou, e depois de nos repreender, passamos a tarde inteira com raiva um do outro, quando trocamos um olhar sem querer, viramos rapidamente o rosto. Foi então que meu pai entrou por aquela porta de mármore branco, estava usando um terno preto com um sobretudo de couro. Também usava um óculos redondo escuro, não sei a razão disso, já que eu nunca o tinha visto assim.

" Andaram brigando outra vez?" Sua voz trovejou no quarto. Matteo levanta rapidamente e voa em sua direção, com lágrimas nos olhos. " Ele não me deixa tocar em seus brinquedos, ele me odeia, ele me odeia..." Ele choramingou, nos ombros do meu pai e pude perceber seu olhar indulgente sobre Matteo. Aquela cena fez arder meu peito e senti meu rosto aquecer. "Mentiroso, é mentira, mi capo, mentira..." Gritei até que minha garganta ardeu. Matteo sempre coloca as pessoas contra mim, mas desta vez não deixarei que manipule meu pai. "CHEGA" De repente, tudo silencia novamente, Matteo limpa as falsas lágrimas dos olhos e estica um pequeno sorriso discreto pra mim. " Matteo, venha comigo. Preciso falar-lhe algo- Matteo sai da sala a passos largos, então, meu pai olha diretamente em meus olhos - "E você, esteja aqui quando eu voltar" Dito isso, ele sai e as portas se fecham.

O tempo foi passando, Eleonora veio algumas vezes trazendo lanches, mas não estava com fome. Toda a tensão que eu sentia me impedia de sentir qualquer outra coisa, será que ele me castigaria? Ele nunca falou assim comigo, nunca gritou comigo...Eu quero que minha mãe volte logo, ela viajou ontem a noite com os pais de Matteo, quero que os pais dele também voltem para que ele vá embora daqui. Ouço passos vagantes segundos antes da porta se abrir e revelar o rosto cansado do homem alto, de cabelos negros e pele plácida. Seus olhos negros ocultos pelo óculos, a roupa dando lhe um ar nada confortavel. Eu tive medo.

"Sente-se, precisamos conversar de homem para homem" Aquela frase, mesmo nos meus 9 anos, significava que alguma coisa muito ruim tinha acontecido, e tenho certeza de que não seria por causa dos meus brinquedos. Obedecendo-o, me acomodei na poltrona. " Você me promete encarar tudo como um homem de verdade? Promete ser forte - Eu o olho, sem entender, vejo seus olhos marejar, mas nenhuma lágrima cair - Eu estou falando, responda! - Eu assenti, rapidamente - "Sua mãe...ela não...não voltará mais para esta casa" Ouvir aquilo me fez sentir uma súbita fúria rasgar meu peito. Por que ele está me dizendo isso? Para me castigar, é isso? "Eu...não entendo..." Sussurro, respirando pesadamente. Ele me encara, tirando do rosto seus óculos com um movimento calmo. " Não é tão difícil, é? Meu...figliolo, sua mãe está morta, me perdoe..." Essas foram suas últimas palavras antes de me deixar sozinho no quarto, o frio tomou de conta do ambiente. A chuva se intensificava lá fora, por alguns momentos eu o esperei voltar com a falsa esperança de ele dizer que era tudo uma brincadeira, que ele estava só me castigando pelo mau comportamento.

Eu esperei...esperei... Mas ele não voltou, nem Matteo, nem minha tia Margaret, nem meu tio...nem minha mãe. E foi só então que o peso de tudo pareceu esmagar meu peito e o nó que a muito fora reprimido, tinha se livrado em minha garganta. "MÃEEEEEE..." O grito de raiva, de dor saiu naturalmente, se libertando das amarras. Quando meus olhos, que antes estavam tomados por pesadas lágrimas, voltam a enxergar com nitidez, estou deitado no chão do quarto, a porta se abre e um vulto branco avança para o local onde estou. Sinto mãos macias me agarrarem em um forte abraço, e só então identifiquei o perfume de Eleonora. "Chore, querido, isto lhe fará bem, chore..." Sua voz lacrimosa sussurrou em meu ouvido, com ternura. Então foi ali que meu pesadelo iniciou.

Maldito DesejoOnde histórias criam vida. Descubra agora