CAPÍTULO 26 - Regras de sobrevivência

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LORENZO RICC 

O lugar estava escuro. Parecia ser um tipo de galpão, o espaço era enorme e com incontáveis armários que se estendiam por todo o lugar se perdendo na escuridão. A visão era escassa, mas eu sentia um cheiro forte. Algo como…sangue. 

Dou alguns passos, forçando a vista a certas prateleiras, tentando identificar os objetos, os móveis, com a esperança de poder me encontrar. Sou guiado pelo cheiro de sangue fresco. Piso em algo viscoso que suja meu sapato. 

O cheiro vinha do chão. Todo o espaço onde eu pisava estava repleto de sangue e uma massa viscosa vermelha. Era um verdadeiro terror. Não sei que tipo de pesadelo é esse, mas é bizarro. 

Tento correr, mas acabo deslizando no líquido e caindo no chão. O terno inteiro foi sujo, minhas mãos, meu rosto inteiro foi ensopado. 

O lugar está deserto, nenhum sinal de vida além de mim. É como se eu estivesse preso nesse lugar, condenado a viver com toda essa chacina, sangue contaminando todo o meu corpo e quanto mais tento limpar, mais sujo fico. 

O silêncio do lugar é quebrado por uma voz distante, disforme, uma voz ríspida e grossa. Eu já ouvi ela muitas vezes. Poderia reconhecer ela de qualquer lugar. 

Pai

“Você é um fraco” — Diz a voz, sinto todos os meus pelos eriçarem. É como se a voz tivesse poder sobre mim. Como se ela pesasse sobre meu peito, me afundando para o sangue — “ Um verdadeiro Ricc não sacrificaria todo um legado”

— Me deixa em paz! — Grito em resposta — Você está morto! VOCÊ ESTÁ MORTO!

“Hahaha. Além de fraco, é um tolo. Jamais esteve preparado para me substituir. Eu estou bem vivo, Lorenzo. Eu sempre estive vivo, dentro de você. Cedo ou tarde, estarei livre novamente.”

Minha cabeça parece que vai explodir. A voz vem de dentro dela, forçando meu cérebro contra o crânio. A dor é insuportável, me deixando quase cego. Mais sangue parece surgir, me sugando para o fundo. A face deformada do meu pai se desenha em meu pensamento, seu olhar é de verdadeira psicopatia. Ele está me causando toda essa dor, e ele está sentindo prazer nisso. 

“Vamos lá, Lorenzo. Se entregue de uma vez. Você não vai conseguir segurar sua verdadeira face por muito tempo. Você sempre foi igual a mim”

— Mentira. N-nunca, NUNCA SERIA IGUAL A VOCÊ!

O sangue parece querer me afundar cada vez mais. Como se ele tivesse criando formas, me afogando. E o meu pai continua me encarando. Ele me olha com olhar assassino. Seu escasso cabelo branco cai sobre o rosto, seus olhos estão escuros e a face retraída. 

“Você tem razão. Me arrisco a dizer que você seria capaz de ser pior do que eu. Resista o quanto quiser, mas não conseguirá fugir por muito tempo do seu verdadeiro eu. Não podemos esconder quem somos de verdade para sempre. As pessoas que amamos sempre pagam o preço por isso. Me diga, filho, você está pronto para perder tudo que ama?”

Eu não aguento mais essa tortura, sinto meu peito comprimido. Minha visão fica cada vez mais turva, a imagem deformada do meu pai desaparece e um novo rosto se refaz em minha mente. 

Tudo que eu amo

As maçãs rosadas do rosto de Sophia aparecem em meus pensamentos, seus olhos azuis penetrantes me fitam com calor. 

Ela é minha salvação. Ela estende seu braço, com dificuldade, consigo alcançá-lo para poder finalmente me livrar daquele sangue todo que me sugava para o fundo. Era como areia movediça, me levando lentamente para o abismo, e Sophia, com sua mão estendida, me salvou. 

Maldito DesejoOnde histórias criam vida. Descubra agora