Cap 06

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S/n pov

Que pode uma criatura senão,
entre criaturas, amar? Amar e esquecer, amar e malamar, amar, desamar, amar? Sempre, e até de olhos vidrados, amar?

Estava na arquibancada lendo um poema de Carlos Drummond. Minha mente vagava entre lembranças de tudo que foi esse final de semana. O beijo dela é perfeito.

Que pode, pergunto, o ser amoroso, sozinho, em rotação universal, senão rodar também, e amar? Amar o que o mar traz à praia;
o que ele sepulta, e o que, na brisa marinha;
é sal, ou precisão de amor, ou simples ânsia?

Eu estava apaixonada, isso é tão estranhamente bom… A maneira que aceitei esse sentimento, foi tão natural, tão certo que até um simples poema me faz sentir as famosas borboletas.

Amar solenemente as palmas do deserto, o que é entrega ou adoração expectante, e amar o inóspito, o cru, um vaso sem flor, um chão de ferro, e o peito inerte, e a rua vista em sonho, e uma ave de rapina.

Por muitas vezes pensei que nunca me apaixonaria; eu levava uma vida completamente diferente em nova York, adorava passar horas na biblioteca! Tive um relacionamento que não vingou por eu não ser tão “romântica”.

Este o nosso destino: amor sem conta, distribuído pelas coisas pérfidas ou nulas, doação ilimitada a uma completa ingratidão, e na concha vazia do amor a procura medrosa, paciente, de mais e mais amor.

Não terminei de ler o poema, o livro foi arrancado das minhas mãos com brutalidade, olhei assustada para ver quem havia feito aquilo. É claro, tinha que ser o cara de bolacha do Edu.

— Sentiu minha falta, aberração? – ele tinha um sorriso presunçoso no rosto. Que idiota, meu fim de semana foi maravilho, beijei a garota mais linda desse mundo, ele acha mesmo que perco meu tempo pensando nele?

— Acho que você se apaixonou por mim. – digo simples descendo os degraus. — cuidado com meu livro, cara.

— Poemas? Não sabia que a aberração não tinha coração. — ele se esforça para passar vergonha, meu Deus.

Levo a mão na testa tentando controlar meu estresse. Uma das coisas que trabalho na terapia é saber filtrar esses insultos, não dar importância, é apenas pessoas amarguradas tentando ferir alguém.

— Cara, devolve meu livro, e me deixa em paz — digo com a voz calma, isso pareceu irritar ainda mais o Edu. — vai procurar outra pessoa para atormentar.

Ele deu um passo em minha direção, olho para o livro em suas mãos, foi um presente da minha mãe. Não me importaria se Edu partisse para cima, saberia me defender, tínhamos a mesma altura, e as aulas de Muay Thai estavam frescas ainda. Mas se por maldade ele rasgasse ou jogasse o livro na lama que tinha próximo ao campo, aí, sim, teríamos um problema.

— E se eu não quiser? — seu olhar era puro ódio.

— Não me importo que vá  para o inferno, só quero meu livro de volta. – afirmo já sem paciência.

— Me diga Maria, Oque tem contra Camila? — olhei para ela confusa, primeiro por errar meu nome, segundo por citar Camila.

— Como fez ela te defender daquela maneira?

— Ah, entendi agora! Tudo isso é pela Camila?–não tiro meus olhos do dele, fico alerta.

— Ela nem gosta de mulher, ainda mais uma Maria João igual a você.–ele esbraveja, vejo seu rosto vermelho. Quanto ódio.

— Você não pode dizer o que as pessoas gostam ou não. Camila é uma garota inteligente, não se prende a rótulos. Então, ao invés de está aqui enchendo a porra do meu saco, você deveria está fazendo uma terapia para tratar esse seu trauma. – esbravejo completamente irritada Esse cara conseguiu me tirar do sério.

Everlasting Love 
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