| Capítulo 39 |

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Um mês depois...

Os ferimentos pelo corpo de Sara já estavam cicatrizando, fisicamente ela estava bem. Só fisicamente.

Ela passou um mês entubada em uma cama do hospital por conta dos ferimentos que arrumou no ato de loucura de se jogar contra a vidraça. Nesse tempo, ela mal recebia visitas e sempre que um enfermeiro aparecia, ela gritava até ele droga-la e ela dormir de novo.

Ela passou grande parte do tempo assim, dopada, porque só assim o vazio se preenchia e a dor passava. Estava acabada, afundando em uma depressão que sequer sabia de onde vinha. Queria saber sobre Ava, queria falar com a mãe, queria não sentir mais nada, porém, nada acontecia como ela desejava.

Era só abrir os olhos, que ali estava a dor, o remorso e a culpa e ela odiava sentir aquilo. Era sufocante!

— Ela matou o meu pai. – Ela ouviu a voz distante.

— Ela salvou a sua vida! – Uma outra interveio.

— Aqui não é lugar de briga. – Falou uma terceira.

Mais alguns barulhos foram ouvidos, mas ela estava bem drogada para perceber o que acontecia ao seu redor.

— Quer que eu agradeça? – A voz irritante indagou. – A culpa é toda dela!

Passos ecoaram pelo quarto, seguido pelo som de uma embalagem sendo aberta.

— Quer acabar com isso? – A voz rouca perguntou. – Tome! Enfie essa siringa nela, mande ar pelas veias direto para o coração, vai matá-la sem deixar vestígios. É isso que você quer?

Um silêncio angustiante tomou o lugar.

Sara ouvia tudo a distância, como se não fosse com ela.

— Não vou fazer isso. – A mulher falou depois do silêncio. – Não sou como ela!

— Você não é metade do que ela é! – A voz rouca rosnou. – Eu arrisquei minha vida por você! Ela arriscou a vida por você e é assim que retribui?

— Ava, vai com calma. – A terceira voz pediu. – Ela não tem culpa...

— Foda-se! – Ava cortou. – Eu não quero saber de quem é a culpa, só quero que sumam daqui!

— Volto quando se acalmar. – Um rapaz falou.

— Nora? – Ava chamou. – Quando ela acordar, porque eu sei que vai, quero que fique longe dela. Longe de nós. Entendeu?

— Senão? – Nora desafiou.

— Eu faço a morte do seu pai, parecer brincadeira de criança perto do que vou fazer com você!

Ava ia visitá-la todos os dias desde que a mesma havia recebido alta. Ela não se lembrava de muitos detalhes daquela noite, só se lembrava do tiro, da dor e de ter acordado no hospital uma semana depois.

O ferimento no ombro não foi muito grave, logo ela não demorou para receber alta. Difícil mesmo foi receber a notícia de que Sara estava mal.

Soube do que ela fez com Damien e mesmo Ava negando, tinha ficado muito assustada com o que viu, quase não acreditou que Sara havia feito aquilo.

Nos primeiros dias Sharpe evitou visitá-la, não sabia como iria reagir caso a encontrasse acordada, ela estava apavorada com tamanha frieza. Mas com o tempo, a saudade foi falando mais alto e aquilo passou a ser irrelevante.

Ava se sentou na beirada da cama, como fazia todos os dias, e segurou a mão de Lance.

A expressão serena em seu rosto não a enganava, Ava sabia que ela estava sofrendo, podia sentir isso e era justamente o que ela queria evitar.

Ava queria matar Damien, assim Sara não teria que lidar com toda aquela culpa e remorso. Sharpe a conhecia, Lance era péssima nisso e seu estado era uma boa prova.

— Se você morrer, eu te mato. – Ela sorriu sozinha. – Anda, Sara, acorda. Chega de se dopar, de se castigar. Deixa eu cuidar de você. – Como sempre, ela permaneceu imóvel. Ava já tinha implorado para pararem com as drogas, mas sempre que chegava no hospital, ela estava dopada. Em parte entendia o lado dela, a dor dela, mas não era justo. Ela a queria viva, com os olhos abertos e sorriso no rosto. Tinha sobrevivido por ela, lutou por ela. O mínimo que desejava era que Sara fizesse o mesmo. – Eu estou aqui pra você amor. – Ela acariciou o rosto da loira. – Você prometeu lembra? Uma Lance não quebra promessas. Volta pra mim, me deixa curar suas dores. Eu te amo tanto.

Ela continuou imóvel e Ava teve vontade de arrancá-la daquela cama e levá-la para longe. Um lugar onde ela pudesse se recuperar, não haveria nada que a lembrasse de Damien ou do seu lado sombrio. Deus, como Ava queria salvá-la!

— Eu... – A voz saiu fraca, mas foi o bastante para fazer Sharpe pular. – Devia... Matá-la.

Ava sorriu, não foi um simples sorriso facial, mas um sorriso da alma. Sua Sara estava de volta.

— Meu amor! – Disse depositando um beijo em sua testa. – Eu vou cuidar de você.

— Dói. – Ela choramingou. – Eu... Eu o matei... Sou um monstro...

— Shiiu! – Ava pôs o dedo nos lábios dela, a impedindo de continuar. – Você não é um monstro! Salvou minha vida, até a da ingrata da Nora...

— Eu gostei. – Confessou. – E eu não queria parar... Eu queria mais, queria vê-lo sofrer, eu...

— Não, Sara! Eu não vou deixar você se maltratar assim. – A interrompeu. – Você fez o que tinha que fazer.

— Então por que não estou feliz? – Ela questionou. – Por que esse vazio está me corroendo? Por que dói tanto?

Ela acariciou seu rosto, tentando acalmá-la. Era isso que ela mais temia, que Sara fizesse algo que não seria capaz de lidar.

— Dói e vai ficar pior. Isso é porque você é humana. – Disse olhando em seus olhos. – Bizarro seria se não sentisse. Você colocou anos de ódio pra fora, foi ruim até pra você, é normal que se sinta mal, mas vai passar. Eu vou fazer passar.

Sara sorriu melancólica e isso fez sua dor parecer menor. Ela a amava mais do que a si mesma e talvez esse amor seria sua cura, ou talvez seria sua perdição. Sara não sabia o que iria acontecer, não tinha planejado aquela parte da vida e não gostava de viver sem planejamento. Porém, a vida estava lhe dando uma nova chance de se reinventar.

Uma chance loira, alta, com belos olhos verdes e um sorriso sedutor. Uma chance que poderia não ser segura, mas que ela amava e estava disposta a arriscar.

— Case-se comigo?

Ava a encarou com os olhos arregalados e um sorriso divertido no rosto.

— Acho que essa fala era minha. – Falou, voltando a exibir o sorriso que ela tanto amava.

— Sara Lance não se prende a tradições. – Se gabou, sorrindo em seguida. – Eu costumo ir atrás do que eu quero.

— E você me quer? – Sorriu marota.

Lance revirou os olhos, dando um tapa em seu braço não imobilizado.

— Eu te quero mais do que tudo!

Ela se curvou sobre Sara e lhe deu um beijo. Seus lábios se uniram de maneira majestosa, o beijo era calmo porém cheio de urgência, tinha um leve gosto de saudade, mas era repleto de promessas.

— Eu aceito. – Ela falou, ainda com os lábios contra os dela. – Mas só se você me deixar usar o terno.

Ela riu e o som de sua risada, aqueceu o coração da Sharpe.

O vazio no peito dela ainda não estava completamente preenchido, pelo contrário, mas aquele foi o primeiro passo pra transformar um buraco de saudades, em um recipiente de amor.

Revenge | Avalance VersionOnde histórias criam vida. Descubra agora