| Capítulo 38 |

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Sara estremeceu ao voltar naquele lugar, suas últimas lembranças não eram nada boas e ela temia que o passado voltasse a se repetir.

A recepção estava um caos, gente para todo o lado, pessoas gritando e crianças chorando.

O cheiro de éter a deixava tonta, assim como a fileira de corredores perfeitamente brancos.

Ela caminhava sem saber ao certo onde estava indo, se é que ia a algum lugar. Por onde passava era parada por pessoas também vestidas de branco, que a questionavam sobre o sangue em sua roupa.

— Eu estou bem. – Foi o que respondeu em todas as ocasiões.

Mas será que estava mesmo?

A vista embaçada, as pernas bambas e o embrulho no estômago insistiam em provar que não. Ela não estava bem.

O prazer, a paz por matar Damien sumiu tão rápido quanto apareceu e meia hora depois ela já estava péssima de novo.

Quando enfiou a ideia de vingança na cabeça, ela não fazia ideia do que teria que abrir mão para consegui-la, mas não se importou. Para ela só uma coisa importava, imaginou que matar Damien fosse preencher o vazio que a morte dos pais havia deixado, ou que ela conseguisse se sentir melhor depois... Novamente estava enganada.

Sara estava acuada, deprimida e confusa.

Ela havia matado Damien de uma maneira tão fria quanto ele tinha matado seus pais. Ele pediu aquilo, era o certo a se fazer, ela salvou a vida de Nora, fez um bem maior mantando aquele monstro. Então, por que se sentia tão mal? Por que se sentia a pior pessoa do mundo?

Ela queria respostas, queria muito poder calar aquela vozinha acusadora no fundo de sua cabeça, aquela mesma que dizia que ela era ainda pior que Damien.

Ela continuou caminhando pelos corredores, Deus, eles eram todos iguais. Ela cambaleava de um lado para o outro, enquanto travava uma batalha interna entre o "politicamente correto" e o correto de fato.

Sara parou e olhou com interesse para a já conhecida parede de vidro. Não foi o interior da sala que chamou sua atenção, e sim seu reflexo no vidro, ela estava ainda mais acabada do que imaginou.

O vestido rosa que fazia parte de sua fantasia estava coberto de sangue, assim como uma parte de seu rosto e suas mãos. Os cabelos grudados no rosto e pescoço, os olhos vermelhos e completamente perdidos. Ela parecia perigosa, bem mais do que se sentia.

— Está satisfeita? – Seu reflexo perguntou. – Era isso que queria? – Ela balançou a cabeça, querendo acordar daquela alucinação, mas não importava quantas vezes sacudisse a cabeça, ela continuava ali, confrontando-a, fazendo ela se sentir cada vez menor. – Acabou a brincadeira Lara, não tem mais pra onde fugir, não tem quem culpar pela sua vida fracassada. Não pode mais se esconder atrás de uma vingança infantil. Acabou pra você... Agora você é o lobo mal, você é a assassina cruel, Ava não vai olhar na sua cara depois que...

— Para! – Ela gritou, atraindo alguns olhares.

Sua risada ecoou pelo ar, fazendo ela se encolher de medo.

— Eu não vou sumir. – O reflexo falou. – Não vou deixá-la em paz. Vou infernizar...

Sara jogou o corpo contra o vidro, na intenção de acabar com tanta tortura. A vidraça acolheu seu corpo. Ela sentiu os cacos perfurando sua pele, doía um pouco, mas nada comparado a dor que sentia por dentro. Uma dor forte, aguda e que ninguém poderia curar.

— Ajuda aqui! – Alguém gritou.

— Meu Deus! – Outro exclamou.

As pessoas começaram a se reunir ao seu redor. Vozes e mais vozes. Mas ela já não os ouvia muito bem, e aos poucos, sua visão foi escurecendo e a dor em seu peito diminuindo, até que ela não sentisse mais nada.

Revenge | Avalance VersionOnde histórias criam vida. Descubra agora