| Capítulo 25 |

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— Sara, aonde vamos? – Ava perguntou, pela décima vez.

Ela não queria dizer, estava prestando atenção na estrada.

As mãos tremiam e ela suava frio, estava prestes a fazer algo que nunca imaginou fazer.

Ava se sentia apreensiva, não conseguia entender o que Sara estava fazendo, não conseguia entender nada.

Sara estacionou o carro em frente a uma antiga casa, e desceu, sem se dar ao trabalho de esperar por Ava.

Seu coração estava apertado, fazia tempo que não pisava ali, e as lembranças tomaram sua mente. Lembranças que ela insistiu em trancar, que tentou esquecer.

— O que estamos fazendo aqui? – Ela perguntou, parando ao lado dela no portão.

Sara ficou em silêncio por um tempo, tentando juntar forças para adentrar a casa. Não estava sendo tão fácil como imaginou, muito pelo contrário, estava doendo só de olhar. Mas Sara queria fazer aquilo, queria acabar com os segredos entre elas.

— Vamos entrar. – Comunicou, abrindo o velho portão enferrujado.

Ava a olhava intrigado, ela parecia nervosa, suava frio. Ava queria gritar com ela, chamá-la de louca e sumir dali, afinal, elas estavam prestes a entrar em uma casa abandonada, ela só podia estar fora de si.

— Sara, esse lugar está caindo aos pedaços. – Disse, a seguindo de perto. – Parece que ninguém entra aqui há...

— Vinte anos... – Completou secamente.

A casa estava da maneira que ela se lembrava. A varanda estava cheia de folhas secas, e rachaduras nas paredes.

O piso de madeira rangeu sob os pés de Sara, assim como a porta, quando ela forçou a entrada.

Ava se sentia num filme de terror, onde os mocinhos invadem a casa abandonada e são perseguidos por fantasmas revoltados. Era um pensamento infantil, porém inevitável.

Assim que abriu a porta, Sara foi invadida por lembranças, tanto boas quanto ruins.

Os móveis, agora velhos, estavam no mesmo lugar, assim como tudo na casa.

O cheiro forte de poeira e mofo, faziam o nariz de Ava coçar, ela não queria estar ali.

— Sara, vamos...

— Não! – Gritou, se abaixando ao lado de um desenho no chão de madeira.

Ava demorou a notar, e puxou Sara para os seus braços, quando percebeu que o desenho no chão era de um corpo. O contorno de um corpo.

— Que lugar é esse? – Perguntou assustada. – O que estamos fazendo aqui?

— Quero que conheça alguém. – Sussurrou se afastando. – É importante.

Ava não entendeu aonde Sara queria chegar, talvez estivesse ficando louca. Era tanta coisa acontecendo com ela, que a possibilidade se tornou enorme. Ela poderia ter criado uma personagem, pra transferir toda aquela dor que sentia.

Era normal, não era?

O olhar perdido, as olheiras, as mãos trêmulas... Todos os sinais, indicavam que Sara estava de fato, fora de si.

Ava chegou a conclusão de que era melhor não contrariar, ela seguiria Sara até onde julgava ser "normal", ficaria do lado dela e a levaria para casa assim que ela voltasse a pensar.

Pegou um porta retrato, que estava em uma prateleira. A foto estava embaçada, amarelada pelo tempo, quase não dava pra ver direito, mas Ava distinguiu.

Um homem e uma mulher, eles sorriam para a menina que estava no colo.

Ava não conseguiu ver a menina, mas deduziu que fosse Lara, já que Sara não parava de dizer esse nome.

Então Lara era real?

Talvez Sara não estivesse totalmente louca, mas se Lara era mesmo real, aonde ela estava?

— Aqui. – Sara respondeu a pergunta silenciosa de Ava. – Vou te contar uma história.

Ela ainda tentou falar, argumentar, mas Sara já estava decidida, e sentia que se demorasse um pouco mais, perderia toda a coragem.

— Lara era uma menininha linda, que morou aqui há vinte anos atrás. – Sara falou, se sentando no chão e apoiando as costas na parede. – Ela era feliz, pelo menos na maioria do tempo.

— O que aconteceu com ela?

Sara sorriu, olhou para ela e voltou a baixar os olhos.

Ela não ia conseguir contar, não olhando para aqueles olhos verdes, ávidos por informação.

— Quando acordou, ela esperava que aquele dia fosse como todos os outros, mas não foi. Eu não lembro muito bem daquele dia, faz muito tempo...

— Sara...

— Deixa eu terminar. – Falou, erguendo a mão. – Depois você diz o que quiser.

Mesmo contra sua vontade, Ava permaneceu em silêncio. Algo nela, dizia que aquilo era necessário para Sara, era algo que ela precisava, então preferiu não interferir, era o momento dela.

— Já no finalzinho de tarde, a mãe de Lara a chamou, e as duas ficaram sentadas bem ali. – Apontou para a mesa da cozinha. – A mãe dela estava preocupada com algo, mas a menina nem notou, estava tão animada com o desenho que tinha feito, que não percebeu a aflição da mãe. Um pouco depois, Lara levantou e foi até o quarto, pegar o desenho que tinha feito... Ela estava voltando para o colo da mãe, quando ouviu os gritos.

Ava ouvia tudo em silêncio, tentando absorver a maioria das informações que ouvia, mesmo sem entender direito. Ela queria perguntar, queria saber o que Sara tinha a ver com Lara, queria confronta-la, sobre a razão de estarem ali. Mas foi só olhar para aqueles tristes olhos azuis, que ela mudou de idéia.

Ava via o sofrimento nas feições dela, na maneira que ela segurava os cabelos, ou quando batia a cabeça na parede de leve. A dor estava estampada em Sara, como uma tatuagem enorme no meio da testa.

Mesmo querendo abraçá-la, e tirá-la dali, Ava se obrigou a ficar no mesmo lugar. Em parte porque achava necessário, mas não era só isso, ela queria saber mais sobre a história de Lara e a importância que ela tinha para Sara.

— A mãe dela gritava, implorando pra parar... – Sara mordeu o lábio. – E a Lara... Ela não podia fazer nada...

Ava se abaixou ao lado da amada e segurou seu queixo, fazendo com que seus olhares se encontrassem. Ela alisou os rosto da loira, limpando uma lágrima solitária, colocou uma mecha de cabelo para trás da orelha dela antes de falar.

— Quem é Lara Almeida? – Ava perguntou, já sabendo da resposta.

Revenge | Avalance VersionOnde histórias criam vida. Descubra agora