Capítulo 08

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Felipe

- AAAAAAAAAAH -Dei um grito ao ouvir a voz do André atrás de mim. Eu tinha entrado no quarto dele só pra ver como ele era, do que ele gostava, e acabei me assustando com a sua presença.

- O que você tá fazendo aqui? -Ele perguntou e parecia bem bravo.

- E-e-eu... É... É... Eu...

- Tu é gago, por acaso? -Droga, eu não conseguia falar quando ficava nervoso. -RESPONDE! -Ele gritou e ficou muito próximo a mim. Eu instintivamente dei um passo pra trás. Meus olhos ficaram marejados e eu encarei o chão. Só queria fugir dali. -Escuta bem! -Falou agarrando os meus dois braços com força. Eu ainda estava com muita dor pelas pancadas que o meu pai me deu e foi inevitável começar a chorar. -Eu quero você longe do meu caminho, ouviu bem? Eu não te quero aqui, nunca te quis e nunca vou querer. Você é um bastardo, a nossa mãe traiu o meu pai pra ficar com o lixo do seu pai, foi só por isso que você nasceu! Eu não sei que loucura foi essa do meu pai de trazer alguém como você pra cá, só sei que eu vou fingir que você não existe e se eu te pegar aqui de novo, apertar os seus braços vai ser a coisa mais leve que eu vou fazer com você, entendeu? -Eu apenas chorava. Estava com muito medo de ele me bater. -entendeu? -Balancei a cabeça positivamente. André literalmente me arrastou pra fora do quarto e me jogou no chão do corredor, fechando a porta com toda força.

Eu tava sentindo muita dor, muita mesmo. Ainda não tinha me recuperado bem, tudo em mim doía demais e eu não conseguia de forma alguma me levantar do chão. Eu mal podia me mexer. Mas nada doeu mais do que o que eu tinha acabado de descobrir... Eu era fruto de uma traição. Minha mãe tinha traído o pai do André... Agora eu entendia o porquê ele me odiava. Era incrível como nada na minha vida parecia certo, e até aquilo que poderia ser minimamente certo, também estava errado. Eu tava me sentindo um lixo. Só me perguntava como era possível alguém sofrer tanto. Parece que tudo de ruim tinha que acontecer comigo. Até quando eu descubro que tenho um irmão mais velho, ele me odeia.

Não sei por quanto tempo eu fiquei ali. Toda vez que eu tentava me levantar, sentia uma pontada na costela e um pouco de falta de ar. Me rendi a dor e fiquei ali esperando alguém aparecer. Estava anoitecendo e o corredor estava escuro. Eu não conseguia parar de chorar e a escuridão daquele corredor grande e vazio tava me dando medo. Foi quando ouvi passos subindo a escada.

- Felipe? O que você tá fazendo aí no chão? -Henrique chegou e veio se ajoelhando perto de mim. Ele estava preocupado.

- Por... Por favor... Me leva embora daqui... -Eu me agarrei nele, o que fez ele se desequilibrar e cair sentado no chão.

- Hã? O que? Por quê? -Ele pareceu meio confuso.

- Só... Por favor... Me leva de volta pra minha tia. Eu não posso mais ficar aqui... -Era um misto de medo e vergonha. Eu tinha medo do que o André poderia fazer comigo... Tinha vergonha do que o meu pai fez com eles... Eu não merecia estar ali.

- Tenta se acalmar... -Ele me abraçou de volta. Era a primeira vez que alguém além da minha mãe e da minha tia me abraçava. Aquilo foi o mais próximo que eu cheguei do abraço de um pai. Eu chorava desesperadamente em seus braços, como quem bota uma avalanche de sentimos pra fora. Todas as vezes que eu chorei silenciosamente, onde eu era proibido de emitir qualquer som enquanto apanhava... Estava tudo ali escorrendo pelos meus olhos e rasgando a minha garganta com gritos que eu não podia conter. Minhas mãos tremiam tanto, tanto que era impossível manter o controle. Ouvi o som de uma porta se abrindo e mesmo de costas pra ela, eu sabia que era o André.  -Shiiii... Tudo bem, pode chorar... Eu tô aqui. -Henrique tentava me consolar, mas eu tinha perdido o controle de tudo. Não era como se eu pudesse parar. Fui sendo vencido pelo cansaço, e quando eu já não tinha mais forças pra me manter de olhos abertos, senti Henrique me carregando até o meu quarto e me pondo na cama. Instantaneamente dormi.

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