Capítulo 40

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André

Já era o segundo dia em que o Felipe estava exatamente do mesmo jeito. Eu tive alguns compromissos pela tarde e praticamente não parei em casa. Fui conseguir parar já pela noite. Quando cheguei em casa e abri a porta da sala, me deparo com uma das cenas que mais me fizeram ficar aflito na vida: o meu pai descendo as escadas com o meu irmão desacordado em seu colo. Meu coração falhou, pois em fração de segundos, senti e pensei em tudo o que poderia ter acontecido, e em como eu simplesmente não estava lá. Confesso que a primeira coisa que eu pensei, dado o seu estado, foi que o Felipe pudesse ter feito algo contra sua própria vida. E eu juro que se isso tivesse acontecido, eu jamais me perdoaria. Eu definitivamente seria incapaz de ser feliz de novo caso isso acontecesse, ainda mais nessas circunstâncias. Pensei em como nós tínhamos brigado e em como eu não estava falando com ele, cuidando dele, protegendo...

- Filho, abre o carro agora! Seu irmão desmaiou. Tamo indo pro hospital. -Ufa! Uma tonelada saiu de cima de mim. Aquela notícia ainda era ruim, mas bem menos pior do que o que tinha passado pela minha cabeça. Saí correndo em direção à garagem e abri a porta do banco traseiro. Meu pai pediu pra eu ir atrás com o Felipe apoiando a cabeça em meu colo e eu prontamente atendi.

Pensar que o pior poderia ter acontecido, me trouxe de volta a vida. Consegui finalmente sair daquele estado de humanidade desligada e voltei a me preocupar com o Felipe tanto quanto antes. Mesmo sabendo que talvez nada de tão grave pudesse ter acontecido, o medo me invadiu. Eu só descansaria quando tivesse a certeza de que o meu irmãozinho estaria bem.

Chegamos ao hospital e fomos logo atendidos. Os médicos começaram a examinar o Felipe, que seguia inconsciente.

- Ele está desidratado e muito provavelmente fazia tempo que não comia. A pressão tá muito baixa e a glicemia também. Nós vamos injetar soro na veia e algumas medicações intravenosas. Ele provavelmente vai passar a noite aqui e só terá alta amanhã, dependendo da resposta que o estado de saúde do paciente der. Agora me tira uma dúvida: como o seu filho chegou a esse estado?

- Bem, o Felipe apresenta um diagnóstico de depressão e ansiedade generalizada. Eu acredito que nesses dois últimos dias ele estava em crise. Eu acabei não conseguindo ter tanto controle sobre essa questão da alimentação dele, então devido a isso ele acabou ficando assim. -Os médicos não fizeram mais perguntas. Talvez pela experiência de atenderem a outros casos parecidos.

Eles prepararam tudo e nos colocaram em um quarto que além do leito do Felipe, tinha uma poltrona e uma cama. Como ele basicamente só tomaria soro e ficaria em observação, o lugar era ideal.

- Filho, ainda tá cedo, então se você quiser ir pra casa, eu peço um carro por aplicativo, ou peço pro motorista vir te buscar. Eu vou passar a noite aqui com o Felipe.

- Nem pensar! Eu não vou pra casa, pai. Vou ficar aqui com você e com o Felipe.

- Tudo bem, você quem sabe. Mas, ó, amanhã quero você indo pra escola, hein? Já basta as faltas que o seu irmão tá tendo.

- Mas pai...

- Sem discussão sobre isso, André. Eu preciso que o resto das nossas vidas flua normalmente, pra que eu consiga lidar somente com isso agora. -Eu acabei não falando mais nada. Eu entendia o lado do meu pai.

Algum tempo se passou e o Felipe continuou dormindo. Eu tinha sentado na poltrona ao lado da cama dele, enquanto segurava a sua mão.

- André? -Ouvi a voz fraca do meu irmão chamar o meu nome.

- Lipe! -Fiquei em pé imediatamente. Seus olhos ainda estavam semiabertos.

- Filho! -Meu pai se aproximou de nós dois. -Que baita susto você nos deu! Como você tá se sentindo?

Brotherly LoveOnde histórias criam vida. Descubra agora