Capítulo 26

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Felipe

Henrique chegou em casa dizendo que já havia me matriculado na escola e que iríamos ao shopping comprar todo o meu material escolar. Ele estava bem mais empolgado que eu. Dessa vez fomos apenas nós dois, já que o André não estava em casa.

Eu ainda tinha um pouco de dificuldade em estar em lugares com tanta gente assim, então quando entramos, a primeira coisa que eu fiz foi segurar sua mão. Henrique me olhou e sorriu, segurando firme a minha mão. Fomos direto a uma loja que tinha todos os itens necessários pra levar à escola. Mochila, cadernos, lápis, estojo, tudo isso e muito mais, coisas que eu nem sabia se usaria, o Henrique comprou. A parte boa é que ele me deixou escolher tudo. Agora só faltavam os livros e o uniforme, mas ele disse que isso a gente adquiria na própria escola, e que eles mandariam lá pra casa, já que Henrique já tinha solicitado tudo. Ele aparentemente sabia qual o meu tamanho de roupa.

Por último, fomos em uma loja de eletrônicos que eu não fazia ideia de como pronunciava o nome. Só lembro que o símbolo da loja era uma maçã mordida. Henrique disse que pra realizar as tarefas da escola, eu precisaria de um computador, e que já tinha passado da hora de eu ter um celular. Então ele comprou um notebook e um celular enorme que tinha três câmeras atrás. Confesso que eu fiquei constrangido quando ouvi o preço daquilo tudo. Acho que nada na minha antiga casa custava esse valor. Não sei nem se a casa chegava a custar. Tá, exagerei, mas eu nunca pensei em ter nada que valesse tanto. Fiquei até com medo de usar e não tomar cuidado.

Finalmente estávamos indo pra casa, não sem antes Henrique me comprar um milk shake que eu fui tomando o caminho todo. Estacionamos na garagem e subimos pro andar da sala. Qual não foi a minha surpresa ao ver sentados no sofá, os pais do Henrique conversando com o André! Por pouco as compras que estavam comigo não caíram no chão quando dei de cara com aquela mulher me encarando. Eles levantaram do sofá imediatamente quando nos viram chegar.

- Mãe? Pai? O que vocês estão fazendo aqui?

- Filho, nós viemos te ver! Você e os... Os nossos netos. -A mãe do Henrique falou. O seu tom de voz e as suas expressões faciais eram muito diferentes do que eu estava acostumado a ver. Aquela mulher era tão estranha... Sei lá, eu não conseguia confiar nela... Parece que tudo o que ela fazia, me soava falso. Era como se ela fosse uma vilã dos filmes que eu assistia na infância e só quisesse me enganar. -Oi, Felipe, tudo bem? -Ela perguntou e eu dei um passo para trás, praticamente me escondendo atrás do Henrique e segurando em sua roupa.

- Tá tudo bem, filhote, não precisa ter medo. -Henrique virou-se pra mim e tentou me acalmar.

- Eu posso ir pro meu quarto?

- É claro! Pega aqui. -Ele me deu as sacolas que estavam em sua mão e eu subi as escadas quase que correndo, chegando finalmente no meu quarto e respirando melhor.

André

Meus avós chegaram de surpresa em casa e eu tive que ficar fazendo sala pra eles, já que nem o meu pai e nem o Felipe estavam. Inclusive eu não fazia a menor ideia de pra onde eles tinham ido, ainda por cima sem mim. Mas depois de um tempo os dois apareceram cheios de sacolas, então deduzi que tivessem ido ao shopping. Bem, aparentemente encontrar com a minha avó não foi uma experiência muito agradável para o Felipe, que assim que a viu, subiu logo pro quarto.

- Como você deixa ele subir assim pro quarto, Henrique? Nem deu tempo de falar nada com ele! -Minha avó reclamou.

- Ué, ele está na casa dele e quis ir pro quarto dele. Por qual motivo eu o obrigaria a ficar aqui na sala? -Meu pai respondeu na maior naturalidade do mundo.

- Eu ia me desculpar com ele, Henrique! Você deveria ter mantido ele aqui.

- Eu não "deveria" nada. Na minha casa, a vontade dos meus filhos vai ser respeitada, a menos que isso coloque a integridade física e moral deles ou de outros em risco, o que não é o caso. O que você queria na verdade, mãe, era agir como lhe desse na telha, sem pensar em mais nada e em ninguém, pra depois de arrependida, enfiar o seu pedido de desculpas goela abaixo dos outros como se nada tivesse acontecido, como se pessoas não tivessem sido magoadas, como se ele não tivesse ficado perdido boa parte da noite na rua, como se ele não tivesse sido assaltado, ou como se ele não tivesse chorado de medo. Eu não vou submeter e muito menos forçar o Felipe a nada que ele não queira, só pra lhe agradar, ainda mais sendo algo do qual ele está coberto de razão em sentir. No que depender de mim, eu não vou mover um dedo pra lhe ajudar a conseguir o perdão dele, e não é porque eu não quero que ele lhe perdoe, mas é só pra ter o gostinho de lhe ver lidando com as consequências das suas atitudes pelo menos uma vez na vida, e não resolvendo tudo com o dinheiro do meu pai, porque isso é uma das poucas coisas no mundo que o dinheiro não pode comprar. -Ca-ram-ba! Eu estava boquiaberto. Nunca tinha visto o meu pai falar tanto e tão rápido quanto naquele momento. E nem era só pela quantidade, mas o conteúdo. Parece que ele ativou o modo promotor e fez uma fusão com o modo pai. Deu pra perceber que ele estava com raiva e tudo o que não conseguiu falar no dia da festa, conseguiu finalmente despejar.

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