Capítulo 58

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André

Eu acho que a minha pressão baixou na mesma hora. Eu precisei sentar. Minhas mãos estavam geladas, os meus pés também. Eu não conseguia respirar direito. Até a minha vista escureceu. Meu estômago deu uma pontada tão forte que eu poderia vomitar a qualquer momento. Eu nunca, na minha vida, tinha experimentado uma sensação tão ruim quanto essa. Minhas mãos começaram a tremer, e eu nunca quis tanto chorar até desmaiar. Eu estava, pela primeira vez, sentindo na pele o que o Felipe sentia quando tinha uma crise de ansiedade, e se eu ao menos sonhasse que era assim, eu teria tentado errar muito menos com ele.

- Meu Deus! -A diretora exclamou, alarmada. -Nós precisamos ligar pra polícia urgentemente!

- Não! -Meu pai, que andava de um lado para o outro na sala, respondeu. -Eu acho melhor não envolver a polícia num primeiro momento. Se são sequestradores, eles vão entrar em contato. E a partir daí sim eu vejo como faremos, se envolveremos a polícia ou não.

- Mas como o senhor pretende resolver isso sozinho?

- Eu tenho os meus meios, diretora. Vamos, garotos. Eu preciso dar um jeito nisso.

- Conte com o apoio da escola para o que precisar.

- Obrigado.

Saímos da diretoria e eu mal conseguia andar. O Gabriel precisou me ajudar a chegar até o carro. O meu coração estava disparado e parecia que ia sair pela boca a qualquer momento. Meu pai estava muito sério e calado, mas eu sabia que a sua mente estava a mil. Ele dirigiu como um louco até chegarmos em casa. Eu tinha emudecido. Não conseguia falar uma palavra sequer. Tinha ficado tão mal, que dessa vez até o meu pai precisou me ajudar a subir para o meu quarto.

- Gabriel, por favor, eu vou precisar muito de você aqui. Eu quero que você cuide do André, cuide como o irmão que ele é pra você. Não sai de perto dele, por favor, e o mais importante: não deixa ele sair daqui. Consegue fazer isso pra mim?

- Claro, tio, pode deixar comigo.

- André, eu vou precisar sair agora. Mas eu te prometo, meu filho, eu não vou descansar um segundo enquanto eu não trouxer o seu irmão de volta pra segurança da nossa casa, ouviu bem? É uma promessa. -Ele, que segurava o meu rosto com as duas mãos, me abraçou, mas quando isso aconteceu, eu não aguentei e desatei a chorar como uma criança.

- Pai, o meu irmão, pai...

- Eu sei, meu filho, eu sei. Eu estou tão arrasado quanto você, mas eu preciso fazer alguma coisa agora, tá bem? Preciso agir o mais rápido possível pra salvar o seu irmão. -Ele desfez o abraço. -Eu só volto aqui se for com ele. Eu vou indo agora, o Gabriel vai te fazer companhia. Eu amo você, filho.

- Também amo você, papai. -Eu odiava essa sensação de que isso poderia ser uma despedida. Eu não sabia o que iria acontecer de agora em diante, então o meu desespero pela falta de visão do nosso futuro, estava me matando por dentro.

Assim que o meu pai saiu, Gabriel me abraçou forte. Eu chegava a gritar, só de imaginar a possibilidade de perder o meu irmão, de imaginar que alguém poderia lhe machucar, lhe fazer mal, ou até mesmo o matar. Muitas coisas passavam pela minha cabeça ao mesmo tempo: o fato de eu o ter na minha vida a tão pouco tempo; o fato de estarmos sem nos falar há algumas semanas; o fato de que nós estávamos muito próximos de fazer as pazes... Todas as minhas atitudes com ele, os meus acessos de raiva, os erros que eu cometi... Mas também vieram à tona as lembranças boas, a sensação que eu tinha quando eu o colocava pra dormir em meus braços e ficava ali velando o seu sono; o cheiro do seu cabelo; o seu rostinho ainda um pouco infantil, mas tão parecido com o meu... A sensação boa de cuidado e carinho que eu tinha com ele...

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⏰ Última atualização: 5 days ago ⏰

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