Capítulo 57

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André

O meu pai tinha razão. Estava tudo uma grande bagunça. Eu me sentia confuso sobre como eu via tudo ao meu redor, à forma como eu sentia falta do meu pai, à minha relação com o Felipe e à forma como ele se relacionava com o Murilo... No meio disso tudo, eu acabei esquecendo completamente da Júlia. Nós estávamos meio que ficando sério, mas eu já não sabia se queria levar aquilo pra frente. Ele é uma garota muito legal, só que eu tô envolvido demais no meu próprio drama, pra trazer mais alguém pra perto de mim e fazer a pessoa sofrer. É isso que eu tenho feito com todo mundo que chega perto de mim. Sabe, tem hora que eu até entendo o meu pai querer me enviar pra um colégio interno... Quem gostaria de ter por perto um filho tão problemático quanto eu?

O efeito da bebida alcoólica tinha passado, mas não as suas consequências. Eu, além de estar de ressaca e com muita dor de cabeça, também precisava lidar com o choque de realidade que não podia mais ser mascarado pela embriaguez.

Felipe passou o domingo inteiro dormindo, e comigo não foi diferente. Eu estava deprimido e não queria ter que lidar com a minha mente. Depois de como eu fiquei na conversa com o meu pai, ele pareceu aliviar pro meu lado e me deixou descansar.

Na segunda feira, foi inevitável levantar da cama pra ir pra escola. A muito contragosto, o fiz. Desci pra tomar café e o meu pai estava sozinho na mesa. Eu cheguei um pouco acanhado, quase envergonhado de estar ali.

- Bom dia, pai. -Falei me sentando um pouco distante dele.

- Bom dia. Dormiu bem?

- Sim... E o Felipe? Ele... Ele está bem?

- Na medida do possível.

- Hum... Ele não vai descer pra tomar café?

- André, eu vou ser sincero com você... O seu irmão não quer te ver. Ele ainda tá com um pouco de medo pelo que aconteceu. O Felipe queria até faltar a aula hoje, mas eu não deixei. Ele já faltou muito nesse pouco tempo que tá na escola. O que eu provavelmente vou fazer é mandar você e o Gabriel com o motorista no outro carro, e eu vou levar e buscar o Felipe no meu. Assim vocês não precisam ficar perto um do outro.

- Pai, isso é loucura... O Felipe é meu irmão, não tem a menor necessidade disso e nem o menor cabimento. Eu vou lá em cima resolver isso agora! -Levantei da cadeira e comecei a andar em disparada na direção das escadas.

- Não, André, volta aqui! -Ele tentou me chamar, mas eu já estava no topo da escada. Eu subi praticamente correndo. Abri a porta do quarto do Felipe e ele se assustou ao me ver.

- O O-o o que você tá fazendo aqui? -Ele, que estava com a sua camiseta do uniforme na mão, começou a andar pra trás.

- Felipe eu vim aqui te pedir desculpa pelo que eu fiz... Eu nem ao menos lembro de qualquer coisa daquela noite, mas eu sei que só o fato de estar bêbado foi algo ruim pra você e...

- Pai, tira ele daqui, por favor... -Meu pai tinha chegado atrás de mim. O Felipe me olhava ainda assustado e com o olhar um pouco distante. Eu o olhei nos olhos por um tempo em silêncio, e aquele olhar triste estava acabando comigo.

- Felipe...

- Vamos, André. -Meu pai pegou no meu braço. -Vocês vão se atrasar.

Eu saí arrasado do quarto do meu irmão. Tinha algo no seu olhar que era diferente das outras vezes em que brigávamos ou nos desentendiamos. Ele parecia mais frio e distante que o normal.

Eu nem cheguei a tomar café. Tinha perdido completamente a fome. Encontrei o Gabriel na frente de casa e entramos no carro.

- Que cara é essa? Ainda tá de ressaca por sábado? Eu não duvidaria se fosse. Do jeito que você bebeu... Eu teria ficado de ressaca por pelo menos uma semana.

Brotherly LoveOnde histórias criam vida. Descubra agora