Capítulo 05

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André

- Você é muito ruim mesmo! -Falei assim que ganhei a partida de futebol que jogava contra o Gabriel, meu melhor amigo, no vídeo game.

- Tô nem aí! Posso até não ser bom no vídeo game, mas na vida real ninguém pode dizer que eu sou ruim! -Isso era verdade. Gabriel é zagueiro do time da escola, enquanto eu sou atacante. O meu amigo é o que se pode chamar de um big boy. Por mais que tenha só 17 anos, assim como eu, ele é um cara parrudo. Costas, ombros, e peitoral largos, pique jogador de futebol americano. E isso o ajudava muito na sua posição de zagueiro. Gabriel já tinha 1,80 de altura. Malhamos juntos desde os 14 anos, mas ele naturalmente sempre foi maior do que eu. Ele tem cabelos pretos, usa baixinho, o que ajuda no visual "mal encarado", que todo mundo que o conhece sabe que só fica no visual mesmo. O que ele tem de mal encarado, tem de zoeiro e brincalhão.

Nos conhecemos assim que eu me mudei pro condomínio. Ele ja morava aqui com seus pais, que são empresários. Eles têm uma rede de academias no estado, e é lá que eu malho, faço natação e muay thai. Logo fui estudar na mesma escola que ele também. Daí, já viu! Estudávamos na mesma sala, na época era o sexto ano, e não satisfeitos em sermos apenas vizinhos, ainda fazíamos as mesmas atividades na academia, então foi impossível não virarmos amigos. Isso sem falar que, quando entramos no ensino médio, começamos a fazer parte do time da escola. Eu literalmente via mais o Gabriel do que ao meu próprio pai. Nós dois somos filhos únicos, então encontramos um no outro o irmão que tanto queríamos.

Meu pai nunca mais se envolveu com nenhuma mulher depois da minha mãe, então a possibilidade de ter um irmão era zero. Mas tudo bem, eu estava satisfeito com a amizade do Gabriel. Por termos pais muito ocupados, a gente acabava fazendo companhia um para o outro.

Tínhamos acabado de chegar da escola, almoçado e tomado banho. Agora estávamos deitados, de cueca, na minha cama enquanto jogávamos vídeo game. Isso de estar de cueca ou pelados na frente um do outro nunca foi uma questão. A gente praticava os mesmos esportes desde pirralho. Nos vermos nus nos vestiários era coisa quase que diária, mas a gente não se importava nem um pouco.

- Mano, te falar uma parada que meu pai me contou esses dias. -Falei, dando pause no jogo.

- Manda aí. -Ele me olhou.

- Lembra que eu te contei sobre aquele negócio que aconteceu com o meu pai e a minha mãe né?

- Tô ligado. Que ela traiu ele e pá...

- Isso... Então, uns dias atrás ele me falou que ela morreu. -Falei e percebi que ele ficou sem ação, o que na verdade me deu vontade de rir.

- Cê tá rindo de quê, mano? Tá maluco? -Ele perguntou, ainda preocupado.

- Da tua cara, mané.

- Fala sério, cê tava me zoando?

- Não, não. Ela morreu mesmo.

- Eu sinto muito, irmão. Como você tá com isso?

- Ah, sei lá! Normal, ué! -Dei de ombros. -Eu não conheci ela, não tem como a gente sentir falta de algo que nunca teve. Quer dizer, eu sinto falta de ter tido uma mãe, mas não dessa mulher especificamente.

- Eu nem sei o que dizer...

- Não precisa. Eu só quis contar pra você mesmo. Vamo voltar a jogar.

Passamos o resto da tarde jogando vídeo game. Lá pelas 18 horas, Gabriel foi pra sua casa e meu pai chegou umas duas horas depois. Ele parecia estar cansado e estressado. Era raro vê-lo assim. Apesar de o seu trabalho não ser fácil, meu pai nunca trazia problemas de lá pra casa. Ele é muito parceiro, sempre cuidou de mim muito bem... É um cara novo, divertido, e tem pique pra me acompanhar em alguns esportes e na academia vez ou outra. Tem só 35 anos, e tá inteiraço ainda.

Brotherly LoveOnde histórias criam vida. Descubra agora