Capítulo 04

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Henrique

Ele não esboçou qualquer reação. Fiquei analisando suas expressões faciais, mas nada.

- Ah, pai. Eu não tive o menor contato com ela. Eu não sei nem como era o seu rosto. Desculpa se você esperava alguma outra reação de mim, mas eu não sinto nada. Pra mim ela é uma completa estranha.

- Não precisa se desculpar, filho. É perfeitamente natural que isso não te afete. Eu já até imaginava que você iria reagir assim. Só te falei mesmo porque no fim das contas, ela era sua mãe, né? Enfim, o enterro será amanhã. Caso você queira ir...

- Deus me livre! Odeio essas coisas de enterro.

- Credo, André. Também não precisa falar assim.

- Foi mal, pai.

- Tudo bem. Eu vou indo dormir. Boa noite! -Falei jogando um travesseiro nele.

No dia seguinte, levei André pra escola e de lá fui direto para o hospital. Encontrei com a Alyne e fomos resolver as questões do enterro. Foi tudo muito simples. Não teve cerimônia e nem pessoas ao redor. Éramos apenas nós dois e os funcionários do cemitério que desciam o caixão na cova. Foi triste. Foi duplamente triste. Triste pela forma que ela morreu, triste porque não sobrou ninguém pra chorar a sua morte. A adolescente popular que brilhava como um raio de sol, morreu sozinha. Me doía pensar como tudo poderia ser diferente. Como poderíamos estar felizes juntos agora... É, a vida é louca.

Alyne já não chorava mais. Ela tinha passado dois dias chorando incessantemente. Acho que seu corpo era incapaz de produzir mais lágrimas. Depois de encerrado o enterro, fui deixá-la no hospital novamente.

- Henrique, mais uma vez, muito obrigado! Eu não sei o que seria de mim sem você. Você resolveu praticamente tudo e conseguiu dar um enterro digno pra minha irmã, sem ter qualquer obrigação com isso. Pelo contrário, tendo todos os motivos pra não querer ajudar, foi lá e ajudou.

- Eu posso ser sincero? Fiz isso muito mais por você do que por ela. Vi o seu desespero nessa situação e não pude deixar de ajudar. Fora que você sempre foi uma pessoa muito legal comigo e não tem culpa de nada do que a sua irmã fez pra mim.

- Eu entendo...

- Bom, eu vou indo. Te desejo tudo de bom e que você e o garoto consigam superar tudo o que aconteceu. Eu preciso ir trabalhar agora. Até qualquer dia, Alyne.

- Tchau, Henrique. A gente se vê por aí. -Nos despedimos com um abraço e então saí.

No trabalho não aconteceu nada fora do esperado, graças a Deus, pois eu não estava com cabeça pra resolver B.O. Em alguns momentos eu me pegava lembrando da foto do Felipe e em como ele era parecido com o André. Fiquei nessa por uns três dias, até que recebo uma ligação da Alyne dizendo que o garoto tinha acordado. Lembro de ter pedido que ela fizesse isso quando acontecesse. Dessa vez resolvi esperar o expediente acabar pra poder ir lá.

Ao chegar no hospital, Alyne me fala que ele já não está mais na UTI e que foi transferido pra um quarto normal. Ao entrar no quarto, o vejo sentado na cama olhando fixamente pra frente.

- Ele está assim desde que contei sobre a morte da Ana. Os médicos disseram que ele está em estado de choque. Já tem algumas horas, e eu sinceramente tô com medo das sequelas que essa situação podem ter deixado no meu sobrinho. -Ela fala e eu continuo o encarando. Ele nem percebe a minha presença ali. -Henrique, será que a gente pode ir lá fora? Eu queria conversar algo com você. -Alyne me chama e saímos. -Eu honestamente não faço ideia de como falar isso. É uma grande loucura e eu sei que foge de qualquer limite seu, mas você é a minha única salvação.

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