Capítulo 10

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Felipe

Eu estava vivendo um verdadeiro inferno. Estar sem a minha mãe era a pior desgraça que já me aconteceu. Pior até do que o tanto que eu apanhava. Agora, na casa de completos estranhos pra mim, eu não podia estar me sentindo mais sozinho.

Eu tive algumas crises desde que cheguei aqui, e uma delas foi um sonho na madrugada, onde eu lembrei nitidamente do dia em que minha mãe morreu. Minha mente era a minha maior inimiga. Eu constantemente ficava com aquela cena passando na minha cabeça. Tava sendo muito difícil pra mim. Henrique era muito bom comigo, ele sempre me ajudava a me acalmar e me consolava quando eu chorava, mas André não, ele me dava medo. A forma como ele me olhava, o jeito que ele me tratou, o tamanho dele... Ele tinha músculos e eu tinha medo de apanhar.

A manhã tinha sido tranquila. A dona Graça veio me chamar para tomar café e eu fui. Tudo era tão gostoso, tinha tantas opções de comida... Coisas que eu nunca tinha comido na vida. Era impossível ficar sem vontade de comer, porque tudo chamava a minha atenção.

Passei o resto da manhã no meu quarto assistindo televisão. Vi que alguns canais passavam desenho animado, coisa que eu amava assistir. Bom, pelo menos quando meu pai não tava em casa e a minha mãe deixava. Depois disso, já próximo à hora do almoço, tomei um banho pra ir comer de novo. Foi quando o André entrou no meu quarto. Eu gelei, lembrando do dia anterior. Eu sabia que ele não gostava de mim. Ele tava olhando pras minhas cicatrizes e eu fiquei com vergonha. Aquilo tudo era muito feio e eu odiava o que cada uma delas me lembrava. Ele me chamou pra conversar e pediu que eu sentasse perto dele, na cama. Extremamente receoso, mas com medo de desobedecer, eu fui.

-Bom, eu... Eu queria te pedir desculpas por ontem... fui um completo idiota com você. Descontei em você a minha raiva por algo do qual você não tem culpa. Eu não devia ter te tratado daquela forma, não devia ter gritado ou sido agressivo... Você já passou por tanta coisa e eu ao invés de ser compreensivo, só piorei tudo. Tô me sentindo muito mal por tudo o que eu fiz. Por isso, tô aqui pra saber se a gente pode começar de novo e se você me dá uma segunda chance de mostrar que eu posso ser o irmão mais velho que você merece ter. Me perdoa?

Eu não esperava por aquilo. Ainda mais do jeito que ele me tratou ontem. O que será que fez ele mudar de ideia tão rápido? Será que o Henrique estava lhe obrigando a fazer isso? Eu não sei... Eu tinha medo de confiar em alguém de novo. E se ele voltasse a me tratar mal? E se quando o pai dele não estivesse por perto, ele me batesse? Eu já tinha sido muito machucado, e às vezes me fechar pro mundo parecia ser a melhor alternativa, pois assim eu não sofreria mais por causa de ninguém. Só que eu estava na casa dele... Eu não podia cooperar pra manter um clima ruim entre nós. Então, a minha resposta foi mais pra ter paz do que pela expectativa de tentar algo novo.

- Tudo bem. -Falei. Eu não sei se acreditava muito naquele pedido de desculpas, mas também não ia ficar muito focado nisso. Se era pra manter a paz em casa e não dar trabalho para o seu Henrique, era melhor acatar tudo.

- Você já almoçou? -Ele perguntou. Respondi apenas balançando a cabeça negativamente. -Quer vir almoçar comigo? -Acenei positivamente. -Você não é de falar muito, né? -Mais uma vez, respondi mexendo a cabeça e ele riu. -Vem, vamos. -Descemos e, ao chegar na sala de jantar, a mesa já estava posta. Sentei na cadeira em frente à dele. André começou a se servir e eu fiquei ali parado observando. -Não vai se servir? -Perguntou. Assim que ele falou, eu comecei. -Ei, não precisa esperar alguém falar pra se servir. Você mora aqui agora, pode fazer isso quando quiser. -Falou e sorriu pra mim. Eu fiquei um pouco sem graça. -Quer que eu te ajude a por sua comida?

- Não, não precisa.

O almoço foi tranquilo. Nós na verdade comemos em silêncio, pois, por não nos conhecermos, a gente não tinha muito assunto. Quer dizer, até que tínhamos, afinal, nós éramos irmãos que nos conhecemos há dois dias. Eu tinha inúmeras perguntas e acredito que ele também. Mas preferi ficar calado. Eu ainda não sabia muito bem como agir perto do André... Tinha medo de irritá-lo.

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