Capítulo 54

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Felipe

Os dias foram passando e eu e o Murilo fomos nos aproximando cada vez mais. Nós não tínhamos, até então, nenhum envolvimento amoroso, por mais que ele tivesse me beijado aquela vez na minha casa. Porém, era inegável que nós não éramos apenas amigos. Não porque andávamos nos beijando, ou coisa do tipo, até porque, pra ser sincero, isso não era algo que eu pensava muito a respeito. Talvez esse meu lado ainda não tivesse se desenvolvido tanto quanto o de outras pessoas da minha idade. Mas era notório que ele me tratava de maneira muito diferente à que tratava os outros garotos da nossa sala, que também eram seus amigos. O carinho, a preocupação, o contato físico... Ele estava frequentemente me abraçando, fazendo cafuné na minha cabeça ou brincando com as minhas mãos. Quando eu precisava ir ao banheiro, ele fazia questão de me acompanhar até a porta; quando eu precisava de alguma coisa no refeitório, ele sempre se oferecia pra buscar pra mim... E várias vezes ficou comigo na arquibancada depois das aulas enquanto eu esperava o treino do André terminar.

Pros garotos da nossa sala, que também eram seus amigos, foi um pouco complicado entender o que estava acontecendo entre a gente. Pra ser sincero, se nem nós sabíamos definir isso, quanto mais os outros. Era nítido no olhar deles um certo incômodo em alguns momentos, porém, depois de ter contado toda a minha história pra eles, eles sempre tentavam ter o máximo de cautela possível comigo.

- Pô, mano, cê nunca mais saiu com a gente. -Um deles falou, enquanto lanchávamos na mesa do refeitório.

- É, Murilo, nem um Fut no fim de tarde rola mais com você. -Outro deles reclamou.

Eu sentia os olhares sobre mim vez ou outra e eu sabia que, de certa forma, eles estavam culpando a nossa proximidade.

Murilo sempre respondia que ia tentar marcar algo com eles, mas isso nunca acontecia. Nós passávamos o dia todo conversando por mensagens, e isso se tornou um vício tão grande, que eu já não largava o celular nem na hora de almoçar, o que foi algo que claramente irritou o meu pai e o meu irmão.

- Eu posso saber com quem tanto você fala nesse celular, que mal tocou na sua comida? -Meu pai falou. André bufou irritado e revirou os olhos.

- Ninguém importante, pai. -Eu não queria dizer que era o Murilo, porque o meu pai já tinha me proibido de falar com ele.

- Já que não é ninguém importante, você não vai ligar de eu dar uma checada no seu celular, né? -Ele falou estendendo a mão. André começou a rir.

- Não, pai, é que...

- Me dê o celular, Felipe. Agora.

- Mas pai...

- Isso não está em negociação. -A muito contragosto, eu passei o celular pra ele.

- Quem é esse tal de Murilo? Você conhece, André? Esse nome não me é estranho...

- É o garoto que você proibiu ele de andar junto. -André deu uma garfada na sua comida como se não estivesse falando nada demais. Eu o olhei como se fosse o fulminar. Um olhar que não foi diferente do que o meu pai lançou pra mim.

- Eu não acredito nisso, Felipe. -Ele falou sério, quase com raiva.

- Pai, ele é muito legal comigo. Na escola ele cuida de mim...

- Você sabia disso, André? -Quando o meu pai perguntou, ele quase engasgou com o suco que estava tomando. -Nem precisa falar nada, sua reação já disse tudo. Eu não quero acreditar que os meus dois filhos estão mentindo pra mim esse tempo todo bem debaixo do meu nariz.

- Primeiro que a gente não mentiu, a gente omitiu. -André falou. -Segundo, que eu tô de olho neles o tempo todo lá na escola, e por mais que eu odeie admitir, o Felipe tem razão. O tal do Murilo cuida bem dele. Eu continuo não indo com a cara dele, mas ele nunca pisou na bola, então não tenho o que falar.

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