Capítulo 12

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André

Sem celular e sem qualquer outro tipo de entretenimento, ir à escola tinha se tornado a coisa mais legal do meu dia. Poder conversar com os amigos no intervalo, ou então poder treinar no futebol... A única parte ruim era ter que olhar pra fuça do Pedro e dos amigos dele. Odeio gente folgada. Mas, como ele era do time, acabava tendo que conviver com ele mais do que devia, tanto nos treinos, quanto no refeitório, onde o time e as líderes de torcida sentavam juntos.

Eu tinha alguns colegas de time e de classe, uns próximos e outros nem tanto, mas nada comparável à minha amizade com o Gabriel. A gente convivia juntos como irmãos há tanto tempo, que sei lá, era muito difícil entrar outra pessoa e fazer uma amizade tão forte com a gente. O máximo que acontecia eram as líderes de torcida tentando se aproximar, mas a intenção delas não era só fazer amizade.

Quando cheguei em casa, Felipe e o meu pai já estavam almoçando. Eu quase sempre voltava com o motorista que o meu pai tinha à disposição pra mim, quando ele não podia me buscar. Ele era meio que um segurança também. Eu tinha muita liberdade pra ir e vir de certos lugares. Não era como se eu andasse com um segurança na minha cola o tempo todo. Tipo, se eu fosse a um shopping, ele me levava até lá, e lá eu andava sozinho de boa. Nós não vivíamos sob ameaça ou algo do tipo, era só precaução por parte do meu pai. A minha família era cheia de pessoas que trabalhavam na área da justiça, os meus avós, alguns tios, entre outros que vieram até antes, formando uma longa linhagem. O segurança foi ideia do meu avô. Ele disse que nessas profissões, existe muita gente corrupta e bandidos que querem se vingar, então era melhor se prevenir.

Nós almoçamos juntos, e nada fora do comum aconteceu. Ficamos conversando um pouco ali, e depois subi para o meu quarto. Cerca de uns dez minutos depois, meu pai aparece na porta.

- Filho eu preciso falar sobre algo muito sério com você.

- Iiiih, quando cê vem assim, boa coisa não é.

- Acertou. -Falou sentando na minha cama. Eu estava sentado na cadeira que uso quando mexo no computador. Fiquei de frente pra ele. -Hoje foi a consulta do Felipe no psiquiatra e o diagnóstico dele é bem complicado. Eu imaginei que seria algo ruim, mas pelas considerações do médico, é até pior do que eu esperava. Por todos os traumas que ele passou, o Felipe foi diagnosticado com transtorno de ansiedade generalizada, início de depressão, estresse pós traumático, início de fobia social, e síndrome do Pânico.

- O que é isso, um cardápio?

- ANDRÉ!!!

- Foi mal, pai, não falei por mal. Só tô tão surpreso que não consegui ter outra reação! Caramba, tudo isso?

- Tudo isso!

- Como pode alguém desenvolver tudo isso? -Sério, eu tava tão em choque que não conseguia raciocinar direito. Quanto tempo e em que intensidade alguém precisava sofrer pra chegar a esse estado?

- Filho, eu vou precisar muito da sua ajuda com o Felipe. Você sabe que eu não tenho muito tempo, o trabalho acaba requerendo muito de mim, e o médico orientou como parte do tratamento, que ele fizesse atividades físicas, esportes, saísse um pouco mais... Mas eu não tenho como fazer isso com ele. Como você já faz tudo isso naturalmente, eu pensei que você poderia...

- Claro, pai! -Respondi instantaneamente. -Pode contar comigo. -Ele me olhou surpreso.

- Cadê o André e o que você fez com ele?

- Ah, pai, diante de toda essa situação, eu não podia ficar agindo igual um moleque mimado, né? Pô, fiquei até envergonhado de ter feito aquela birra toda. Agora tô centrado, vou agir como o homem que o senhor me criou pra ser.

Brotherly LoveOnde histórias criam vida. Descubra agora