Capítulo 32

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Felipe

- E-e-eu...

- Eu falei pra todos irem pro banho! E quando eu disse "todos", isso incluía você. Agora some da minha frente e entra debaixo de um daqueles chuveiros!

- E-eu não vou... -Minha voz quase não saiu. A essa hora todos os garotos pararam suas conversas pra prestar atenção no que tava acontecendo.

- Como é? -Ele riu, desacreditado. -Você só pode estar de brincadeira... Pro banho, AGORA!

- Com licença, eu... -Tentei passar por ele, mas ele segurou o meu braço.

- Cê tá com vergonha, moleque? O que você tem no meio das pernas, esse bando de Zé ruela também tem. -Eu percebia que apesar do jeito bruto dele, ele tinha uma certa liberdade e intimidade pra brincar com os garotos dessa forma, tanto que ouvi algumas risadas ao fundo.

- Com licença... -Tentei passar por ele mais uma vez, mas ele me segurou com mais força.

- Você não tá entendendo... Cê não vai sair daqui sem tomar banho. São as normas da escola! Eu não posso te liberar assim pra assistir o resto das aulas. Você vai pro banho e fim de papo. -Ele tentou me conduzir pra mais perto dos outros garotos. Aquele cara segurando os meus braços e me impedindo de passar, o seu tamanho, o seu tom de voz, o ambiente, tudo estava me fazendo entrar em Pânico.

- Me solta. -Falei baixo.

- O que?

- Eu disse pra você me soltar! -Falei e ele riu.

- Qual é a tua, garoto?

- Eu sei, professor. -Ouvi a voz de um deles atrás de mim. -Ou ele não é um cara, assim como nós, o que dá pra duvidar por causa do cabelinho, ou ele é ruim de documento, se é que o senhor me entende. -Ouvi as vozes rindo atrás de mim. Aquela situação estava completamente constrangedora e eu só queria fugir daquele lugar. Aproveitei que o professor se distraiu e pisei forte o pé dele, que me soltou, gritando de dor.

- AAAU, MOLEQUE, VOLTA AQUI AGORA!!!! -Ouvi ele gritar enquanto atravessei a porta correndo. Olhei pra trás e ele corria atrás de mim. Ser perseguido por um cara adulto começou a fazer o meu coração disparar tanto, que o meu peito começou a doer. Eu não sabia muito bem o que fazer e nem pra onde ir. Eu só tinha uma certeza: o André era a única pessoa que poderia me ajudar. Eu dei sorte de ter pisado no pé do professor e ele não conseguir correr com tanta rapidez, senão ele já teria me alcançado, porém ele ainda assim estava próximo. Era surreal imaginar que um professor estivesse correndo atrás de um aluno na escola, mas acho que ele acabou ficando bem bravo por eu ter pisado o seu pé.

A adrenalina tomava conta de mim e eu sabia que estava no mais alto pico de ansiedade que já tinha sentido. De repente, avistei a sala do meu irmão e aquela era a única chance de eu escapar. Sem pensar duas vezes, abri a porta no meio da aula e pude ver todos se assustando por eu entrar ali correndo. Avistei o meu irmão no fundo da sala e era como se não tivesse ninguém além dele ali.

- ANDREEEÉ. -Gritei por ele e me joguei em seu colo com tanta força que a sua cadeira quase virou com nós dois. Escondi o rosto em seu pescoço e me agarrei a ele com toda força que tinha, segurando em sua blusa.

- Mas o que significa isso? -Ouvi a voz da professora!

- Calma, calma, Felipe! Meu Deus, o que tá acontecendo?

- Finalmente peguei você, garoto! -Ouvi a voz do professor perto de mim e isso me fez tremer de medo. Ele segurou o meu braço e eu ouvi o som estalado de um tapa. Foi o André tirando as mãos do professor de mim.

- NÃO TOCA NELE! -O tom de voz do André de repente se alterou e eu ouvi o som das pessoas surpresas. André me tirou do seu colo e me colocou perto do Gabriel, enquanto levantava e ficava de frente pro professor.

Brotherly LoveOnde histórias criam vida. Descubra agora