Capítulo 27

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Felipe

O resto da semana passou voando e eu mal pude me preparar psicologicamente pra voltar a estudar. Quando dei por mim, já era segunda feira de manhã e o Henrique estava me acordando pra ir à escola. Eu estava tão ansioso que nem tinha dormido direito. Levantei, fui ao banheiro, tomei banho, e vesti o uniforme da escola. Enquanto calçava os meus tênis, meu coração já começou a acelerar. Desci as escadas com minha mochila já arrumada.

Henrique estava especialmente animado essa manhã. Enquanto ele desatava a falar, eu só conseguia me concentrar no quanto o meu estômago tava doendo. Uma dor que competia atenção com a força das batidas do meu coração. Eu só sabia pensar e pensar e pensar sem parar. Minha cabeça atropelava os pensamentos e eu só queria, por um instante, estar inconsciente. Será que eles gostariam de mim? Será que eu faria algum amigo novo? Será que eu me adaptaria às pessoas, ao ensino, ao estilo de vida? Será que eles me aceitariam?

- Felipe, tá tudo bem? Você mal tocou na comida.

- Tô com um pouco de dor no estômago.

- Talvez se você comer alguma coisa, essa dor passe. Acho que é porque o seu estômago tá muito vazio. Come pelo menos uma fruta. Saco vazio não para em pé, e você precisa estar firme e forte para o seu primeiro dia de aula.

Acabei comendo algumas coisas, mas meu coração continuava acelerado e a minha mente a mil. Subi, escovei os dentes e depois saímos de casa. Eu estava no banco de trás junto com o Gabriel. Era de manhã cedo e ninguém estava com tanto humor assim pra ficar falando, exceto o Henrique, então fomos o caminho todo em silêncio ouvindo ele tagarelar. Eu estava tão ansioso, que comecei a sentir náuseas e um pouco de vontade de vomitar, mas controlei ao máximo. Finalmente chegamos na porta da escola. Eu já tinha passado aqui várias vezes, mas nunca cheguei a entrar... Essa seria a primeira vez.

- Chegamos. Eu vou com vocês, preciso levar o Felipe na diretoria. -Henrique falou.

- Se você quiser, eu posso fazer isso, pai. -André respondeu. -Tem alguma coisa importante que só você pode fazer?

- Na verdade, não. Eu só ia apresentá-lo a diretora mesmo e esperar o direcionamento dela sobre as aulas. A parte burocrática já tá toda resolvida.

- Ah, então deixa que eu faço isso.

- Seria de grande ajuda. Obrigado, filho. Então é isso. Felipe, desejo que tenha um excelente primeiro dia de aula. -Henrique, que estava no banco do motorista, virou-se e passou a mão na minha cabeça. -Vai dar tudo certo, ok? André, cuida bem do seu irmão, tá bom? Fica de olho nele.

- Pode deixar! Tá comigo, tá com Deus. -André respondeu.

- E comigo também! Pode deixar que eu vou ficar de olho no moleque, tio. -Gabriel passou um braço ao redor do meu ombro. -Descemos do carro e o Henrique foi embora. Os meninos começaram a caminhar na frente, e eu fui atrás. Eles passaram pelo portão da escola, mas eu não passei. Quando cheguei perto, minhas pernas travaram e eu simplesmente perdi a capacidade de andar. Meus joelhos tremiam. Eles continuaram andando como se eu ainda estivesse atrás deles, sem notar que eu tinha parado de andar. Foi quando de lá de onde estava, André olhou pra trás e percebeu que eu não estava ali. Ele me olhou e eu olhei pra ele, que voltou correndo ao perceber o meu estado.

- Não precisa ter medo, Lipe. -André segurou as minhas duas mãos, que estavam geladas, e começou a massagear as costas delas com o polegar. Minha respiração estava ofegante. Gabriel também se aproximou. Algumas pessoas passavam por nós e ficavam olhando a situação. -Olha pra mim. -André pôs a mão em meu rosto. -Eu sei que é difícil, mas eu confio em você, eu acredito que você consegue. Eu tô aqui contigo, não tô? Eu prometo que nada de ruim vai acontecer, porque eu não vou deixar. Vem cá. -Ele me abraçou forte e beijou o topo da minha cabeça. -Eu amo você, carinha, e sei que você é capaz. -O André disse que me ama enquanto estávamos abraçados. Essa era a primeira vez que ele dizia isso pra mim. Essa era a primeira vez que alguém fora a minha mãe, a minha tia e o Henrique, dizia que me amava. Eu senti vontade de chorar, não esperava ouvir isso agora. André continuou abraçado comigo na porta da escola até o momento em que a minha respiração normalizou. -Nós precisamos entrar agora. Você acha que consegue? -Eu apenas respondi que sim com a cabeça. -Então vamos. -André segurou uma das minhas mãos e começamos a andar, entrando na escola. Ele parecia não se importar em estar de mãos dadas comigo, e isso era estranho pra mim. Os garotos da minha antiga escola mal podiam encostar um no outro, a não ser que fosse pra brincar de luta.

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