Capítulo 13

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André

- Você falou que não fazia muita coisa... Então eu quero saber o que você tem vontade de fazer! -Eu tinha tido uma ideia. Iria memorizar tudo o que ele falasse que tem vontade de fazer e listar todas essas coisas, pra depois dar um jeito de realizar todas elas.

- Hum... Deixa eu pensar... Acho que ir ao cinema, comer naquelas lanchonetes do shopping... Minha mãe só ia ao shopping pagar contas, nunca dava pra comer nada. Mas uma vez ela comprou um sorvete de casquinha pra mim. -Eu sei que era muita idiotice se emocionar por isso, mas limpei uma lágrima que caiu do meu olho. Nós dois estávamos deitados no chão e não nos encaravamos diretamente, ou seja, não deu pra ele ver. -Comer um bolo de chocolate, jogar vídeo game, ir à praia... Por enquanto é só isso que vem à cabeça.

Um bolo de chocolate... A DROGA DE UM BOLO DE CHOCOLATE! Não era possível que isso fosse só falta de dinheiro! Era maldade, eu sabia que era. Aquele cara era um desgraçado. Eu nunca pensei que um dia eu fosse odiar tanto alguém da forma que eu odiava o pai do Felipe. Caramba, por mais que ele já tivesse 14 anos, quando tudo aconteceu, ele ainda era só uma criança! Isso não se faz com uma criança! Eu não sei o que deu em mim na hora, se por instinto ou pelo calor do momento, mas ainda deitado no chão, eu trouxe o seu corpo pra perto do meu e o abracei forte. Eu sei que nós ainda não tínhamos qualquer tipo de intimidade pra isso, e talvez em outras circunstâncias, abraça-lo poderia ser constrangedor, mas eu só sentia que eu precisava fazer isso. Ele pareceu um pouco assustado no início, mas depois senti seus braços envolverem a minha cintura. Sua cabeça ficou na altura do meu peito. Não sei por quanto tempo ficamos assim, mas eu sei que não era desconfortável e nem constrangedor. Era curador. Eu conseguia sentir a tensão saindo do corpo dele.

- Ei, olha pra mim. -Falei e ele levantou um pouco a cabeca, ainda abraçados. -Daqui pra frente, tudo vai ser diferente. Eu vou cuidar de você, ouviu bem? E você nunca mais vai passar por nada daquilo, porque eu não vou deixar. -Eu estava determinado a isso. Felipe apenas deitou a cabeça em meu peito de novo e eu comecei a passar a mão nos seus cabelos. Era estranho o quão confortáveis algumas coisas estavam sendo pra nós. Era como se nós não precisássemos criar afinidade pra ter laços ou intimidade. Tinha algo a mais, algo que nos ligava e que simplesmente gerava compreensão em cada atitude. Não tinha espaço pra questionamento. Acho que era aquilo que o Gabriel falou de que quando o sangue chama, não tem o que fazer. Era uma energia que completava a minha. Mesmo com poucas conversas, eu tinha certeza que ter o Felipe na minha vida era bem mais do que algo sobre duas pessoas que sofreram as consequências das escolhas dos seus pais. Tê-lo era um encontro que foi só questão de tempo até acontecer.

Ficamos ali, naquela posição, por pelo menos umas duas horas, e isso só aumentou a minha certeza do quanto o Felipe precisava de carinho. Ele não estava preso a mim e nem ali por obrigação. Ele ficou porque quis ficar.

Por ser um horário de início de tarde, aquela área estava deserta e tínhamos apenas nós dois contemplando o céu, o vento e os pássaros cantando. Falamos bem pouco depois do que conversamos, mas o silêncio não era algo constrangedor.

Por volta das 16 horas, começou a chegar gente por lá. Algumas babás com crianças pequenas, outro grupo de crianças maiores com seus patins, patinetes e bicicletas e alguns garotos da idade do Felipe pra jogar bola na quadra.

- Cê quer aprender a andar de bicicleta agora?

- É... Agora? Acho que tem muita gente aqui.

- Não tem problema. Tem bastante espaço.

- Eu não sei... Não fico muito confortável com tanta gente assim.

- Olha pra eles... Eles estão entretidos naa suas próprias vidas. Eu sei que ter muita gente por perto pode ser assustador, mas, no fundo, a real é que ninguém tá prestando atenção... E outra coisa, os nossos medos, nós só vencemos enfrentando. Vem, vamos, confia em mim, eu vou tá aqui do seu lado e se as coisas começarem a ficar ruins demais, eu prometo que a gente vai pra casa. -Levantei e estendi a mão pra ele, que ponderou, mas no fim aceitou. Peguei a bicicleta e fomos pra parte asfaltada da rua. -Esse aqui é o freio dianteiro e esse aqui, o freio do pneu traseiro. Sempre é melhor usar o freio de trás. De resto, não tem muito segredo, você tem que pedalar e se equilibrar. Eu vou nas primeiras vezes segurando o guidão e o banco na parte de trás com você, e aos poucos vou soltando até cê conseguir se equilibrar.

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