Capítulo 39

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Felipe

Perdi a noção de quanto tempo eu fiquei naquela cabine chorando desesperadamente. Eu não podia acreditar no que tinha acabado de acontecer comigo. Eu me senti abusado, usado, invadido, invalidado, sujo... Tudo o que de pior se podia imaginar.

Não sei de onde tirei forças pra sair dali. Andei lentamente até a pia e lavei o rosto. Meus olhos estavam vermelhos de tanto chorar. Seria impossível disfarçar que eu estive chorando, mas se eu ao menos conseguisse chegar na sala sem chorar, já seria ótimo.

Mas a quem eu queria enganar? Eu não conseguiria parar de chorar tão cedo e também não podia voltar pra sala nesse estado. As perguntas iriam começar a vir, eu não conseguiria falar sobre, e muito menos poderia falar. O Pedro tinha me ameaçado. Foi então que eu tive a ideia de procurar um lugar pra me esconder durante todo o período do restante das aulas. Fui pro campo de futebol da escola. Ele provavelmente não seria usado hoje, já que era começo de semana. Achei que embaixo das arquibancadas seria um ótimo lugar pra ficar sem ser incomodado. Achei um canto que ficava entre uma parede e uma coluna grande. Ali era ideal pra que ninguém me achasse. Sentei no chão, abraçando as pernas e continuei chorando. Cada toque do Pedro ainda estava vivo no meu corpo. A sensação era que ele continuava a me tocar sem parar. Eu chorava tão forte que chegava a ficar sem ar.

Toda a manhã tinha passado. Eu não tinha levado o meu celular, mas conseguia me guiar pelo sinal da escola que tocava pra anunciar as trocas de aula. Levantei a muito contra gosto, já que por mim eu ficaria ali pra sempre, porém tinha chegado a hora de ir pra casa.

Esperei mais tempo que o normal pra voltar na sala e buscar a minha mochila. Esperava que a maioria das pessoas já tivesse ido embora. E realmente, a escola estava bem vazia. Quando cheguei na minha sala não tinha mais ninguém, exceto uma pessoa. Murilo estava lá sentado ao lado da minha carteira, segurando a minha bolsa.

- Onde você estava? Eu passei a manhã inteira procurando por você nessa escola igual a um louco, sabia? -Ele parecia bravo e preocupado ao mesmo tempo.

- Desculpa. -Foi a única coisa que eu consegui falar. Seu semblante mudou rapidamente quando ele olhou em meus olhos.

- Tá tudo bem com você? Que cara é essa? Você estava chorando?

- Você pode me dar a minha bolsa, por favor? -Eu não conseguia responder a nenhuma daquelas perguntas, porque se eu começasse a falar, eu nunca ia parar de chorar.

- Fala comigo, por favor... O que aconteceu? -Murilo tentou tocar em meu braço.

- Não! Não... não toca em mim, por favor. -Eu rapidamente recuei, abaixando a cabeça para não encará-lo.

- Olha, se isso tiver sido pelo beijo, me desculpa, eu...

- Não. Não é nada com você... Você pode só me dar a minha bolsa, por favor?  -Ele estendeu a mochila na minha direção, e eu a peguei, virando rapidamente e saindo dali. Fui pra parte da frente da escola e encontrei o Gabriel e o André, que estava bem irritado.

- Onde foi que você se meteu, hein? Que merda! Tamo há meia hora te esperando já. Da próxima vez eu vou te deixar aí. -Falou já passando pelo portão e indo em direção ao carro. Eu não falei nada, só entrei no carro e voltei pra casa junto com eles numa viagem tão silenciosa quanto a nossa vinda, fazendo o máximo de força possível para não chorar na frente deles.

Assim que chegamos em casa, eu subi correndo pro meu quarto, pois não via a hora de poder chorar em paz de novo. Passei esse tempo todo da vinda segurando o choro pra finalmente conseguir desabar mais uma vez no meu quarto. Eu tomei um banho bem demorado, mas nada foi capaz de tirar a sensação das mãos dele deslizando pelo meu corpo. Liguei o ar condicionado e me enfiei debaixo de várias camadas de cobertor, cobrindo todo o meu corpo, inclusive a minha cabeça. O meu plano era ficar ali pra sempre. Não comi mais nada durante o resto do dia. As lembranças voltavam à minha mente e me embrulhavam o estômago.

Brotherly LoveOnde histórias criam vida. Descubra agora