Capítulo 53

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Felipe

Ir à escola no dia seguinte foi desafiador. Eu não sabia como seria tudo depois do que aconteceu ontem. André insistia pra ficar na minha sala enquanto as aulas não começavam, mas conhecendo bem o meu irmão, eu sabia que isso não acabaria bem. Fiz ele ir pra sua sala, com a promessa de avisá-lo imediatamente caso algo saísse da normalidade.

Finalmente sentei na minha cadeira de costume. Murilo e Sofia não tinham chegado ainda. A sala estava relativamente vazia. Vi Bernardo entrando, e isso me deixou um pouco alerta, o que só aumentou quando eu o vi vindo em minha direção.

- Oi, Felipe. -Ele estava sério, mas longe de parecer bravo. Parecia mais triste do que bravo.

- O-oi.

- Eu queria te pedir desculpas por ontem... -Ele estava meio sem jeito e não conseguia me encarar.

- tudo bem.

- Eu não sabia de tudo o que você passou...

- Eu posso ser sincero? Nós não precisamos saber do que as pessoas passaram, pra sermos gentis com elas. Talvez você possa tentar isso mais vezes...

- Oi, oi! Tá tudo bem por aqui? -Murilo apareceu ao lado do Bernardo, colocando um braço ao redor do seu pescoço. Parecia um abraço, mas eu sabia que a sua intenção não era necessariamente abraça-lo.

- Sim. -Bernardo respondeu.

- Eu não perguntei pra você. Tá tudo bem, Felipe?

- Tá sim. -Eu ri espontaneamente. - O Bernardo só veio se desculpar por ontem.

- Sério? -Ele realmente pareceu surpreso. -Essa entrou pro meu top cinco cenas que eu jamais imaginaria ver. -Murilo começou a rir, sentando-se na cadeira à frente da minha.

Ao longo da manhã, as coisas foram um tanto fora do comum. A maioria dos garotos me cumprimentou quando chegou, assim como eles faziam entre si sempre. Claro que não com o mesmo entusiasmo e intimidade, mas eles pelo menos falaram comigo, o que já era um progresso.

Quando o intervalo chegou, André apareceu na porta da minha sala, como de costume. Dessa vez ele encarava cada um dos garotos que saía, como se escolhesse quem seria sua próxima vítima.

- Dá pra você parar com isso? Eu já disse que está tudo resolvido!

- É, mas é sempre bom eles lembrarem de quem você é irmão.

- Enfim, mudando de assunto, eu acho que vou sentar com o pessoal da minha turma hoje no refeitório.

- Você vai trocar os seus irmãos por... Eles? -André se fez de ofendido.

- Você e o Gabriel já são bem grandinhos, né?

- Você anda tão afiado ultimamente, sabia? Dessa vez eu vou deixar passar. Até mais tarde.

Fui com o pessoal para o refeitório. Tava todo mundo meio misturado, mas o Murilo estava sentado ao meu lado, e a Sofia do meu outro lado. Eu me sentia seguro com eles ali. Eram muitas conversas paralelas acontecendo ao mesmo tempo e, enquanto Murilo conversava com alguns dos garotos sobre um jogo de futebol qualquer, ele naturalmente passou um dos braços ao redor do meu pescoço, repousando-o em meus ombros. Foi espontâneo, como se ele nem ao menos tivesse se dado conta do movimento que fez, pois estava inteiramente concentrado em falar e ouvir a conversa.

Eu lanchava enquanto eles conversavam, mas em um dado momento, senti começar a pesar o braço do Murilo ao redor do meu ombro, e pra descansar um pouco, acabei repousando a cabeça em seu ombro. Seu braço, que estava nos meus ombros, foi automaticamente em direção à minha cabeça e começou a fazer um cafuné no meu cabelo. Aquilo pra mim também era natural, afinal, era assim que o André, o meu pai, e até mesmo o Gabriel me tratavam. Mas provavelmente isso não era tão normal assim para os garotos que estavam em nossa mesa. Eles começaram a me olhar de um jeito estranho, e olhavam entre si também. Aquilo começou a me incomodar e a me deixar envergonhado. Fiz menção de sair de perto do Murilo, mas ele me segurou na mesma posição e me olhou nos olhos com um sorriso no rosto como quem diz: "tá tudo bem". Isso me tranquilizou um pouco.

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