Felipe
A noite chegou e o clima na casa estava estranho. Eu não sabia do André, e o meu pai tava trancado no escritório desde cedo. Eu tava passando pela sala, quando a campainha toca e eu resolvo abrir a porta.
- Ragazzino! -Era aquele amigo do meu pai, dono do restaurante na praia. Eu não lembrava bem o nome dele. Ele estava com várias sacolas e foi entrando, colocando tudo na mesa da sala de jantar. Ele usava uma camisa jeans, uma bermuda de sarja cáqui, e um tênis desses que não tem cadarço, em couro marrom e base branca. Seu cabelo estava preso em um meio rabo de cavalo, aqueles que usam o cabelo só da orelha pra cima. -Vem cá dar um abraço no tio!! -Ele veio com tudo pra cima de mim, erguendo-me do chão e me rodando no ar. -Cadê o seu pai? -Ele mal perguntou e o meu pai saiu do escritório dele.
- Esse barulho todo na minha sala só podia ser você né, italiano safado.
- Boa noite pra você também, Henrique! Não reclama do barulho, que hoje eu trouxe o seu jantar.
- Aí sim, hein? -Meu pai foi direto nas sacolas que estavam sobre a mesa.
- "Obrigado, Giuseppe, como você é gentil. Inclusive me dá aqui um abraço, velho amigo." -O amigo do meu pai começou a imitar a voz do meu pai em um tom irônico.
- Não seja dramático!
- Cadê o André?
- Tá no quarto dele.
- Eu vou lá chamar! -Ele subiu as escadas correndo.
- Ele é sempre assim? -Perguntei.
- Às vezes piora.
- Vem, vou pedir pra graça preparar a mesa.
Ela recolheu todas as sacolas com as embalagens de comida e substituiu por refratários, enquanto preparou uma mesa posta. Sentei ao lado do meu pai. André e o Giuseppe vinham conversando animadamente enquanto desciam as escadas, e essa empolgação continuou durante todo o jantar, excerto por mim, que apenas observava os três conversando.
- Você não é de falar muito, hein, bambino?
- Andaram acontecendo algumas coisas com ele na escola ultimamente e ele tá um pouco pra baixo ainda por isso. -Meu pai respondeu enquanto fez um rápido cafuné na minha cabeça.
- Alguém tava mexendo com você, Felipe? -Ele me perguntou e eu balancei a cabeça positivamente. -E cadê você nessas horas pra fazer alguma coisa, ragazzo? -O italiano deu um soco no braço do meu irmão, que estava ao seu lado. -Vocês não estudam na mesma escola?
- Auu!! -Meu irmão massageou a área em que recebeu o soco. -Se você soubesse o estado em que eu deixei o garoto, você não teria feito isso.
- Ok Popó do Paraguai, termina de comer e encerra esse assunto. Deu por hoje! -Meu pai falou e eu entendi que era porque eu estava ali. Agradeci internamente por isso.
Depois do jantar, fomos todos pra sala, pra continuar conversando. Quer dizer, eles conversando e eu ouvindo. Assim que sentou no sofá, meu pai me puxou pelo braço e me fez sentar em seu colo. Fiquei de lado pra ele, com os pés apoiados no sofá, enquanto minha cabeça repousou em seu peito e ele começou a mexer no meu cabelo. Não demorou muito e eu dormi ali mesmo.
André
- Ih, pai, o Felipe dormiu! -Falei rindo.
- Deixa ele aqui um pouquinho, daqui a pouco eu levo ele lá pra cima. Quero curtir o meu filhote mais um pouco.
- Ah, cara, que fofo! -O tio Giuseppe falou. -Você tá quase me fazendo ter vontade de ser pai.
- Ele é lindo, não é? -Meu pai falou com um brilho nos olhos, enquanto observava o Felipe dormindo, todo orgulhoso. Babão!
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Brotherly Love
Ficção AdolescenteIsso não é um romance, mas definitivamente é sobre o amor. Neste drama familiar, acompanharemos a história de dois irmãos que não sabem da existência um do outro e que, por uma fatalidade, passam a ter que morar juntos. Com muitas questões causadas...