Capítulo 22

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Felipe

Eu nem me lembro como acabei dormindo ontem, mas acordei deitado e coberto na minha cama. Não dava pra acreditar que tudo aquilo tinha acontecido. O Henrique agora é meu pai. Quer dizer, ele sempre foi, né? A gente só não sabia. Era legal e estranho ao mesmo tempo. Como forçar a mente a entender que agora outra pessoa era o meu pai? Eu com certeza não conseguiria chamá-lo assim.

- Bom dia, pequeno. Dormiu bem? -Henrique entrou no quarto, já vestindo o seu tradicional terno e gravata. Ele estava com um sorriso diferente... Parecia tão feliz em me ver, que seus olhos brilhavam. Era a primeira vez que eu sentia que alguém realmente queria tanto estar comigo.

- Bom dia. Dormi bem sim. -Falei enquanto ele sentava na cama ao meu lado.

- Passei só pra te dar um oi antes de ir trabalhar. Hoje você tem a sua primeira sessão com a psicóloga. A Graça vai te avisar quando tiver perto do horário de ir, ela vai acompanhar você, e o motorista vai leva-los, tá bom? -Eu apenas acenei positivamente como resposta. -Vou tentar chegar mais cedo hoje, quero passar um tempo com você e o André. Bem, eu vou indo. Até mais. Qualquer coisa, pede pra graça me ligar que eu venho correndo.

- Ta bom. -Essa conversa foi meio constrangedora, não pelo assunto, mas porque de certa forma eu não sabia muito bem como agir com ele agora.

A sessão seria pela manhã mesmo. Graça e eu fomos com o motorista ao consultório. Assim que tudo começou, a psicóloga pediu pra eu contar toda a minha vida, tudo o que eu lembro de já ter vivido. Foi bem difícil. Ela era uma completa estranha, e me abrir com quem eu não conheço não é normal pra mim. Isso sem falar que reviver cada momento foi pior ainda. Se a intenção daquela consulta era me fazer melhorar, o seu efeito tinha sido totalmente o contrário.

Passar por tantas emoções desde o dia anterior, tinha me deixado mentalmente exausto e isso estava impactando até o meu físico. Eu precisava urgentemente me deitar e ficar em silêncio, sozinho, em paz. E foi isso que eu fiz ao chegar em casa. Avisei a Graça que não iria almoçar no horário de sempre e que quando estivesse com fome, desceria pra comer alguma coisa. Assim que entrei no quarto, uma paz invadiu o meu coração. Às vezes, estar sozinho é tudo o que a gente precisa. Troquei de roupa, coloquei um pijama e me joguei na cama, debaixo das cobertas.

Ali, em cima daquela cama, eu não vi o tempo passar. Em alguns momentos eu dormia, em outros eu ficava acordado olhando pro nada, pensando em nada, me dando o direito de pelo menos uma vez, não estar com um turbilhão de pensamentos. Só fui me dar conta do horário, quando Henrique entrou pela porta e eu olhei para o céu escuro através da janela. Tinha anoitecido.

- Hey, a Graça me falou que você não comeu nada hoje... O que aconteceu? -Ele parecia preocupado. Era incrível a forma como ele tinha mudado comigo. Não que antes ele me tratasse mal, muito pelo contrário... Mas agora, eu conseguia sentir o quanto ele se importava comigo, em cada palavra, no tom de voz...

- Eu estou sem fome.

- Mas não pode ficar sem comer, filho... -Ele sentou ao meu lado na cama. Era estranho como ele tinha aceitado essa nova realidade tão rapidamente. -Você vai acabar passando mal se não se alimentar direito. Tá tudo bem, Felipe? Eu tô te achando meio pra baixo... Como foi a consulta? -Ele me analisava, enquanto alisava os meus cabelos.

- Eu só tô cansado... Venho recebendo muita informação pra processar desde ontem.

- Sobre isso, eu queria me desculpar... Acho que me precipitei ao contar daquela forma. Talvez eu devesse ter preparado melhor o terreno e não ter pego você de surpresa... Essa não é uma notícia fácil de receber, ainda mais pra você, e eu agi no calor da emoção. Eu iria esperar o teste de DNA que eu solicitei, sair, pra poder em uma outra hora falar com mais calma. Sei que não seria fácil do mesmo jeito, mas você talvez não estivesse assim.

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