Capítulo 06

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Felipe

Depois de chorar mais do que eu achava que fosse capaz, a sensação era de total apatia. Eu sinceramente me sentia um morto vivo. Eu não conseguia comer e nem beber nada, por isso me mantiveram no soro. Eu não tinha motivação pra melhorar, muito menos pra viver.

Algumas vezes aquele amigo da tia Alyne, que eu descobri se chamar Henrique, vinha me visitar. Ele era legal, brincava comigo um pouco e algumas vezes até me animava, mas nada demais. Eu descobri que teria alta no dia seguinte e, pra ser sincero, isso me animou um pouco. Já não aguentava mais ficar naquele lugar. Quando deu por volta das sete da noite, minha tia me chamou pra conversar e, pra minha surpresa, o Henrique estava junto.

- Meu amor, a tia tem algo pra te falar. -Como ela veio com o Henrique, eu já imaginava que ela diria que eles são namorados, ou algo assim. -Bom, você tem visto o Henrique bastante por aqui, certo?

- Sim.

- Então, é que na verdade, ele não é apenas um amigo meu. -Não falei? Eu sabia! -Tem algo sobre a vida da sua mãe e sobre a sua vida, que ela nunca te contou. Só que dadas as circunstâncias, chegou o momento de você ficar sabendo.

- Eu fui casado com a sua mãe antes de ela conhecer o seu pai, Felipe. -Henrique falou me olhando nos olhos. Eu olhei automaticamente pra minha tia, que confirmou com um aceno de cabeça. -E antes de você nascer, nós tivemos um filho. Você tem um irmão, o André, meu filho.

- Isso... Isso é verdade, tia?

- É sim, meu bem.

- Como... Por que? Por que ela nunca me falou?

- Você sabe como o Antônio é, né? Era complicado falar sobre qualquer coisa.

- Como... Como ele é? -Perguntei, curioso.

- O seu irmão? -Henrique perguntou e eu acenti com a cabeça. -Ah, vocês são muito parecidos. Olha só. -Ele me mostrou uma foto do garoto, e realmente nós nos parecíamos, mas ele era muito mais bonito que eu. Fiquei algum tempo olhando aquela foto em silêncio, quase que decorando cada traço seu.

- Lipe, você sabe que as coisas agora vão ser um pouco mais difíceis, né? -Minha tia começou a falar. -Sem a sua mãe por perto, até eu fico um pouco perdida. Eu queria muito... -Tia Alyne começou a chorar. -Muito mesmo ter condições financeiras pra te dar um futuro digno, meu menino. -Ela segurou na minha mão. -Mas, infelizmente, o pouco que eu ganho mal dá pra mim. O André agora é o seu parente mais próximo, então eu pensei de... De você ir morar com o Henrique e com ele...

- Tia, mas... Mas e você? E eu? Como... Como que eu vou ficar sem você? -Eu já comecei a chorar e a me desesperar, me encolhendo em seus braços.

- Meu querido, o Henrique tem uma boa condição financeira pra cuidar de você, pra colocar você em uma boa escola... E você vai conviver com o seu irmão agora. Olha só que demais! -Ela sorria enquanto chorava, mas aquilo não era capaz de me convencer...

- Tia, por favor, não me deixa! Eu não quero ficar sozinho! Eu já perdi a minha mãe, não quero perder você!

- Você não vai me perder, príncipe da titia! Sempre que eu puder, eu vou te visitar. Você corria mais risco de me perder, se ficasse comigo. O seu pai, ele está foragido, Lipe. Eu não tenho como te oferecer a segurança que o Henrique tem. É pro seu próprio bem, meu amor.

- Tia, por favor...

- Eu sei que a gente ainda não se conhece direito, Felipe. -Henrique começou. -Mas pode confiar em mim, assim como a sua tia confiou. Ela me chamou porque sabia que eu poderia te ajudar.

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