MASSACRE

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Quase nunca pude relaxar, quase nunca pude apenas me sentar e deixar a luz do sol entrar. Tudo o que queria era poder me sentar em um lugar, relaxar, deixar a luz do sol queimar em minha pele, mas sempre foi difícil me sentir como se eu pertencesse á algum lugar. Tudo o que eu queria era poder me sentir feliz. Dizem que tenho todas as ferramentas para ser feliz, mas porque não me sinto assim?

Nunca saí muito. nunca fui aquele ao qual as pessoas ligavam para pedir minha companhia. Acho que as pessoas tinham pena de mim pelo o que tinha acontecido e elas não me viam como uma pessoa, mas como algo inanimado no mundo que existe apenas para fazê-las se sentir bem consigo mesmos. Poucas eram as pessoas que me viam como um ser humano. Meu pai era uma das poucas pessoas que me conhecia de verdade.

Abri os olhos devagar. A luz me incomodou e me faz lacrimejar por alguns instantes. Minha visão ficou embaçada por um momento e logo a luz desapareceu. Olhei para os lados tentando reconhecer onde estava. Sentia meu corpo balançar de um lado para o outro como se eu fosse um objeto sem importância. Tentei me mover, mas não consegui. Não foi difícil reconhecer. Era como naquela manhã em que fui encontrado no jardim daquela amável família.

- ele está recuperando a consciência – falou uma voz baixa e grave.

Movi meus dedos tentando sentir meu corpo e percebi que minha mão esquerda tocava algo quente. Apertei meus dedos e percebi que segurava em uma mão.

- você vai ficar bem – falou um rosto entrando em meu campo de visão. Era o soldado que tinha salvado minha vida. Percebi que ele segurava minha mão tentando me acalmar.

Minha visão se recuperou por completo e percebi que estava imóvel. Estava deitado em uma maca dentro de uma ambulância. Sabia. Era difícil esquecer. Me sentia tonto.

- meu pai! – falei rouco tentando encontrar minha voz.

- o que foi? – perguntou Ralf se inclinando.

- Meu pai... está bem?

- não entendi – falou ele aproximando o rosto bem próximo ao meu colando sua orelha em meus lábios.

- acidente de carro... meu pai... - falei dessa vez mais alto.

Ralf olhou para um dos paramédicos, mas ninguém disse nada. Aquele silêncio dizia tudo.

- podem me dizer o que aconteceu – falei sentido a ambulância parar – eu estou bem – falei respirando fundo tentando mostrar que estava bem.

Nesse momento a porta da ambulância se abriu e tiraram minha maca. Ralf pulou para fora da ambulância e parou a maca.

- você levou um tiro – falou Ralf – no braço. Quando pulei em cima de você consegui te desviar. O trajeto era no seu peito.

- é por isso que estou sentindo um ardor – falei reparando no curativo que fizeram as pressas.

- você estava em choque, por isso não sentiu na hora, mas quando você tentou correr eu vi o sangue no seu braço, por isso te segurei.

- vou ficar bem, certo? – falei com medo. Toda essa situação trazia lembranças.

- vai sim. Você vai fazer uma cirurgia, mas vai ficar bem – falou Ralf.

- me promete uma coisa? – falei segurando a mão dele.

- prometo – falou ele apertando os lábios.

- você vai procurar saber como meu pai está?

- sim – falou ele olhando em volta. Ele via algo que eu não via já que estava imobilizado – qual o seu nome? Posso ligar para alguém?

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