Seis dias. Seis dias preso naquele hospital. Seis dias preso em um inferno dentro da minha mente. Seis dias sem visitas, porque eu não queria ver ninguém. Seis dias e eles ainda não tinham liberado o corpo das vítimas para o velório. Meu pai estava morto e tudo o que eu queria é que ele descansasse em paz. As únicas pessoas que eu queria ver era minha mãe Bonnie e minha irmã Lea, mas elas não tinham vindo me visitar. Não entendo o porque delas terem me abandonado logo nesse momento. Meus olhos ainda estavam inchados. Fazia três noites que não dormia. A última conversa que tive com meu pai se repetia em minha cabeça. Eu queria tanto ter dito coisas diferentes. Ter dito algo como "eu te amo" ou "não podia ter pedido por um pai melhor."
Era estranho sentir aquilo pelo homem que eu nem me lembrava direito, mas era um bom sinal. Algo dentro de mim sabia que ele eram meu pai mesmo que eu o tenha conhecido á pouco mais de um mês eu já sentia aquele amor de pai e filho e não outro sentimento confuso. O que me reconforta é que os terroristas tinham sido mortos. Mereceram cada tiro que levaram. Não sei bem se isso é algo bom ou ruim já que eles esperam por setenta e duas virgens.
- bom dia – falou a enfermeira chegando naquela manhã. Todos os dias ela aparecia na mesma hora para ver como eu estava, checar meus sinais vitais, me dar remédios entre outras coisas.
- bom dia – respondi sem ânimo nenhum.
- como passou a noite?
- acordado – falei me sentando na cama respirando fundo – assim como as noites anteriores.
- vai ficar tudo bem.
- é o que todos dizem ao entrar nesse quarto: 'via ficar tudo bem'. Não. Não vai ficar nada bem.
- você está mesmo se sentindo bem?
- sim. A ferida da bala já não dói.
- eu não estou falando fisicamente. Fisicamente você parece está bem, estou querendo saber se por acaso você quer que eu chame o psicólogo.
- Não. Não quero conversar com o psicólogo.
- porque você não deixa as visitas entrarem?
- não. Não quero visitas. A não ser que seja minha mãe ou minha irmã.
- você não quer...
- Pare de ficar perguntando o que eu quero porque a única coisa que eu quero é ver meu pai uma última vez e eles não liberaram o corpo.
- não precisa ficar irritado – falou a enfermeira tentando me acalmar – tudo vai se resolver.
- OK – falei tomando um gole do copo de água que ela me entregou – é o que todos dizem: "tudo vai se resolver". É fácil dizer quando se está de fora.
A enfermeira saiu do quarto e eu liguei a televisão para ver se falava alguma coisa sobre o atentado e sobre os corpos das vitimas. Aposto que assim como eu, todas as famílias esperavam ansiosas pela liberação do corpo das vitimas. Tudo o que eu queria era ver meu pai uma última vez e enterrá-lo. Olhei para o celular em cima do criado mudo e fiquei imaginando porque minha mãe e minha irmã não tinham me ligado.
A policia conseguiu encontrar meu celular e me trouxe a mais ou menos três dias. Olhando para o celular eu vi ele vibrando. Era uma ligação do Dr. Bryan. Meu psicólogo. Tinha ignorado algumas ligações dele, mas já que estava sozinho todos esses dias decidi atender.
- alô.
- Mason Loudorn?
- ele mesmo.
- que bom que você atendeu.
- o que foi? Aconteceu alguma coisa?
- não. Eu só quero saber como você está?
- como acha que estou?
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Deus Americano
RomanceApós um grave acidente, Mason perde a memória e se vê lutando para redescobrir sua identidade. À medida que fragmentos sombrios de sua vida passada começam a emergir, ele sente um profundo desprezo pelo homem que costumava ser. Em meio a essa turbul...