6. ODISSEIA

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Nim e eu andamos até o cercado ao lado do chalé, passando pelo portão de madeira. O cavalo castanho-avermelhado e a égua branca presentes no local não demonstram qualquer sinal de que se importam conosco, permanecendo serenos no mesmo lugar.

— Este é Elliot — diz Nim, acariciando a crina do cavalo, e, virando-se para a égua, afaga seu focinho —, e esta é Melia.

Antes que eu pergunte, ele interpreta meu olhar e explica:

— Diminutivo de Amelia.

— Você e seus diminutivos — murmuro com os lábios franzidos. — Quantos anos eles têm?

— Melia tem oito. Elliot tem seis.

— São castrados?

— Elliot é. Papai o comprou de um jóquei que estava se aposentando da profissão devido a uma lesão que sofrera no quadril. Vovó já tinha Melia desde antes de virmos morar com ela.

Faço carinho nos dois animais com uma mão no focinho de cada um. Ambos têm olhos escuros e crinas arrepiadas. As caldas espanam o ar e as orelhas se mexem mais ou menos a cada quinze segundos.

— Esses cavalos são normais ou também são mutantes assassinos? — pergunto com escárnio.

— São puros — responde Nim. Não deixo de perceber que ele trocou a palavra normais por puros. Parecendo pressentir a iminência de mais uma pergunta, ele cruza os braços, me olha sério e diz: — Me diga, Isaac, como você está se sentindo?

— Sinceramente, um pouco zonzo. Os cavalos...

— A enxaqueca? — continua ele, me cortando.

— Ainda está aqui, só que mais fraca.

Ele assente.

— É normal. Isso acontece com os neófitos.

— Por quê?

— Você acabou de cruzar um atalho para o outro extremo do universo.

— Ah — estupefico. Então não consigo mais me conter. — Como isso aconteceu? É tipo teletransporte? É científico? Eu atravessei um buraco de minhoca?

— Quantas perguntas... — Ele inspira devagar.

— Você me prometeu respostas — alfineto.

Ele enrola mais as mangas da blusa até elas formarem dois anéis perfeitos em volta dos bíceps salientes.

— Muito bem. Eis as suas respostas: não, não é teletransporte. Não é exatamente científico, não do jeito que está pensando. A ciência que você conhece é apenas uma gota de um oceano vasto e oculto. — Ele finaliza sorrindo convencidamente.

— Nada de buracos de minhoca?

— Nada de buracos de minhoca.

Viro os olhos para o céu anêmico. Desse ângulo, as nuvens parecem listrá-lo com faixas largas.

— O que é esse mundo, Nim? — Depois de meditar, adiciono: — O que é Halel?

Ele demora cinco segundos para pensar numa resposta.

— Em termos técnicos, é um planeta, assim como a Terra.

— Então seria possível vir para cá numa nave espacial?

Ele não segura uma risada. Sinto minhas bochechas esquentarem.

— Foi uma pergunta tão idiota assim?

— Desculpe. — Ele tosse. — Halel não... não pode ser encontrada. Você poderia vagar por todo o universo e jamais iria vê-la.

— É um planeta invisível?

Neblina - Livro IOnde histórias criam vida. Descubra agora