15. MISSÃO

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— Você viu se Mei e os amigos dela passaram por aqui?

Ao som da minha voz, os ombros de Nim enrijecem junto ao encosto do banco, e ele olha para seu rosto refletido no vidro temperado da janela.

— Nim? — chamo novamente. — Você me ouviu?

— Ouvi, sim — resmunga ele, sem tirar os olhos da janela.

— E?

Ele faz um muxoxo.

— E não, eu não vi essa Mei passar por aqui. Nem os amigos dela... — Ele para pensativamente. — Os seus amigos. Talvez eles tenham ido para outro vagão.

Fico encarando-o sem reação por um momento, até que não consigo mais conter uma risada.

— Você está mesmo com ciúmes, não é? — Divirto-me com a ideia.

Ele fica em silêncio e permanece aferrado em sua recusa de olhar para mim, o que só torna mais difícil segurar o riso. Esse é o um lado de Nim que eu ainda não havia conhecido, o Nim ciumento.

— Sabe que só tenho olhos para você — gozo, cutucando sua perna com meu pé por baixo da mesa.

Ele grunhe baixinho, ranzinza, mas parece lutar contra o impulso de rir.

Também olho para a janela. Faz quase meia hora que deixamos a Cidade das Roseiras e mergulhamos no mais profundo negror. As nuvens escuras que vi mais cedo transformaram-se numa tela densa e impenetrável. Agora tudo que vejo na lateral do trem quando os relâmpagos se acendem por trás das nuvens carregadas é o muro verde da floresta, que é pontuado por pequenas notas de cor proporcionadas pelas flores.

— Quanto tempo até chegarmos ao Bosque de Verão? — pergunto casualmente.

— As viagens de trem entre bosques vizinhos duram, em média, oito horas.

Oito horas? — engasgo, minha voz subindo uma oitava. — Isso é muito tempo!

— Que é que eu posso fazer? — Ele levanta os ombros.

Afundo mais ainda no banco, fazendo os cálculos de cabeça. Oito horas de viagem, menos a meia hora que já passou... Serão mais quatrocentos e cinquenta minutos que vou ficar com o traseiro colado aqui.

Mas que maravilha.

— Ao menos eu tenho isso para me distrair. — Levanto enfaticamente o Elucidário Haleano que Anna me deu.

— Eu estou aqui também — diz Nim. — Sei ser uma boa distração quando quero.

— Humm, obrigado, mas eu prefiro ler.

— Enjoou de mim bem rápido — alfineta ele.

Solto a respiração com os lábios retorcidos.

— Vê se cresce.

Abro o livro bem no mapa. É idêntico ao que Bruce me mostrou no Elucidário da Catedral Primaveril, só que este está bem mais nítido, com todos os traços e todas as palavras gravadas firmemente no papel.

— Pode me explicar agora? — Viro o Elucidário para Nim, mantendo-o aberto no mapa do final do livro — o mapa que está completo — e indicando a Ilha dos Letíferos. — Por que ninguém atravessa o Mar do Crepúsculo?

Ele cruza os braços e ajeita a postura.

— Não é você que prefere ler? Tudo que quer saber está escrito aí.

— Onde?

Ele coça o queixo.

— Não sou bom em decorar capítulos, mas sei que aconteceu depois que Dalen derrotou o diabo-espinhoso.

Neblina - Livro IOnde histórias criam vida. Descubra agora