Corro pelas árvores, imaginando o pior. Meus pés mal tocam o chão enquanto galhos e folhas passam por mim como borrões. O som do rio à frente se mistura com o pânico pulsando em meus ouvidos. Cada sombra entre as árvores parece esconder um perigo iminente.
Quando chego à beira do rio, ofegante, Mei está lá, trêmula e pálida como cera, andando de um lado para o outro no barranco. Seus olhos estão arregalados e ela murmura palavras inaudíveis, parecendo estar em transe.
Nim está sentado à raiz da mesma árvore onde descansei horas atrás. Ele possui uma postura derrotista, mas levanta a cabeça quando percebe minha presença. Seus olhos, que primeiro brilham com alívio por me rever, rapidamente escurecem em desespero.
— Você apareceu — ele diz. Não há emoção em sua voz.
— Eu... Eu estava... Eu precisava...
Ele levanta a mão para dispensar minha tentativa patética de justificar minha ausência no acampamento.
— Esqueça isso. Temos novos problemas agora.
Estou tão atordoado que nem ligo mais para o que Hearley me contou no refeitório. Minhas palavras saem quase automaticamente.
— Eu vi o Encantador.
Nim assente lentamente.
— Nós também.
— Ouvi um grito — continuo, minha voz entrecortada. Ele aponta os olhos para Mei, que ainda anda em círculos, esfregando as mãos nos braços e murmurando de forma incompreensível. — Onde está Chen?
Nim baixa a cabeça e fixa os olhos no chão, recusando-se a responder. Mas seu silêncio é mais eloquente do que qualquer palavra.
Minhas exigências vacilam com o súbito entendimento do que se passou aqui.
Passo por Mei e ponho-me em frente a Nim, respirando fundo para tentar estancar o negror corrosivo que mais uma vez se instalou em meu peito.
— Para onde?
— Para onde você acha? — Ele suspira.
Sacudo a cabeça, tentando afastar os pensamentos sombrios.
— Não pode ter sido para a ilha. Pelo menos... não ainda.
Ele franze a testa.
— Porque não?
— É melhor falarmos disso em particular — digo em voz baixa, espiando Mei de esguelha.
— Está tudo bem. Mei não é uma ameaça. Podemos confiar nela.
Franzo o cenho, surpreso com a defesa inusitada.
— Você, defendendo Mei? — Arqueio uma sobrancelha.. — O que foi que eu perdi?
Ele suspira novamente, dessa vez com um toque de exasperação.
— Estivemos em companhia um do outro no hospital enquanto você estava desacordado. Ficamos caminhando pelo bosque à sua procura nas últimas quatro horas. Tivemos muitas oportunidades para conversar e nos acostumar um com o outro.
— Tá, mas Hearley...
— Eu sei. Ela me contou o que ele falou pra você — interrompe-me. — Assuntos da minha família são sempre difíceis.
Se tivéssemos nos esbarrado horas atrás, eu certamente ficaria furioso com ele e faria questão de manifestar isso. Agora, essa questão não está mais no topo da minha lista de preocupações.
— Se quer saber — digo —, no seu lugar eu também deixaria isso enterrado.
Ele solta um riso amargo.
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Neblina - Livro I
FantasyEm um canto distante no universo, oculto no plano imaterial, um mundo marcado por um vasto continente dividido em quatro bosques é governado pelo filho do Criador. Seus habitantes, dotados de dons elementais, vivem em paralelo com o Mundo Sombrio. N...