capítulo 3: Os ermos de Tatooine

84 14 0
                                    

– Você vai perder.
Um garoto falou zombando de outro.
– Não, não vou.
O mais novo retrucou, cruzando os braços.
  Enquanto Anakin observava, ele escutava o barulho dos pilotos de diferentes cantos da Galáxia desfilando pelas ruas como verdadeiros campeões. E eram mesmo. Em Tatooine as corridas de Pod eram um grande acervo de economia. Muitas corridas patrocinadas principalmente por Jabba – um alienígena corpulento e com formato de lesma–, a despeito da vontade da República.
O calor estava mais intenso, porém a cidade permanecia movimentada devido às competições. Anakin achava tudo aquilo fascinante, sempre almejando ser o melhor piloto do universo. Ria-se consigo mesmo, pensando: "Imagina só, um escravo se tornar o melhor piloto? Mas de fato, eu sou o melhor."
— Eu apostei no melhor corredor.
Ele escutou as crianças recomeçarem a discussão.
— Aposte o que quiser, quando crescermos, serei o melhor corredor e você vai perder.
— Você não vai ser o melhor, eu serei!
— Você vai perder, Grant. - provocou o outro.
– Pelo menos eu tenho dinheiro. Posso tentar ser um campeão, ao contrário daqueles que não tem.
Anakin prendeu a respiração já prevendo o comentário seguinte.
— Bem, pensar que um "sem dinheiro"... um escravo, melhor dizendo, pensa em ser piloto, é verdadeiramente engraçado.
Os dois meninos desataram a rir. Grant, como todas as crianças nascidas livres, adorava caçoar das que eram escravas. A inocência parecia escapulir até mesmo dos mais jovens. O mundo parecia cada vez mais perdido.
— Calem a boca, seus idiotas.
A risada dos dois garotos aumentava.
– Se não pararem, vou mostrar a vocês que dinheiro não compra talento para brigar. Querem isso ou vão correr para seus pais?
Os dois meninos imediatamente calaram a boca, arrumaram desculpas e saíram correndo pela areia.
– Imbecis.
– Você está muito estressado, Anakin.
Ele dirigiu seu olhar para a mãe, que se  apoiava na pilastra desgastada ao seu lado. Shmi, de cabelos castanhos e pele cansada, sempre aparentava estar exausta. No entanto, nunca deixava de sorrir para o filho, tampouco de abraçá-lo e demonstrar o quanto o amava. Shmi era uma mãe excepcional, apesar de achar que não conseguia ser a melhor devido às circunstâncias em que viviam. Ela era nitidamente uma mulher castigada pela areia, mas que insistia em se mostrar amável.
– Desculpe, mamãe. Mas foi merecido.
Ela afagou os cabelos do filho.
–Mas me diga, o que está fazendo aqui fora? Deveria estar dentro cumprindo suas tarefas. Se não terminar antes do anoitecer, vamos receber uma repreensão.
– Eu sei. Só estava observando os competidores. Chegaram mais cedo desta vez, faltam ainda duas semanas para a corrida.
– Então devem ser os melhores entre os melhores, pelo que parece.
  Os inúmeros seres da galáxia, os corredores, trocavam palavras em voz alta, ao mesmo tempo em que se sentiam intimados. Os espectadores se entusiasmavam e debatiam.
– Mal posso esperar pela chegada da grande corrida.
– Não fique tão agitado, meu amigo. Apostou no errado.
– Silêncio, não entende nada.
Havia uma grande agitação nas ruas. Às vezes, aquele fim de mundo parecia habitável.
– Notei que os corredores deste ano parecem mais rápidos, bons lucros vêm por aí.
Shmi virou-se para o filho, que ainda prestava atenção na conversa dos apostadores que estavam ali na rua.
– Entre, querido. Temos muito o que fazer.
– Sabe que um dia sairemos daqui, não é? Iremos para fora deste planeta voando, mãe.
Shmi sorriu para ele.
– Eu sei, querido. Eu sei.
E ela logo voltou para dentro. Anakin se espreguiçou, respirou fundo e entrou.
Algo lhe dizia que aquelas semanas seguintes seriam diferentes. E o fio enrolado em seu coração deu um puxão aquecido.

𝙁𝙤𝙧 𝙮𝙤𝙪 - 𝐀𝐧𝐚𝐤𝐢𝐧 𝐒𝐤𝐲𝐰𝐚𝐥𝐤𝐞𝐫Onde histórias criam vida. Descubra agora