Capítulo 23: Pesadelos em meio a calmaria

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– Mãe!
Anakin respirava profundamente.
Sentia-se tonto. Estava sentado na cama, com a cabeça apoiada nas mãos - que repousavam sobre seus joelhos.
Ainda era de madrugada, o céu estava escuro. O suor escorria pelas suas costas nuas, já que estava sem camisa.
Ergueu-se, apoiando-se na estante ao lado da cama. Piscou algumas vezes, tentando focalizar a vista na escuridão do quarto, iluminada apenas pela luz da lua que se infiltrava pela janela.
Ele enxugou as mãos suadas na calça, recostando-se na parede e respirando fundo uma vez mais, concentrando-se na porta de conexão que levava ao quarto ao lado, onde Padmé dormia.
Ela estava bem. Ele sentia que ela estava bem.
Cambaleando de vez em quando, Anakin seguiu para fora do quarto, pegando uma blusa que estava sobre a cadeira.
Caminhou até a extensa varanda da residência e contemplou o horizonte de Naboo. O céu escuro parecia saber dos pesadelos do jovem.
Fechou os olhos, com medo de reviver as cenas que envolviam sua mãe.
Ele doía por dentro.
Precisava salvá-la. Sua mãe precisava dele. A mãe que tanto o ama. Aquela que lhe transmitiu ensinamentos valiosos e o motivou a perseguir seus próprios sonhos. Deveria ter desobedecido Obi-wan e ido visitá-la. Garantir que ela estivesse segura, e até mesmo tirá-la de lá o mais rápido possível. Nunca se perdoaria por ter ignorado isso. Por não ter agido imediatamente. Sentiu-se ingrato. Inútil. Miserável.
Deveria tê-la resgatado de Tatooine.
Quando recordava os gritos desesperados dela em seus pesadelos, sua garganta apertava e os olhos se enchiam de lágrimas.
Após algumas horas, ele começava a perceber os suaves raios de sol iluminando a varanda onde se encontrava. Em seguida, foi invadido por um doce perfume, que reconhecia prontamente. Uma essência forte e acolhedora. Gentil e radiante.
Padmé acabara de despertar e já estava ali, naquela mesma varanda. Ele conseguiu notar os passos tímidos e cuidadosos da moça se aproximando, que subitamente mudou de ideia e retrocedeu.
– Não vá.
– Não queria perturbar você. -ela respondeu, baixinho.
– Sua presença me acalma.
Padmé retornou, aproximando-se novamente. Ela tentava se mover sem fazer barulho, evitando distraí-lo.
Ela não tinha ideia, mas sua simples existência já o desconcentrava.
– Teve um pesadelo, não foi?
Anakin engoliu em seco.
– Um jedi não tem pesadelos.
Ele ouviu padmé dar mais um passo.
– Eu ouvi você.
O rapaz sabia que não conseguia enganá-la. Sentir a presença dela ao seu lado, quase roçando pele com pele, o acalmava. Quase o fazia esquecer o que o perturbava em seu sono. Lentamente, virou-se para encará-la. Padmé vestia uma camisola de seda com alças finas. Por cima, um roupão escuro desalinhado, que deixava seu ombro à mostra. Seus cabelos castanhos estavam inicialmente presos, no entanto, algumas mechas teimavam em se soltar do simples penteado.
Anakin sentiu o impulso de desviar o olhar, pois as lembranças dos acontecimentos de dois dias atrás ainda estavam vívidas em sua mente. Desejava acariciar o rosto dela, beijar sua face, abraçá-la e sentir seu calor. Sentir-se seguro.
Era evidente que ela estava preocupada com ele.
– Eu vi minha mãe.
A senadora arregalou levemente os olhos, demonstrando aflição com uma leve ruga de preocupação franzindo sua testa.
– Ela está sofrendo, Padmé. Consegui vê-la como estou vendo você agora.
Anakin inspirou profundamente. A lembrança de sua mãe em sua mente o levava a querer expressar suas emoções em gritos e lágrimas. Um jedi não deveria se permitir tais reações. Não seria adequado nutrir sentimentos de raiva e desespero. Ele se amaldiçoava internamente. Não era correto. Não era.
– Está em grande agonia. -continuou.
Olhando para Padmé ao seu lado, ele concentrou sua atenção em cada detalhe dela. Era necessário acalmar-se. Ela emanava serenidade e paz, uma existência plena, e aos poucos seu coração se aquietava. Respirou fundo mais uma vez.
– Eu sei que vou estar descumprindo minha missão de protegê-la, senadora, mas eu tenho que ir. Eu tenho que ajudá-la.
– Eu vou com você.
Ele se amaldiçoou novamente. Estava colocando-a em perigo, porém secretamente desejava levá-la consigo, pois sabia que poderia protegê-la. Sabia que ela queria ir.
– Me perdoe, mas eu não tenho escolha. -anakin falou.
– Está tudo bem. Não fique se desculpando.
Padmé segurou sua mão com ternura. Fitou seus olhos com delicadeza.
Ela ansiava abraçá-lo, mas hesitava.
Ambos eram um mar de incertezas desejosas. Um turbilhão de incertezas intensas. Um mar de decisões difíceis. Um oceano de paixão e amor.
Ela não sabia mais o que fazer.
– Vamos achá-la, Anakin.
Podia ver o quanto ele tentava se manter forte. Resoluto. Firme.
– Vamos achá-la. -ela repetiu.

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  Na calada da noite, Padmé entrou na nave juntamente com Anakin. Eles optaram por manter o silêncio para não causar alvoroço, avisaram alguns funcionários, aguardaram o anoitecer e partiram de Naboo.
Ela percebeu que Anakin estava exalando preocupação e tristeza.
Seu coração se partia.
Após algumas horas de viagem, ela observou o padawan mexer em alguns controles e, enfim, sair da cabine de comando da nave.
Ele parecia exausto.
Ela sabia que a cabeça dele estava uma bagunça. O rapaz seguiu em direção à sala principal onde ela estava e sentou-se num sofá no canto. Apoiou a cabeça na parede, fechou os olhos, cruzou os braços à frente do corpo e suspirou.
Padmé olhou de relance para R2-D2 ao seu lado e engoliu em seco. Desejava dizer tantas coisas a Anakin, mas não sabia como. Queria confortá-lo. Mostrar-lhe que estava ali presente. Que sempre estaria ao seu lado.
– Você deveria descansar, princesa.
O susto tomou conta dela ao ouvir a voz do padawan. Ele parecia tão cansado que ela pensou que estivesse dormindo.
– Eu não estou com sono. Mas você... devia mesmo descansar.
Anakin ficou em silêncio, sem responder. A senadora se perguntou se ele realmente seguiria o conselho, já que permaneceu calado por longos minutos.
R2 saiu, dirigindo-se à cabine de comando, mencionando que alguém precisava garantir que tudo estava bem lá.
Padmé se levantou e foi até o sofá onde o padawan estava sentado. Ela ficou na frente dele, observando-o atentamente.
Pensou em pegar um cobertor para ele. O ambiente estava frio. Bem diferente de Tatooine, ela recordou.
Lembrou da conversa que tiveram muitos anos atrás. Isso a fez sorrir genuinamente.
– Você me acha mesmo atraente, não é?
Ela saiu de seus devaneios ao focar em Anakin ainda sentado, com os olhos abertos e as sobrancelhas levemente arqueadas. Diante do comentário, percebeu que ele parecia mais tranquilo agora.
Um alívio percorreu seu corpo inteiro.
– Está sorrindo e olhando para mim.
Ela quis lhe dar um tapa, mas apenas cruzou os braços.
– Você é muito bonito, sim. Não me espanta ter tantas jovens atrás de você.
Anakin pareceu surpreso. Padmé teve vontade de rir. Parecia que ele não esperava esse comentário vindo dela.
– Fala como se não fosse intitulada a mais bela joia do universo, superando Naboo. -ele murmurou.
– Ficou sem jeito, Ani?
– Não. -ele respondeu imediatamente.
Ela soltou uma gargalhada.
– Até parece que você não recebe elogios frequentemente, não é mesmo? -disse Padmé.
– Recebo. Mas não são os seus.
Ela corou. O jovem aprendiz sorriu, sentindo-se vitorioso. Porém, logo em seguida, ele passou as mãos pelo rosto e respirou fundo.
– Quer ir descansar? Posso ficar de olho na nave.
O aprendiz olhou para ela mais uma vez.
– Não estou cansado.
– Você não consegue mentir. -ela afirmou.
Anakin soltou um riso fraco.
Aquele cenário deprimente parecia romântico: o espaço vasto e misterioso do lado de fora da nave, como um baile cósmico onde as estrelas dançavam ao som do silêncio infinito.
Padmé passou as mãos pelo tecido claro de seu vestido simples e voltou a olhar para o rapaz.
– Obrigada por estar aqui. -ele falou mais baixo.
Padmé sorriu. Seu coração estava quente.
– Sempre vou estar.
Anakin envolveu a cintura dela e a puxou suavemente para mais perto. Com a cabeça na altura de sua barriga, ele encostou nela permitindo-se fechar os olhos novamente.
Padmé acariciou os cabelos dele com os dedos. Anakin era real para ela. Totalmente real. Mostrava tanto sua felicidade quanto sua tristeza; mantinha-se forte, mas também revelava seu lado vulnerável. Ambos sabiam que só mostravam sua verdadeira essência um para o outro.
Ela deslizou as mãos pelos ombros dele cobertos pelo tecido de seu uniforme. Seus músculos estavam tensos.
Ela logo voltou aos cabelos dele novamente. Acariciou, passando as mãos com delicadeza e amor.
Desejando permanecer naquele momento para sempre. Naquele lugar silencioso e vasto.
Mas ainda assim, íntimo para eles.
Não havia necessidade de palavras, apenas um entendimento profundo.
Afinal, eram almas entrelaçadas, só não tinham coragem de dizer isso em voz alta.

𝙁𝙤𝙧 𝙮𝙤𝙪 - 𝐀𝐧𝐚𝐤𝐢𝐧 𝐒𝐤𝐲𝐰𝐚𝐥𝐤𝐞𝐫Onde histórias criam vida. Descubra agora