Correntes D'água.

Sob o Véu da Tensão

Stanford rasgou as roupas de Will, deixando à mostra suas costas, inteiramente coberta por cicatrizes altas e arroxeada pelas chicotadas. Stanford pegou uma faca de seu bolso e cortou as costas de Will, de novo e de novo.

Will não pôde deixar de emitir sons, resmungos gemidos de extrema dor. Ele apertou os punhos com força, tentando suportar a dor que sentia com suas costas sendo rasgadas, mas não conseguia nem mesmo segurar as lágrimas que queimavam seus olhos.

Sua cabeça rondava o pensamento triste, do por que isso estava acontecendo com ele, era apenas para descontar a raiva? Ele só podia aceitar em silêncio para que o problema não piorasse, mas estava bastante confuso com as agressões.

Mabel deu um sorriso mais doentio para a cena, e Dipper olhava de maneira apática, mas não sentia a necessidade de estar vendo isso.

Ford permaneceu em silêncio, suas mãos firmes e decididas enquanto rasgava as costas de Will. O cheiro metálico do sangue começou a se espalhar pela sala, criando uma atmosfera ainda mais opressiva

- Eu realmente não entendo o que está acontecendo entre vocês. Viram o estado em que deixaram a tenda? Vocês têm ideia do prejuízo que causaram? Claro que não, vocês só pensam em gastar sem se preocupar com as consequências. - Ford parou para chutar Will, que estava no chão, antes de continuar. - Essas brigas precisam parar! Destruir a tenda foi a gota d'água. Quem começou a briga?

Dipper apontou para Mabel, que olhou para ele perplexa

- O que?! Não é nada disso, esse incompetente me insultou, e eu não ia deixar isso barato! - Colocou as mãos na cintura, com expressão indignada, além de sua voz desesperada com tom de indignação.

- Talvez isso não teria acontecido, se você não estivesse reclamando a cada show que fazemos! - respondeu Dipper com um tom de raiva na voz defensiva e provocativa.

- Vocês estão sendo uma completa perda de tempo, do meu tempo! O que diabos acontece com vocês?! - Fincou a adaga nas costas de Will, que gritou em horror, trêmulo, com seu sangue escorrendo pelo chão escuro.

- Vocês só brigam o tempo todo, como vão deixar uma imagem boa?! Como seu irmão vai ter uma imagem boa com a cicatriz que você deixou nele? - Arrancou a adaga das costas de Will e apontou a adaga ensanguentada para Mabel

- Humpf, talvez ele pare de ser tão exibido agora. - Cruzou os braços de cabeça levantada e nariz empinado.

- Como você é irritante! - Gritou em raiva, apertando os punhos afundando as unhas nas palmas da mão. Respirou fundo e arrumou sua pedra preciosa no colarinho - Se não fosse pelo Will, que me desestressa, eu não sei o que seria de mim e nem de vocês dois. - Apoiou o pé nas costas flagelados do demônio que deu um gemido baixo de dor, com o corpo trêmulo.

- Mas vocês não podem continuar colocando tudo nas costas dele como se fosse nada. Vocês... você, Mabel, tem que começar a controlar seus nervos. E você acha que deixarei-a impune disso? - Ameaçou a garota, encarando os olhos dela, que devolveu a intimidação.

Mabel ainda de braços cruzados, relaxou seu rosto parecendo um pouco tensa agora, não sabia o que lhe esperava.

Ford caminhou até a jovem e retirou sua tiara, a garota gritou espantada

-VOCÊ NÃO PODE FAZER ISSO! - gritou ela, pulando para alcançar a pedra preciosa, mas falhando devido à altura de Ford.

- Você virá ao meu escritório! - Apertou fortemente o amuleto, o quebrando em suas mãos, isso fez Mabel olhar para Ford em choque.

- Vamos. Will, cuide do ferimento de Dipper, e pare de chorar, já está me dando nos nervos. - Puxou o braço de Mabel, que resmungou de dor, a puxando direto para outro cômodo.

Will respirou fundo e se apoiou na mesa para se levantar, sentindo suas costas arderem como se estivessem em chamas. Levantou seus olhos inchados, encontrando-se com os de Dipper, que o olhava de maneira neutra, porém os olhos azulados do jovem mestre penetraram os de Will.

- Eu não acho realmente que ver isso foi necessário - disse olhando para Will que estava com a postura fragilizada.

Will fechou os olhos com força, usando a pouca magia que tinha para fechar aqueles cortes mais profundos, enquanto Dipper se sentava no sofá, observando os movimentos do garoto.

William endireitou a postura e foi até a cozinha. Pegou um pano molhado e alguns remédios antes de voltar e se sentar ao lado de Dipper.

- Não vai colocar uma camisa? - perguntou Dipper, cruzando os braços e olhando de canto para Will, que corou ao lembrar das roupas rasgadas.

- D-desculpe... Seu t-tio acabou r-rasgando-as. M-mas se quiser que eu... - Foi cortado pelo mestre.

- Não, isso vai demorar muito, e eu tenho mais o que fazer. Apenas agilize.

Will assentiu, suas mãos tremendo levemente ao tocar o rosto de Dipper. Will sentiu a pele macia do garoto, admirando a ausência de qualquer imperfeição, ele limpou o ferimento. O olhar neutro de Dipper se suavizou por um momento, e Will sentiu seu coração acelerar.

Várias vezes, ambos os olhares se encontraram, mas Will evitava-os sempre timidamente. Pegou uma pomada cicatrizante, passou no dedo e passou no ferimento, fazendo Dipper semicerrar os olhos em reação de dor.

- Desculpe, doeu? - perguntou o de cabelos azuis gentilmente, afastando seu dedo.

- Não foi nada, apenas continue - afirmou Dipper.

Will então, passou com mais delicadeza. Ao pensar um pouco enquanto cuidava do ferimento, o quão próximo estava de seu mestre, suas bochechas coraram ao terminar de cuidar do rosto do mesmo.

Dipper arqueou uma das sobrancelhas para Will - Que tipo de pensamentos fizeram você ficar vermelho assim? - questionou, Dipper

Will o olhou de maneira confusa, apertando suas próprias bochechas enquanto escondia um sorriso tímido - Oh, não! É alergia...

Ele se levantou, virando-se de costas para guardar as coisas, mas Will sentiu o toque gelado dos dedos de Dipper em suas costas quentes. Um arrepio percorreu sua espinha, misturando dor e um estranho conforto

- Parece que seus poderes estão se tornando mais fracos, e se você não cuidar disso, vai pegar uma infecção - Will achou por um momento que o jovem mestre estivesse preocupado.

- O-o quê? Não... eu... acho que consigo cuidar disso sozinho. - Abaixou a cabeça com seu cabelo caindo em seu olho e não pôde evitar se perguntar como alguém tão perfeito podia se importar com ele.

- Deixe que eu cuide disso para você, o que Stanford fez não foi justo, deixe-me recompensar pelo que os atos de Mabel fizeram com você. - Puxou o balde de água das mãos de Will, que o fez olhar para Dipper com olhos tímidos.

- J-jovem mestre, você não precisa cuidar de mim, eu sei fazer isso sozinho... não precisa sujar suas mãos - Manteve a cabeça baixa e olhos para o chão.

- Você não teria escolha de qualquer maneira. Deite-se de costas para cima, William. - Ordenou, apontando para o sofá.

Will olhou para o apontado e depois para Dipper, tirando sua franja do rosto, Will corou e mordeu seu dedo fortemente, com suas mãos suadas, estava nitidamente nervoso.

- Não me faça esperar. - Encarou Will com olhos penetrantes e hipnotizantes.