Acertos.

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[Will pov]

Assim como dias se passam rápidos, meses se passam como relâmpagos. Vai fazer seis meses que estou servindo a mansão Gleeful, servindo como um miserável. Todos os dias é uma experiência diferente, se não, horrível. Não consigo descrever o ódio que eu tenho guardado por cada um deles, o rancor que sempre vou guardar, até o dia da minha morte.

Sofro agressões, torturas, humilhações e decepções diferentes todos os dias. Eles abusam de mim de todas as maneiras que você consegue imaginar. Como sou um demônio agora, fica mais fácil para eles me machucarem sem se preocupar em cuidar das minha feridas, já que agora meus poderes evoluíram bastante. Mas em compensação, eles sugam minha energia, me deixando limitado para usar qualquer tipo de poder que eu tenha. Sou como uma fonte de poder extra para eles.

A cada dia, eu tenho me traumatizado cada vez mais com tudo o que eles tem feito. Não consigo nem dizer uma frase sem gaguejar, e eles odeiam isso. Não consigo olhar nos olhos de ninguém agora. Minha garganta está machucada, está dolorida de tantos berros que já dei, está machucada por todos os abusos que já passei. Talvez eu precise de uma terapia especial, para me destraumatizar e tirar esse rolo de fios no peito e na garganta, que já não bastava não me deixar respirar, agora não me deixa falar.

Já perdi as contas de quantas vezes eu morri e revivi, já que agora sou imortal. Depois que você morre, um filme da sua vida passa pelos seus olhos. Eu consigo ver minha mãe, ela virou saudade. Ela sempre teve o olhar distante e triste, talvez seja a consequência da esquizofrenia que ela desenvolveu ao ficar com meu pai. Às vezes, eu perguntava para ela: "O que foi mamãe? Você está triste?", com aquela voz fina de criança de cinco anos, ela sempre me olhava com um sorriso, e dizia que estava tudo bem.

Eu não acreditava, mas tinha que acreditar

Mas as memórias vão com o tempo, se desfazem. Queria ter essa sorte, minha memória é fotográfica, lembro-me de tudo, os mínimos detalhes de cada coisa que já vi e passei. Algumas lembranças me consolam, como meu irmão. Já não o vejo e nem tenho notícias suas a meses, não posso mais ficar no telefone pois me proibiram, e tiveram a certeza que eu não fosse mais mexer no telefone sem pedir, não posso arriscar desobedecer. Eu quero saber como ele está, não tenho nenhuma informação.

Ele é minha memória inconsolável.

Eu me sinto fraco, covarde e envergonhado, perante a vida e todos. Eu quero morrer. Razão? Tantas que seria impossível mencioná-las. Eu desisto de tentar. Desisto porque meu coração está tão triste, que eu não me acho no direito de ocupar mais espaço com esse corpo, que esmaga mais o que eu tenho de tão, tão frágil.

Quando minha mãe cometeu suicídio em frente ao Bill, eu cheguei na hora. Mas ele não deixou eu ver. Tudo o que eu vi, foi uma imensa poça de sangue no chão, que jorrava dos pulsos dela. Meu irmão ficou traumatizado e se envolveu com drogas naquela época e nos afastamos. Quando eu ia no quarto dele, ele estava alucinando, totalmente drogado. Talvez seja por isso que ele gostava, ele dizia que a mamãe estava viva, mas ela não estava.

Ele já teve várias overdoses, não sei como não morreu. Eu sempre achei que fosse um anjo da mamãe que o fazia reviver, mas era na época que eu acreditava em Deus, hoje, se realmente existir um Deus, ele vai ter que implorar pelo meu perdão, de não ter me salvado quando orei por ele.

Um dia, ele enlouqueceu e não parava de gritar o nome da mamãe. Eu fiquei com raiva e eu disse: "Ela tá morta, ela não volta nunca mais". Eu me arrependo. Depois disso nunca mais fomos os mesmos, já não éramos desde aquele dia.

De vez em quando, volto no tempo em que estava sendo vendido a esta família. Meu pai disse algo que me faz pensar.

[Flashback On]

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