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A sala era um reflexo da riqueza da família, decorada com móveis antigos e obras de arte valiosas. O tapete persa que cobria o chão de madeira escura parecia novo, embora claramente fosse uma peça de antiguidade. As paredes eram adornadas com painéis de mogno e pinturas renascentistas, criando uma atmosfera de opulência.

Então William deitou-se de barriga para baixo no sofá, ficando em silêncio, apoiando sua cabeça em uma almofada. Ele ouviu Dipper torcer o pano encharcado dentro do balde, e passar de maneira leve em suas costas, que estavam rasgadas, limpando o sangue que estava começando a secar.

O corpo de Will estremeceu, ele gemeu de dor e apertou a almofada com força. A dor que sentia era intensa e ardente, era como se estivesse deitando em ácido. Dipper acompanhou os sons que Will fazia, parecendo meio emburrado quando ele contorcia seu corpo.

- Não faça isso. Você está me atrapalhando - afirmou Dipper, afastou o pano molhado das costas do menor.

Will mordeu o lábio, os olhos marejados enquanto tentava conter as lágrimas. - Desculpe... - murmurou, a voz quebrada pela dor e humilhação.

Dipper observou com uma expressão de desdém antes de falar. - Vou precisar dar pontos nesses cortes. - disse ele, mergulhando o pano na água gelada, o som do tecido encharcado sendo torcido ecoando pela sala.

Will o olhou de canto, percebendo que ele olhava para o pano com um pouco de nojo, parecia estar se forçando para fazer isso.

- Jovem mestre, eu ainda posso fazer isso sozinho, quer dizer, eu ainda tenho magia...

- Sua magia é tão imprestável quanto você. Limitamos sua regeneração exatamente para que você não regenere seus ferimentos e fique sofrendo com os mesmos - a maneira que Dipper disse isso, foi com total frieza, isso deixou Will cabisbaixo.

- Você está sendo ingrato, estou aqui cuidando de você, e você está reclamando - Dipper continuou a conversa, passando o pano pelos ferimentos, conseguindo limpar quase todos.

- D-desculpe, argh! - Gemeu de dor - Eu não quero atrapalhá-lo, jovem mestre... - Disse de maneira fraca e baixa.

- Eu estou me disponibilizando - Dipper achava Will bonito. Achava-o bastante inteligente pelo tempo que conseguiram passar juntos na mansão.

Will passava a maior parte do tempo com seus gêmeos, era como se fosse a babá. Por mais que Mabel exigia mais atenção, Will conseguia ter um tempo com Dipper também, e isso facilitou ambos a se conhecerem melhor, mesmo que não fosse necessário.

Dipper observou que Will tinha gostos peculiares, igualmente a ele, isso os fez ter uma conversa mais profunda por um tempo, sobre os universos alheios do mundo. Dipper é um garoto observador, observou com facilidade a maneira que Will age perto dele e perto de Mabel, corando facilmente e ficando sem graça com aproximações sem sentido.

Isso era interessante para Dipper, gostava de ver as reações do garoto quando ficava tímido, por algum motivo. Por mais que Dipper sempre mostrasse um lado frio e bastante anti social, ele tinha seus lados bons e ruins. Ele gostava da maneira que o demônio se contorcia pela dor.

Dipper finalmente limpou a área dos cortes, e isso fez Will suspirar aliviado. Então com uma agulha e linha, Dipper fechou os maiores cortes de Will. Isso deixou Will desconfortável e bastante frustrado com a dor ardente, isso fez ele gritar na almofada em lágrimas.

Enquanto Dipper costurava as feridas de Will, ele não pôde deixar de reparar na tensão nos músculos do garoto e no modo como ele tentava, em vão, não se contorcer.

- Você é realmente dramático - disse Dipper, mas havia um toque de algo indecifrável em sua voz, algo que ele não deixava transparecer facilmente.

- Dramático? - Will arquejou, a dor transformando sua voz em um sussurro rouco. - Você não está com as costas em carne viva! - Seus olhos se encontraram com os de Dipper, uma mistura de raiva e súplica.

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