Encontros Inesperados

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O resto do dia passou em um borrão de tarefas e reflexões. Quando o sol começou a se pôr, preparei-me para o passeio com a jovem dama. Minhas mãos suavam enquanto terminava de ajustar a gola do sueter. Ouvi uma batida na porta do meu quarto.

- Está pronto? - A voz dela soou firme, mas havia uma suavidade inesperada.

- S-sim, j-jovem dama. - Respondi, saindo do quarto.

Ela me esperava no corredor, elegante em um vestido que misturava sobriedade e delicadeza. Caminhamos juntos até a saída, onde a limusine nos esperava. Entramos, no banco de trás, porém fiquei distante dela.

- Por que decidiu me defender? - A pergunta escapou antes que eu pudesse me segurar.

Ela olhou para fora da janela da limusine, seus olhos perdidos nas sombras da noite.

- Talvez porque, por um momento, vi em você algo que me lembrou de mim mesma. - Sua voz era um sussurro, quase inaudível.

O silêncio se instalou entre nós, denso e carregado de significado. Não precisei de mais palavras para entender que, naquela noite, algo mudaria entre nós, pelo menos era o que eu esperava.

Ao chegarmos ao shopping da cidade, a jovem dama guiou-me por dentro do shopping movimentado, suas mãos tocando firmemente meu braço para me conduzir. A cada loja que entrávamos, seu comportamento oscilava entre a confiança habitual e momentos de introspecção.

- Escolha algo para você. - Disse ela, parando em frente a uma vitrine de roupas.

- P-para mim? - Perguntei, surpreso.

- Sim, você só usa o mesmo sueter podre de sempre. - Ela olhou para mim cruzando os braços, mas eu sentia um pouco de gentileza.

Enquanto escolhia uma camisa, percebi que aquele gesto, por menor que fosse, talvez significava uma tentativa de mudança, de aproximação. Talvez, depois de tudo, havia esperança de que talvez ela quisesse ser... melhor? Me senti na obrigação de agradecer ela.

- O-obrigado, j-jovem dama. - Murmurei para ela, que me ajudava a escolher uma camisa que, segundo ela prestasse.

- Não precisa me agradecer, eu já estava pensando nisso a um tempo. Vamos ter um show na tenda semana que vem, e você vai participar, claro. Por isso você vai ter que nos ajudar com a coreografia. - Ela puxou um cabide que tinha uma camisa social azul bebê.

Eu não sabia desse evento; não estava no meu tablet. - V-vocês d-decidiram isso quando? - Perguntei, tocando uma outra camisa social, um azul mais escuro.

- Foi de última hora. O imprestável do Dipper nem foi capaz de atualizar sua agenda a tempo. Vai ser um grande show. - Ela bateu na minha mão quando me viu tocar aquela camisa.

Eu me assustei, mil coisas passaram pela minha cabeça traumatizada. Recuei a mão rapidamente, meu corpo tremendo. Ela me olhava, aparentemente indiferente ao meu desconforto.

- Tá maluco? Essa camisa é terrível, tem poucos fios e um deles está até saindo! - Apontou para um fio azul escuro que saia do lado da camisa. - Você entende alguma coisa de roupa?! - Colocou a mão na cintura, me olhando desacreditada.

Eu não sabia nada de moda. Podia ser um prodígio em outras áreas, mas nunca fui acostumado a me vestir bem. Neguei com a cabeça para a jovem dama, ainda assustado.

- Ugh, então parece que eu vou escolher uma roupa adequada para você. - Ela saiu caminhando pela loja, e eu corri para segui-la, tentando acompanhar seu ritmo acelerado.

Enquanto andávamos, minha mente voltava à sensação do susto anterior. Será que ela estava realmente tentando mudar? A jovem dama parou abruptamente, segurando outra camisa, desta vez um tom de azul claro.

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