48.🧸

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Bianca

Eu balançava minhas pernas incansavelmente, minhas mãos suavam e meu coração palpitava a cada segundo que passava. A médica tinha saído a pouco tempo pra pegar o resultado de alguns exames que eu tinha feito mais cedo. Senti as mãos do Gabriel parar nas minhas pernas e ele sussurrou um "se acalma". 

A médica passou pela porta e se antes eu estava nervosa, agora eu conseguia estar pior. Ela pegou os papéis os olhando e me olhou logo em seguida.

- Tenho notícias boas e notícias delicadas.- falou virando o papel pra mim - Antes de tudo, meus parabéns! A Bianca está grávida de nove semanas.

- Nove semanas?- Gabriel perguntou sem entender. 

- Dois meses, amor.- sorri animada e aliviada - Mas doutora, eu fiz vários testes de gravidez e nenhum deles deu positivo. Com dois meses já deveria ser possível ver.

- Então Bibi, é aí que vem a notícia delicada.- ela suspirou - Você foi diagnosticada com anemia falciforme e a sua pressão se tornou alta em um nível quase que grave, isso significa que talvez a junção precoce dessas duas coisas tenham feito com que a sua gravidez se tornasse silenciosa.

- E essa anemia, ela vai atingir nosso bebê? ele vai ficar bem?- perguntei nervosa.

- Amor, calma. Vamos esperar ela explicar melhor, tá bom.- Gabriel falou segurando minha mão.

- Infelizmente Bianca, a anemia vai sim atingir seu bebê, digamos que isso é quase inevitável, Mas vai ser em uma escala menor, hoje em dia temos alguns remédios e tratamentos que ajudam e auxiliam demais na gestação.- suspirei aliviada - Mas, em relação a você eu infelizmente não posso falar o mesmo.

A sensação de alivio se foi em questão de segundos, meu corpo tremia e eu sinto que até esqueci de como que se respirava.

- A anemia está te atingindo de uma maneira que teremos que passar a tratar desde agora para depois não perdemos o controle.

- Como assim?- o Gabriel questionou.

- A Bianca está em um caso no qual não sabemos ainda identificar o estágio e o grau de delicadeza, suspeitamos de que seja severa, caso estivermos certo...pode ser fatal tanto pra ela quanto para o bebê.

Por minutos a sala ficou em um completo silêncio, o Gabriel não ousou falar mais nada e pra ser bem sincera todo o semblante dele mudou. A médica tornou a falar dando algumas instruções mas confesso que nenhum de nós dois estávamos prestando atenção.

Eu não sabia e não tinha noção do tanto que isso é grave até ela falar a palavra: fatal.

Eu posso morrer. Meu bebê pode morrer.

Terminamos de pegar algumas instruções e alguns remédios para começarmos o tratamento. Marcamos a próxima consulta daqui a poucos dias e retornamos para casa. O caminho inteiro foi um silêncio total, quando chegamos em casa o Gabriel passou por mim subindo as escadas como se estivesse aéreo, tentando assimilar tudo que tínhamos escutado.

Vi a Rebeca passar pela cozinha, entregando a Helena para a babá, vindo de encontro a mim. Balancei a cabeça sentindo minhas bochechas molharem e ela me agarrou com um abraço. Novamente a sensação de medo e incapacidade tomou conta de mim, eu tinha em minhas mãos a melhor e a pior notícia e um conseguia afetar o outro. 

Por um lado eu tenho o meu bebê que até então está bem e até o momento sem risco.

De outro lado tem eu, nada bem e quase que completamente em risco.

Eu conseguia pensar em mim, na Helena, no Gabriel e no bebê. Como seria horrível eu os abandonar e afetar tanto eles, os fazendo sofrer e passar por um momento tão delicado. Não consigo mensurar nem imaginar as coisas que devem estar passando na cabeça dele nesse momento.

{...}

Eram por volta de três e quarenta da madrugada e eu não conseguia dormir de jeito nenhum. Com toda a situação a Rebeca pediu para que a Helena passasse essa noite lá com ela pra deixar com que nós descansássemos. 

Desde o momento em que chegamos do médico o Gabriel não falou nada, na verdade pela tarde ele se trancou no escritório e está lá até agora. Não conversamos, nem trocamos sequer uma palavra. Nunca essa casa ficou tão silenciosa.

Desci as escadas com cuidado já que a casa estava pouco iluminada, fui até o escritório vendo que todas as luzes estavam acessas e bati na porta. Em questão de segundos ele abriu com o semblante preocupado. 

- O que foi, aconteceu alguma coisa?- perguntou me olhando da cabeça aos pés como se estivesse me analisando bem.

- Não meu amor, estou bem. Só não consegui dormir e vim ver como você estava.- entrei e sentei junto com ele no sofá que tinha ali - Desculpa por fazer você passar por isso.

- Não Bibi, não pensa assim. Toda essa situação não está sendo uma escolha sua. 

- De qualquer forma, você não reagiu em nada desde que saímos de lá.- o olhei - Fico preocupada quando você fica muito quieto.

- Estou assustado, confesso e estaria mentindo pra você caso falasse o contrário.- percebi os olhos dele se enxerem de lágrimas - Tenho medo de te perder, Bibi. Não posso. Não suportaria.

- Você não vai meu amor, não vai.- segurei o rosto dele o voltando pra mim - Eu vou me cuidar direitinho, fazer todo o tratamento e cuidar do bebê.- o acariciei tentando trazer o conforto que normalmente é ele que me dá - Vamos ficar bem.

- Me promete que vai seguir tudo que a médica falar.- me olhou nos olhos, como se implorasse por isso.

- Prometo.- sorri tentando passar segurança pra ele - Até porque, tem outro alguém que agora depende de mim.

Ele sorriu me olhando. Desceu as mãos pela minha barriga a acariciando com os dedos. Por um breve momento eu consegui sentir a calma que tanto precisávamos, eu ainda estava assustada com toda essa situação, óbvio. Mas eu tenho nossos filhos, tenho o amor da minha vida ao meu lado. Tenho tudo que realmente preciso.

Eu tenho mil motivos pra viver, não seria por conta de uma coisa ruim que eu perderia tantas graças.

- É agora que eu começo a pirar?- ele perguntou sorrindo - Caralho, Lelê vai ser irmã mais velha.

- Eu acho que ainda tá muito cedo pra pirar, temos muitos filhos ainda por vir, você não pode surtar justo no segundo.- brinquei.

Ele se aproximou me dando um beijo delicado e breve. Ao nos afastarmos ele deitou com a cabeça no meu pescoço, passei uma das minhas mãos nos cachos dele enquanto a outra ficava por cima da sua mão que estava pousada na minha barriga.

- Vocês vão ficar bem, eu sei disso. - agora eu senti esperança na fala dele, o que com certeza, me trouxe esperança também.

Sunshine🧸• Gabriel Barbosa •Onde histórias criam vida. Descubra agora